pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: Artigos
Mostrando postagens com marcador Artigos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Artigos. Mostrar todas as postagens


Introdução

A expressão “abominável da desolação” ocupa um lugar de destaque tanto na literatura profética do Antigo Testamento quanto nos discursos escatológicos de Jesus registrados nos evangelhos sinóticos. Presente em Daniel (9.27; 11.31; 12.11), o termo carrega um peso semântico intenso, pois descreve um ato de profanação extrema no centro do culto israelita, isto é, no Templo de Jerusalém. Ao ser retomada por Jesus em Mateus 24.15, Marcos 13.14 e, de forma interpretativa, em Lucas 21.20, essa expressão ganhou bastante relevância como chave hermenêutica para a compreensão da queda de Jerusalém no ano 70 DC.

O objetivo desse texto é aprofundar a análise da expressão “abominável da desolação”, considerando o seu contexto veterotestamentário, a sua realização histórica na época de Antíoco IV Epifânio e, finalmente, a reinterpretação dada por Jesus à luz da destruição do Segundo Templo. Com isso, pretendo demonstrar que, de acordo com a perspectiva preterista parcial, o cumprimento total dessa profecia ocorreu na invasão romana. Entendendo isso, poderemos colocar de lado as projeções futuristas ligadas a um suposto Terceiro Templo ou a um Anticristo futuro.

 

O “Abominável da Desolação” em Daniel

No livro de Daniel, a expressão hebraica “abominação desoladora” ou “abominação que causa horror” aparece em contextos apocalípticos que falam da interrupção do culto a Deus e da profanação do Templo. Por exemplo, em Daniel 9.27, lemos sobre a cessação do sacrifício e da oferta. Em 11.31, Daniel menciona a abominação colocada no Lugar Santo. E em 12.11, o marco temporal de 1290 dias é associado a esse evento.

O termo “abominação” no Antigo Testamento é geralmente aplicado a práticas idólatras (cf. 1Rs 11.5-7; Jr 7.30), enquanto o termo “desolação” indica uma devastação ou ruína. Assim, a expressão sugere uma combinação de idolatria profanadora e devastação cultual, o que explica a sua gravidade diante de Deus e a sua centralidade na expectativa apocalíptica judaica.

 

O cumprimento histórico em Antíoco IV Epifânio

O primeiro cumprimento explícito dessa profecia ocorreu no ano 167 AC durante o domínio selêucida. Antíoco IV Epifânio, ao impor a helenização da Judeia, erigiu um altar pagão sobre o altar do holocausto e ali sacrificou um animal imundo (um porco) em honra a Zeus Olímpico (ou Júpiter, na interpretação romana). Esse ato representou o auge da profanação, pois uniu a idolatria com o desprezo absoluto pelo culto a Yahweh.

O livro de 1Macabeus (1.54-59) relata em detalhes a instalação dessa abominação e a perseguição subsequente aos judeus fiéis:

 

“No dia quinze do mês de Casleu, do ano cento e quarenta e cinco, edificaram a abominação da desolação por sobre o altar e construíram altares em todas as cidades circunvizinhas de Judá. Ofereciam sacrifícios diante das portas das casas e nas praças públicas, rasgavam e queimavam todos os livros da lei que achavam em toda parte, todo aquele em poder do qual se achava um livro do testamento, ou todo aquele que mostrasse gosto pela lei, morreria por ordem do rei. Com esse poder que tinham, tratavam assim, cada mês, os judeus que eles encontravam nas cidades e, no dia vinte e cinco do mês, sacrificavam no altar, que sobressaía ao altar do templo.”

 

Isso deu origem à revolta macabeia. Para a tradição judaica, esse foi o paradigma histórico daquilo que Daniel havia predito. Foi o momento em que o Templo foi transformado num centro de idolatria.

 

A reinterpretação de Jesus

Séculos mais tarde, Jesus retoma essa linguagem no Sermão Escatológico. Em Mateus 24.15-16, Ele afirma: “Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda), então os que estiverem na Judeia fujam para os montes”. Marcos 13.14 faz eco dessa mesma formulação. Mas é o evangelho de Lucas que traduz esse conceito para o leitor gentio de maneira muito mais clara: “Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei que é chegada a sua desolação” (Lucas 21.20).

É importante deixar claro que Jesus não nega o cumprimento passado da profecia nos dias de Antíoco. O Senhor dá um novo significado, apontando para o cumprimento pleno no horizonte imediato da geração do primeiro século (cf. Mt 24.34). Assim, o “abominável da desolação” passa a ser a chave para entendermos a tragédia de 70 DC, quando Tito, o general romano, cercou Jerusalém, devastou a cidade e destruiu o Templo.

 

A destruição do Templo em 70 DC

A queda de Jerusalém foi uma tragédia sem precedentes na história do povo judeu. O historiador Flávio Josefo relata em A Guerra dos Judeus a fome assoladora, os massacres e a completa ruína do Templo. Os sacrifícios cessaram definitivamente e a centralidade do culto levítico desapareceu. Nesse contexto, os romanos transformaram o espaço sagrado num palco de horror e blasfêmia. O estandarte imperial (símbolo pagão de Roma) foi erguido dentro do Templo. A abominação foi posta no Lugar Santo. Esse ato profano marcou o juízo divino anunciado por Jesus.

 

O debate futurista e a interpretação preterista

Enquanto algumas tradições cristãs (especialmente de vertente dispensacionalista) projetam o “abominável da desolação” para um futuro Anticristo e para a construção de um Terceiro Templo em Jerusalém, a leitura preterista parcial entende que essa visão não faz justiça aos textos sinóticos e ao testemunho histórico. Lucas substitui a expressão “abominável da desolação” pela frase “Jerusalém cercada de exércitos”. Isso, de fato, funciona como chave interpretativa e elimina as ambiguidades. Essa troca de expressões confirma que a profecia de Jesus teve sua realização no primeiro século. Além disso, a expressão “quem lê, entenda” de Mateus e Marcos é uma advertência para os discípulos daquele tempo. Eles deveriam discernir os sinais e fugir.

 

Conclusão

Portanto, o “abominável da desolação” alcança o seu cumprimento definitivo na queda de Jerusalém no ano 70 DC. A profanação do Templo pelos romanos representou o juízo de Deus sobre uma geração que rejeitou o Messias, conforme foi anunciado ao longo dos evangelhos sinóticos. Temos que evitar as leituras anacrônicas e futuristas que desviam o sentido do texto. Isso só é possível quando compreendemos a profecia à luz do seu contexto histórico. Deus cumpre fielmente a Sua Palavra. O juízo histórico de Jerusalém prefigura a realidade maior do Reino de Cristo, Reino esse que avança na história até a consumação final.


 

Introdução

Ao longo da história da Igreja, o estudo escatológico tem gerado debates intensos e muitas divergências entre os cristãos. Uma das questões mais discutidas diz respeito ao Milênio, mencionado em Apocalipse 20.1-6. Esse texto fala de um reinado de mil anos de Cristo e levanta perguntas importantes, tais como: a natureza desse reinado é literal ou simbólica? Ocorre antes ou depois da Segunda Vinda? E qual é o papel da Igreja nesse processo?

A partir dessas perguntas surgiram três grandes correntes milenaristas de interpretação: pré-milenismo, amilenismo e pós-milenismo. Cada uma delas oferece uma visão distinta sobre o futuro da humanidade, o destino da Igreja e a manifestação do Reino de Deus na história. O presente artigo busca apresentar, de maneira clara e fundamentada, os principais elementos de cada perspectiva, destacando os seus principais pontos, bem como os seus desafios.

 

O Pré-Milenismo

O pré-milenismo defende que haverá um período de Grande Tribulação na Terra que antecederá a Segunda Vinda de Cristo. Esse período será marcado por uma intensificação da maldade, liderada pelo Anticristo, descrito como “o homem da iniquidade” (2Ts 2.3-4). O Anticristo enganará multidões por meio de falsos sinais e promessas de paz (Ap 13.11-14), consolidando, assim, o seu domínio temporário sobre as nações.

Entretanto, segundo essa visão, a tribulação não terá a última palavra. O clímax da história ocorrerá com o Retorno glorioso de Cristo (Ap 19.11-16) que derrotará o Anticristo e os seus exércitos. Em seguida, Cristo estabelecerá o reinado milenar na Terra. Nesse período milenar, Satanás será preso e a maldade restrita (Ap 20.1-3). Os santos de Deus reinarão com Cristo e haverá uma manifestação inédita da justiça divina na Terra.

O pré-milenismo tem como “regra” a leitura mais literal de Apocalipse 20 e de passagens que falam sobre o triunfo visível de Cristo sobre os inimigos. No entanto, críticos apontam que essa perspectiva tende a enfatizar um futuro sombrio e uma visão pessimista sobre o curso da história antes da Segunda Vinda de Cristo.

 

O Amilenismo

O amilenismo, por sua vez, interpreta o Milênio de forma simbólica, entendendo que ele já está em curso desde a Primeira Vinda de Cristo. O reinado milenar não seria um governo terreno futuro, mas o reinado de Cristo no céu, juntamente com as almas dos que morreram em Cristo (Ap 20.4).

Segundo essa visão, o mal continuará existindo até a Segunda Vinda. Entretanto, ele jamais estará fora do controle soberano de Deus. Assim, o Reino de Deus e o reino das trevas coexistem nesta era presente, como ilustrado na parábola do joio e do trigo (Mt 13.24-30). A Igreja, nesse contexto, experimenta tanto o avanço do evangelho quanto a realidade da perseguição e da tribulação (Jo 16.33).

O amilenismo ensina que a história culminará com a Segunda Vinda gloriosa de Cristo, quando haverá a ressurreição, o Juízo Final e a consumação do Reino de Deus (Mt 25.31-46). Para os seus defensores, essa visão é bíblica porque preserva a centralidade da cruz e da ressurreição como o início da vitória de Cristo sobre o mal (Cl 2.15). Contudo, para os críticos, o amilenismo pode parecer uma leitura excessivamente simbólica e pouco otimista sobre o avanço do Reino de Deus na história.

 

O Pós-Milenismo

O pós-milenismo apresenta uma perspectiva distinta, marcada por maior otimismo em relação à história. Para essa visão, o evangelho é o poder de Deus para transformar não apenas indivíduos, mas também sociedades inteiras (Rm 1.16). À medida que o Evangelho de Cristo se espalha pelo mundo, o mal é gradualmente derrotado e a cultura é progressivamente moldada pelos valores do Reino de Deus.

Segundo os pós-milenistas, o mundo caminhará para um tempo de paz, justiça e prosperidade espiritual sem precedentes, o chamado Milênio. Esse período não significa ausência total de pecado, mas uma fase em que o Evangelho terá ampla influência sobre a vida social, política, econômica e cultural das nações (Is 2.2-4; Sl 72.8-11).

Somente após esse período de bênçãos ocorrerá a Segunda Vinda de Cristo, seguida da ressurreição geral de todos os homens e do Juízo Final. Essa perspectiva reforça a responsabilidade da Igreja em ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16), trabalhando pela expansão do Reino de Deus no mundo. Os críticos do pós-milenismo, no entanto, consideram essa visão demasiadamente otimista e questionam se o curso atual da história confirma tal esperança.

 

E quanto a você?

As três correntes escatológicas apresentadas — pré-milenismo, amilenismo e pós-milenismo — procuram responder à mesma questão: como Deus triunfará sobre o mal e estabelecerá o Seu Reino de forma plena? Cada uma delas apresenta argumentos bíblicos e históricos que merecem consideração e análise do estudante de escatologia. O pré-milenismo enfatiza a vitória visível e futura de Cristo sobre o mal. O amilenismo destaca a soberania de Deus em meio ao conflito presente. O pós-milenismo sublinha a eficácia do evangelho e a esperança de uma transformação histórica. Cabe a cada cristão refletir, à luz das Escrituras, qual dessas perspectivas se mostra mais fiel à revelação bíblica. Afinal, como exorta o apóstolo Paulo, devemos examinar tudo e reter o que é bom (1Ts 5.21).

 

Conclusão

A escatologia não deve ser vista como uma disputa teológica, mas como uma fonte de esperança e motivação para a vida cristã. Embora existam diferentes interpretações sobre o Milênio, todas elas convergem em um ponto essencial: Cristo retornará em glória, o mal será plenamente derrotado e o povo de Deus viverá para sempre com o Senhor. Portanto, ao invés de especular sobre detalhes futuros, a tarefa da Igreja é viver em santidade, anunciar o evangelho e aguardar confiantemente a consumação do Reino de Deus.

 

O livro "The Truth About the Rapture" [A verdade Sobre o Arrebatamento], de Gary DeMar, vai direto ao ponto e confronta a ideia popular de um arrebatamento secreto pré-tribulacional. DeMar mostra que muitas crenças sobre o arrebatamento não têm base nas Escrituras, mas vêm de tradições recentes e interpretações equivocadas. Ele começa mostrando como a visão pré-tribulacional do arrebatamento (aquela que ensina que os cristãos serão levados ao céu antes da Grande Tribulação) depende de suposições não encontradas no texto bíblico. A questão principal é se existe ou não uma separação entre a 69ª e a 70ª semana da profecia de Daniel.


Gary DeMar argumenta que essa separação é artificial. Segundo ele, a ideia de um intervalo de milhares de anos entre a 69ª e a 70ª semana não está presente no texto original de Daniel. Ele escreve: “O que muitos cristãos não sabem é que a visão do arrebatamento pré-tribulacional depende da separação da 70ª semana das outras 69 semanas e da inserção de uma lacuna atemporal (agora com quase 2000 anos)”. Em outras palavras, para que essa doutrina funcione, é necessário criar um “parêntese” que a Bíblia nunca menciona.


Além disso, DeMar questiona a ideia de que o livro de Apocalipse “esquece” da igreja após o capítulo 3. Muitos defensores do arrebatamento pré-tribulacional afirmam que a ausência da palavra “igreja” nos capítulos seguintes indica que a igreja foi arrebatada da terra. No entanto, isso é apenas um argumento baseado no silêncio. Não é correto usar isso para ensinar uma doutrina. Como ele afirma em sua crítica, a ausência da palavra não significa ausência da presença.


Um ponto central do livro é que nenhuma passagem bíblica descreve claramente dois retornos de Cristo: um secreto para a igreja e outro visível para o mundo. O próprio Tim LaHaye, famoso defensor do arrebatamento pré-tribulacional, admitiu: “Nenhuma passagem ensina os dois aspectos da segunda vinda separados pela tribulação. Isso é verdade”. Ora, se nem os defensores da doutrina conseguem apontar uma passagem bíblica clara, isso não deveria servir de alerta para todos nós?


DeMar também enfatiza que a doutrina do arrebatamento, como é popularmente ensinada, é muito recente na história da igreja. Durante quase 1800 anos de Cristianismo, os cristãos nunca ouviram falar dessa ideia de um arrebatamento secreto antes da tribulação. Foi somente no século XIX, com figuras como John Nelson Darby, que essa doutrina ganhou força. Isso mostra que não estamos diante de um ensino apostólico, mas de uma inovação teológica moderna.


Outro ponto que o autor trabalha é como essa doutrina influencia negativamente a vida cristã. Ao esperar escapar da tribulação, muitos cristãos se tornam passivos, sem engajamento com os problemas do mundo. Eles ficam apenas esperando serem levados para o céu. DeMar alerta que isso contradiz o ensino bíblico da perseverança e da fidelidade no meio das provações. O verdadeiro chamado do cristão é resistir com coragem, e não fugir dos tempos difíceis.


O livro também refuta a ideia de que o arrebatamento é necessário para “retomar o plano com Israel”, como ensinam os dispensacionalistas. Eles dizem que a igreja é um “parêntese” na história da salvação, ou seja, algo não previsto pelos profetas do Antigo Testamento. Mas DeMar rebate com firmeza: “A ideia de que a Igreja é algo novo e separado do plano de Deus é estranha à narrativa bíblica. Deus sempre teve um só povo”. A promessa feita a Israel se cumpre em Cristo. A igreja é o Israel de Deus redimido.


O autor nos leva a considerar seriamente o contexto histórico e linguístico dos textos escatológicos. Muitos versículos usados para defender o arrebatamento são mal interpretados porque ignoram o público original e a urgência escatológica dos apóstolos. Por exemplo, Jesus disse que “esta geração não passará até que todas essas coisas aconteçam” (Mt 24.34). DeMar diz corretamente que devemos levar essa afirmação a sério e entender que a profecia se cumpriu no primeiro século.


Ao invés de um arrebatamento futuro, o foco do Novo Testamento é na vinda de Cristo em juízo contra Jerusalém em 70 DC. Esse evento encerrou a era do templo e do judaísmo sacrificial. Isso, segundo DeMar, é o verdadeiro cumprimento de muitas profecias apocalípticas. A linguagem simbólica de juízo e catástrofe era comum entre os profetas, e não se refere necessariamente ao fim do mundo. Portanto, muitos dos textos usados como prova do arrebatamento apontam, na verdade, para esse evento do passado.


DeMar também destaca que a ideia de um arrebatamento secreto não aparece nos Pais da Igreja. Homens como Irineu, Justino Mártir e Tertuliano escreveram sobre o fim dos tempos, mas nenhum deles ensinou que a igreja seria arrebatada antes da tribulação. Isso revela, mais uma vez, que essa doutrina não é uma tradição antiga, mas sim, uma invenção recente que surgiu num contexto de sensacionalismo profético e confusão interpretativa.


Um ponto importante no livro é a ênfase de que o povo de Deus deve estar preparado para a perseguição. Não há promessas de que seremos poupados do sofrimento, mas há promessas de que Deus estará conosco no meio do sofrimento. O próprio Jesus disse: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16.33). A igreja primitiva compreendia muito bem essa verdade. Ela não esperava escapar dos tempos difíceis.


Outra citação interessante do livro é a seguinte: “O fato de haver cinco visões diferentes sobre o arrebatamento, sem um único verso que as apoie diretamente, deveria levar qualquer pessoa sincera a estudar o tema com mais cuidado antes de afirmar que ‘está na Bíblia’”. DeMar nos chama à responsabilidade. Não devemos seguir doutrinas populares só porque elas são comuns e abraçadas por muitas pessoas. Devemos seguir a verdade mesmo que ela vá contra o senso comum evangélico.


A conclusão do livro é objetiva, mostrando que a Bíblia não ensina um arrebatamento secreto pré-tribulacional. Isso não significa que Cristo não voltará, mas que a forma como essa volta é descrita nas Escrituras não corresponde à narrativa sensacionalista popularizada por livros e filmes. A Segunda Vinda de Cristo será visível, gloriosa e transformadora. Não será uma volta secreta. DeMar chama os leitores a abandonar os mitos e retornar ao ensino claro da Palavra de Deus.


Portanto, o breve livro de Gary DeMar é uma obra muito boa de correção teológica e de orientação. Além de corrigir um erro doutrinário, o livro também nos chama a uma postura firme e fiel. Devemos trabalhar para transformar o mundo à luz do reino de Deus. A escatologia bíblica é uma mensagem sobre a vitória de Cristo na história.


Por fim, “The Truth About the Rapture” nos lembra que estudar escatologia com responsabilidade é essencial para a maturidade cristã. O ensino do arrebatamento pré-tribulacional pode até ser cativante para muitos, mas ele é vazio de base bíblica. Como povo de Deus, precisamos olhar para as Escrituras com reverência, buscando entender o que realmente está escrito, e não o que gostaríamos que estivesse escrito. O Retorno de Cristo é a nossa esperança, mas não precisamos de ilusões escatológicas para sustentar essa verdade.

 


Introdução



A escatologia bíblica é uma das áreas mais disputadas e mal compreendidas entre os cristãos. Dentre as diversas abordagens, o preterismo parcial tem sido frequentemente alvo de críticas, acusações e, em alguns casos, distorções injustas. Recentemente, me deparei com um artigo que tenta refutar o preterismo parcial, acusando-o de distorcer a Bíblia, comprometer a esperança da Igreja e até mesmo flertar com heresias perigosas. Diante de afirmações tão sérias, a nossa resposta não pode ser emocional nem apressada. A nossa resposta deve ser bíblica, teológica, respeitosa e ao mesmo tempo firme.

Neste artigo, eu quero apresentar uma refutação clara, lógica e pastoral às objeções levantadas. Meu desejo é tratar cada argumento com honestidade, sem fugir das tensões, e mostrar, à luz das Escrituras, que o preterismo parcial é legítimo, ortodoxo e coerente com a revelação progressiva da Palavra de Deus.


O artigo começa lançando uma pergunta:


“Mt 24:15-21; Lc 21:22-24 ensinam realmente a grande tribulação em 70 d.C., pela qual a Igreja passaria?”


O autor do artigo tenta negar que a Grande Tribulação mencionada por Jesus em Mateus 24 e Lucas 21 tenha se cumprido no ano 70 DC. Segundo ele, essa passagem não pode estar falando da mesma tribulação mencionada em Apocalipse 7.9-17, porque Jesus, em Mateus 24, estaria se referindo apenas aos judeus crentes, enquanto João fala de uma multidão formada por judeus e gentios. Com isso, o autor cria uma separação entre os dois textos e conclui que são eventos diferentes. No entanto, essa linha de raciocínio é frágil e biblicamente insustentável.


Em primeiro lugar, quando Jesus fala da destruição de Jerusalém em Lucas 21.22, Ele declara que “estes são dias de vingança, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas”. Essa afirmação mostra que aquele evento se cumpriria escatologicamente. Não era simplesmente uma tragédia política. Jesus apresenta a destruição da cidade como o cumprimento dos juízos profetizados nas Escrituras contra a Antiga Aliança. Aquele foi um momento-chave no plano redentivo que selou o fim do sistema do templo e da velha ordem.


O erro do artigo está em fazer uma separação forçada entre judeus crentes e a Igreja como um todo. Quando o Senhor menciona “os eleitos” em Mateus 24.22, Ele não está falando apenas dos eleitos israelitas. Isso porque, naquela altura da história, a Igreja já estava formada com judeus e gentios unidos em Cristo (Ef 2.11-22). Todos os salvos fazem parte do povo eleito de Deus. E é justamente por causa dos eleitos que os dias foram abreviados, como Jesus disse.


O autor também tenta romper a ligação que existe entre Mateus 24 e Apocalipse 7 com base no significado da palavra usada pelos autores bíblicos. Mateus usa a expressão “grande aflição” e Apocalipse usa “grande tribulação”. Assim, o artigo conclui que se trata de tribulações diferentes. No entanto, essa distinção é artificial. As duas passagens usam a mesma palavra grega thlipsis (θλψις), que significa: “tribulação”, “sofrimento”, “aflição intensa”, etc. Além disso, o argumento baseado em traduções antigas, como se a escolha de sinônimos invalidasse a conexão entre os textos, não tem força suficiente. Linguisticamente, Mateus 24.21 e Apocalipse 7.14 estão falando da mesma coisa.


Apocalipse 7 não está retratando a Grande Tribulação pela ótica da terra, mas sim, está mostrando o resultado celeste da fidelidade dos santos, ou seja, é uma visão do céu. A “grande multidão” em Apocalipse 7 está diante do trono porque perseverou. Isso não significa que todos morreram num único evento global, mas sim, que eles foram severamente perseguidos. Inclusive, eles passaram pela perseguição que ocorreu em Jerusalém. O livro de Atos e as cartas de Paulo registram essa perseguição.


A destruição de Jerusalém no ano 70 DC foi a mesma Grande Tribulação profetizada por Jesus em Mateus 24. E a Grande Tribulação de Mateus 24 foi a mesma de Apocalipse 7. Ela marcou o juízo sobre o antigo Israel, o encerramento da Antiga Aliança e o triunfo da Nova Aliança inaugurada por Cristo. Separar Mateus 24 de Apocalipse 7 é cortar a Bíblia em pedaços que não se separam. Temos que ler as Escrituras como uma unidade orgânica. Não podemos separar os textos em compartimentos isolados.


Portanto, o primeiro argumento do artigo erra ao separar aquilo que a Bíblia une. A Grande Tribulação de Mateus 24 e Apocalipse 7 mostram duas perspectivas do mesmo processo de juízo e salvação que marcou a virada da era judaica para a era do reino de Cristo.


Vamos agora ao segundo argumento do artigo:


“O evento de 70 d.C. não envolveu o martírio de judeus crentes”


O autor tenta criar uma separação entre os cristãos da Grande Tribulação de Mateus 24 e os mártires da Grande Tribulação de Apocalipse 7. Ele afirma que os cristãos da Grande Tribulação de Mateus 24 foram poupados da morte no ano 70 DC, enquanto os irmãos da Grande Tribulação de Apocalipse 7 não foram poupados. Então, segundo ele, uma coisa exclui a outra. Se o primeiro grupo foi poupado e o segundo não, isso significa que são tribulações diferentes para grupos diferentes. No entanto, isso revela uma visão simplificada e desarticulada da escatologia bíblica, além de mostrar uma confusão entre os eventos históricos e a dimensão celestial desses eventos.


De fato, concordo que os irmãos judeus foram poupados da destruição de Jerusalém no ano 70 DC. Isso está bem documentado na história. Por exemplo, o historiador Eusébio relata que os crentes fugiram para a cidade de Pela, na região de Decápolis. Porém, isso não significa que não houve nenhum martírio de cristãos em outros locais. Muitos outros cristãos que viviam em outras partes do Império Romano sofreram perseguições, fome, prisões e morte. Muitos morreram durante “o princípio das dores”. Falarei sobre isso mais adiante.


Dessa forma, quando Apocalipse 7 fala de uma multidão que veio da Grande Tribulação, não está dizendo que todos morreram durante essa tragédia. Note que o texto diz que os santos vieram da Grande Tribulação, e não que eles morreram nela. Certamente, todos passaram por sofrimentos e perseguições. No entanto, muitos foram martirizados, enquanto outros foram poupados da morte. Mas todos passaram pela Grande Tribulação e vieram dela, tanto crentes judeus quanto crentes gentios. A Grande Tribulação envolveu martírio real, mas também preservação no sofrimento. O texto de Apocalipse 7 está simplesmente mostrando o resultado da perseverança dos santos. A Grande Tribulação envolveu sofrimento, sangue, perseverança e preservação. Ela não pode ser reduzida a um único tipo de experiência.


O problema é que o artigo tenta forçar o seguinte raciocínio: ou todos os cristãos foram martirizados ou nenhum foi. Mas o fato de Deus preservar parte do seu povo em meio ao juízo não nega a existência de mártires. Apenas confirma a fidelidade de Deus em proteger e conduzir os eleitos.


Por fim, é importante observar que o Novo Testamento ensina que a Igreja inteira participa dos sofrimentos de Cristo (Rm 8.17; 2Tm 3.12). Isso não significa que todos morrerão por causa da fé, mas que todos sofrerão. Alguns, sim, serão martirizados, mas não todos. A Grande Tribulação foi, portanto, o tempo de provação e da vitória da Igreja fiel. E o ano 70 DC foi um momento decisivo nesse processo.


Resumindo esse ponto, o autor do artigo tenta negar que no ano 70 DC tenha ocorrido a Grande Tribulação, porque nem todos os cristãos foram martirizados. Como vimos, essa ideia ignora o contexto mais amplo do sofrimento da Igreja no primeiro século e faz uma separação errada entre martírio e preservação. Deus pode, ao mesmo tempo, preservar uns e não preservar outros. A Grande Tribulação de Apocalipse 7 não é invalidada por causa dos cristãos judeus que foram preservados em Mateus 24. Na verdade, ela é confirmada, mostrando que eles foram fiéis durante a perseguição.


Vamos agora ao terceiro argumento do artigo, que diz:


“Se o evento de 70 d.C. não envolveu o martírio dos judeus crentes que presenciaram a 'grande aflição' durante a destruição do templo de Jerusalém, sob Tito, o evento é totalmente distinto da "grande tribulação" de Ap 7:9 (que trata de judeus e gentios crentes, que seriam martirizados durante esse período). Então não houve 'a grande tribulação' em 70 d.C., pois Ap 7:9 trata de martírio de judeus e gentios crentes durante esse período.”


Esse argumento repete e amplia o que foi dito antes. O autor insiste em dizer que, se os crentes judeus foram preservados da morte durante a destruição do templo, então Apocalipse 7 não pode estar falando da mesma Grande Tribulação profetizada por Jesus em Mateus 24. O raciocínio parece lógico à primeira vista, mas ele está baseado em uma falsa separação entre os eventos eclesiológicos e históricos, além de um entendimento equivocado sobre a linguagem simbólica de Apocalipse.


O argumento pressupõe que a Grande Tribulação de Apocalipse 7.9 precisa coincidir pontualmente e exclusivamente com a destruição do templo em Jerusalém sob o comando de Tito. Se não for assim, trata-se de uma Grande Tribulação diferente. No entanto, a Grande Tribulação não foi um evento de um único dia. A Grande Tribulação foi um período de sofrimento e perseguição intensa que resultou no juízo dos ímpios e na vitória do povo de Deus.


A linguagem de Apocalipse 7.14 (“estes são os que vieram da grande tribulação”) não define um dia nem uma hora. João está falando de uma visão celestial de uma grande multidão que venceu. Essa multidão é composta de pessoas que passaram por tribulações, perseguições, mortes e sofrimento ao longo daquele período escatológico do primeiro século. Isso inclui o tempo anterior à destruição do templo (o princípio das dores): as perseguições judaicas contra os apóstolos, o martírio de Tiago, Estêvão, e muitos outros santos, bem como a perseguição romana sob Nero. A Grande Tribulação não está limitada ao momento do cerco final de Jerusalém.


Portanto, dizer que a Grande Tribulação não aconteceu no ano 70 DC porque não houve um martírio específico de judeus crentes durante a destruição do templo é redefinir arbitrariamente a Grande Tribulação segundo o sistema escatológico adotado.


Outro erro do argumento é supor que só os judeus crentes deveriam ser martirizados para validar a Grande Tribulação. Mas Apocalipse 7 mostra a união do novo povo de Deus (judeus e gentios) na Grande Tribulação. Ora, Paulo disse que não há judeu nem grego, pois todos são um em Cristo Jesus (Gl 3.28). Por isso, dividir a Grande Tribulação entre "a dos judeus" e "a dos gentios" é reconstruir a parede de separação que o evangelho já derrubou.


A Grande Tribulação, que tem o seu ápice na destruição do templo, é o desfecho na terra de uma realidade espiritual. João vê no céu a multidão vitoriosa, que sofreu, sim, mas que também venceu. Não é necessário que todos tenham morrido durante o cerco para que a profecia seja cumprida. A fidelidade dos irmãos durante o sofrimento e a vitória pela fé são os sinais da Grande Tribulação bíblica.


Resumindo esse ponto, o argumento de que não houve Grande Tribulação porque não houve um martírio direto dos crentes judeus durante o cerco de Tito é reducionista e desconectado do ensino bíblico. A Grande Tribulação abrange o sofrimento prolongado da Igreja fiel do primeiro século, tanto de judeus quanto de gentios. Apocalipse 7 não retrata uma multidão de mártires morrendo na mesma hora. O texto apresenta a imagem do povo de Deus vencedor em meio à tribulação do mundo hostil. E essa vitória, no contexto do primeiro século, foi selada com o juízo contra a cidade que rejeitou o Messias e perseguiu os profetas. A Grande Tribulação de Apocalipse 7 é a mesma de Mateus 24, mas vista a partir do céu, e não a partir das ruas em ruínas.


Vejamos agora o quarto e quinto argumento (juntos):


“A opinião da Igreja Primitiva [Pais da Igreja], com relação ao evento de Mt 24:13,15-21, dizia respeito a algo restrito aos judeus crentes, ao invés de toda a Igreja Cristã, composta de judeus e gentios crentes. [...] E quando a Igreja Primitiva fez referência a Mt 24:4-31, como algo ligado a uma espécie de tribulação, dizia respeito não só a algo cujo cumprimento não se restringiu a 70 d.C., mas a várias eras, bem como também a algo que envolveria martírio de cristãos.”


Aqui, o autor tenta fundamentar o seu argumento recorrendo à tradição teológica, citando nomes da Patrística, como João Crisóstomo e Cipriano. Ele afirma que esses homens entendiam Mateus 24 como algo que dizia respeito apenas aos judeus, e não à Igreja como um todo. Por isso, segundo o autor, seria errado relacionar aquele acontecimento de Mateus 24 com a Grande Tribulação de Apocalipse 7. À primeira vista, esse apelo à história parece forte. Mas é preciso analisá-lo com bastante cautela.


Primeiramente, devemos lembrar que a autoridade final sobre a verdade bíblica não é a opinião dos Pais da Igreja, nem de comentaristas reformados, por mais respeitáveis que eles sejam. A nossa regra de fé e prática é a Escritura Sagrada. Os teólogos cometem erros, mas a Escritura, não. A tradição teológica pode nos ajudar, mas ela nunca pode substituir a exegese. 


Sendo assim, o que, de fato, o texto de Mateus 24 nos mostra? Jesus não está falando com os judeus incrédulos e nem com os membros de uma sinagoga em Jerusalém. Jesus está ensinando os discípulos que formam o núcleo da Igreja. E as advertências são dadas a eles: “Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos [...] fujam para os montes” (Lc 21.20-21). Ora, os discípulos estavam ali como representantes do novo povo de Deus, e não como parte do antigo Israel. O que Jesus está fazendo é preparando a Igreja nascente para escapar do juízo que viria sobre a antiga ordem religiosa. 


É importante notar que, ao profetizar sobre o que aconteceria naquela geração, Jesus faz uma distinção dentro da própria tribulação. Ele fala de dois períodos. O primeiro, a fase inicial, é “o princípio das dores” (Mt 24.8). O segundo, que é mais severo e decisivo, é a Grande Tribulação propriamente dita: “Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais (Mt 24.21). Essa distinção nos ajuda a entender melhor como a perseguição e o sofrimento se desenvolveram. O princípio das dores se refere ao período anterior ao cerco romano e à destruição da cidade. Nesse período inicial, vários cristãos judeus e gentios foram perseguidos, presos e mortos. Já a Grande Tribulação propriamente dita, que culminou na destruição de Jerusalém, foi um tempo de juízo mais severo. Todavia, nesse período mais severo, Deus providencialmente guardou os seus eleitos da morte. A fuga dos irmãos para a cidade de Pela é prova disso.


Já em Apocalipse 7, o apóstolo João contempla uma visão celestial. Nessa visão, ele não faz essa separação cronológica em duas fases, como Jesus fez em Mateus 24. A multidão que João vê diante do trono é descrita como “os que vieram da grande tribulação” (Ap 7.14). João contempla o grupo completo dos fiéis que sofreram naquele período escatológico, sem qualquer preocupação em separar aquele período em duas fases. Os santos são apresentados já em glória, lavados no sangue do Cordeiro e vitoriosos. É uma visão consumada e celestial. E, numa visão celestial, não há necessidade de ordenação por fases históricas.


Sendo assim, ao dizer que as palavras de Jesus se aplicam apenas aos judeus cristãos, o autor do artigo ignora o que o próprio Novo Testamento afirma sobre a Igreja. A Igreja é o novo Israel de Deus (Gl 6.16), composta por eleitos de todas as nações (Ef 2.11-19). A destruição de Jerusalém foi um juízo escatológico que atingiu os que estavam naquela geração, especialmente os judeus cristãos que ainda viviam na Judeia. Mas isso não significa que a Grande Tribulação foi limitada ao povo judeu. Os cristãos gentios também foram atingidos durante o princípio das dores.


Além disso, quando o autor cita João Crisóstomo dizendo que Jesus falava apenas aos judeus, ele se esquece de algo fundamental. Crisóstomo, assim como muitos Pais da Igreja, lia os evangelhos com as lentes do seu tempo e com as categorias que nem sempre respeitam a unidade orgânica da Escritura. Eu não estou dizendo que devemos ignorar a opinião desses homens, mas precisamos sempre filtrá-la à luz do texto inspirado.


Finalmente, ainda que alguns comentaristas antigos tenham lido Mateus 24 como uma advertência específica aos judeus, muitos outros, inclusive dentro da tradição reformada, reconheceram que a Grande Tribulação aponta para a perseguição contra a Igreja primitiva como um todo. E que a fuga de Jerusalém foi a forma providencial de Deus proteger os seus eleitos naquele tempo.


Portanto, apelar para a opinião de comentaristas antigos para fazer separação entre a Grande Tribulação de Mateus 24 e Apocalipse 7 é um erro. Não são duas Grandes Tribulações, mas uma só, porém, contemplada a partir de ângulos diferentes. Um ângulo terreno e imediato e outro celestial e consumado. Deus tem um só povo redimido por Cristo, presente em todas as tribulações da história e vitorioso pela Sua graça.


Vejamos o sexto argumento do artigo, que afirma:


“Todos os eventos vaticinados por Cristo em Mt 24:1-31 já se cumpriram em 70 d.C. ou no 1º século da era cristã? A resposta sincera é ‘não’. E temos algumas evidências disso. O v.14 diz: ‘E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim’ (ACF).”


Aqui, o autor argumenta que, como o evangelho ainda não chegou literalmente a todos os continentes do planeta, então o “fim” mencionado em Mateus 24.14 não poderia ser a destruição de Jerusalém. Com isso, ele conclui que os eventos profetizados por Jesus ultrapassam o século I e, portanto, eles não se encaixam no sistema preterista. Mas essa objeção, embora muito comum, ignora o modo como o próprio Novo Testamento interpreta essas palavras.


Primeiro, o termo grego usado por Jesus para “mundo” em Mateus 24.14 é oikoumenē (οκουμνη), e não kosmosσμος). A palavra oikoumenē era amplamente usada no primeiro século para se referir ao “mundo habitado”, ou mais precisamente, ao mundo do Império Romano. Essa é a mesma palavra usada em Lucas 2.1: “Saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo (oikoumenē) fosse recenseado”. Ora, é evidente que esse recenseamento não alcançou os povos da América do Sul, Oceania ou Antártida. Logo, a palavra tem um significado geopolítico contextual. O “mundo” aqui não é absoluto e global, como se costuma pressupor em leituras modernas.


Além disso, o próprio apóstolo Paulo, escrevendo por volta do ano 60 DC, deixou claro que o evangelho de Cristo e a fé dos cristãos haviam se espalhado por todo o mundo:


  • “[o] evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu.” (Colossenses 1.23)


  • “Primeiramente dou graças ao meu Deus por Jesus Cristo, acerca de vós todos, porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé.” (Romanos 1.8)


  • “Mas digo: Porventura não ouviram? Sim, por certo, pois por toda a terra saiu a voz deles, e as suas palavras até aos confins do mundo.” (Romanos 10.18 citando Salmos 19.4)


Essas afirmações não podem ser ignoradas. Paulo e os apóstolos tinham consciência de que o evangelho já havia alcançado todas as principais regiões do Império, cumprindo assim a profecia de Jesus. A mensagem do reino de Deus se espalhou de Jerusalém até Roma em poucas décadas. Foi algo impressionante para os padrões da época e perfeitamente enquadrado na profecia de Mateus 24.14.


O erro do artigo está em aplicar uma hermenêutica anacrônica, como se Jesus estivesse falando do planeta Terra com a mesma compreensão geográfica que nós temos hoje. Mas Jesus falava dentro da realidade cultural e linguística do seu tempo. Quando Ele disse que o evangelho seria pregado “em testemunho a todas as nações”, o foco estava na universalidade da mensagem, e não em sua geolocalização exata. Em outras palavras, o evangelho não seria mais limitado aos judeus, mas seria pregado também aos gentios. E isso já estava em plena execução nos dias dos apóstolos.


Portanto, ao dizer que a profecia ainda não se cumpriu porque o evangelho não chegou à Antártida no ano 70 DC, o autor do artigo aplica um critério moderno a uma promessa antiga. Isso, infelizmente, distorce completamente o sentido do texto. O “fim” que Jesus menciona é o fim da era do Antigo Pacto, isto é, o fim da velha Jerusalém, do templo e dos sacrifícios. E esse fim veio exatamente como Jesus profetizou: dentro daquela geração depois que o evangelho foi pregado em todo o mundo conhecido na época.


A sétima objeção apresentada pelo autor é em relação ao “homem da iniquidade” de 2 Tessalonicenses 2 que, equivocadamente, ele pressupõe que seja o Anticristo. Segundo ele, o preterismo parcial está errado porque o Anticristo ainda não surgiu e a Segunda Vinda de Cristo só acontecerá depois da manifestação do homem da iniquidade (Anticristo). Além disso, ele acusa os preteristas de identificarem esse homem com o Império Romano e rejeita essa interpretação, pois Roma nunca fez sinais ou milagres para enganar ninguém. Pois bem. Ao fazer isso, ele constrói um espantalho, distorce a posição preterista e se apoia em confusões conceituais que precisam ser esclarecidas.


Antes de tudo, é preciso esclarecer um equívoco que está presente em muitas interpretações. De modo geral, as pessoas juntam o Anticristo e o homem da iniquidade como se fossem a mesma coisa. Mas a Bíblia nunca identifica esses dois personagens como sendo exatamente a mesma pessoa. A palavra “anticristo” sequer aparece em 2 Tessalonicenses e Apocalipse. Ela é usada pelo apóstolo João somente em suas cartas (1Jo 2.18, 2.22; 4.3; 2Jo 1.7). Inclusive, João afirma que “muitos anticristos já surgiram” (naquela época). O termo é usado para se referir a qualquer pessoa que nega que Jesus é o Cristo ou que nega o Pai e o Filho. Trata-se de uma heresia cristológica, e não de um indivíduo em particular.


Já o “homem da iniquidade” ou “homem do pecado” é uma pessoa maligna, ligada ao contexto de apostasia e oposição a Deus. Ele é chamado de “homem” e “filho da perdição”. É, de fato, um ser humano de carne e osso, diferente do Anticristo. O homem da iniquidade se exalta contra tudo que se chama Deus e se assenta no templo de Deus como se fosse Deus. Embora os dois se oponham a Deus e à verdade, a Bíblia não nos autoriza a simplesmente igualar essas figuras. Confundir os dois conceitos é um erro que gera mais confusão do que esclarecimento. O autor do artigo, como muitos, combina conceitos diferentes e, com isso, ele cria (talvez sem perceber) uma caricatura da posição preterista.


Outro erro do autor é atribuir a todos os preteristas a ideia de que o “homem da iniquidade” foi o Império Romano. Essa é apenas uma das teorias defendidas entre os estudiosos preteristas, e não é, de modo algum, uma posição dogmática e unânime. Existem, basicamente, quatro principais interpretações preteristas sobre o homem da iniquidade: 


1) O “homem da iniquidade” representa o sacerdócio judaico apóstata que ocupava o templo de Deus e perseguia os cristãos; 


2) Representa o sistema religioso judaico corrompido e aliado ao poder romano (visão mais institucional); 


3) Representa o general romano Tito que profanou e destruiu o templo de Jerusalém, cumprindo as profecias de Daniel e de Jesus sobre o “abominável da desolação”; 


4) Representa Nero César, o imperador romano da época de Paulo, conhecido por sua perversidade, loucura e perseguição contra a Igreja.


Particularmente, eu sigo a quarta interpretação: Nero César. Além disso, entendo que o homem da iniquidade é o mesmo que aparece em Apocalipse 13 como a besta que emerge do mar. Nessa passagem de Apocalipse, a besta representa o Império Romano de forma coletiva (a instituição imperial) e Nero representa a sua manifestação individual e centralizada. Afinal, Nero liderava o império, sendo ele a cabeça visível da perseguição contra a Igreja.


Agora vamos examinar o texto de 2 Tessalonicenses 2 com atenção e mostrar como ele se encaixa muito bem com Nero César. Paulo afirma que “o mistério da iniquidade já opera” (2Ts 2.7). E, de fato, isso pode ser entendido como uma referência aos planos ocultos e traiçoeiros que já estavam em andamento nos bastidores do Império Romano. Historicamente, quem articulava esses planos era Agripina, a mãe de Nero, que conspirava secretamente para colocar o seu filho no trono. O imperador que reinava na época era Cláudio. Assim, Agripina (a própria esposa de Cláudio) envenenou-o em 54 DC para que Nero assumisse o poder. Essa conspiração ardilosa encaixa-se com perfeição na descrição paulina de algo que ainda não havia se manifestado, mas que já estava em operação nos bastidores.


Paulo prossegue e diz que “somente há um que agora o retém até que do meio seja tirado”. O “detentor” ou “obstáculo” é uma referência ao próprio imperador Cláudio que, embora fosse um pagão, não era hostil aos cristãos como Nero seria. Enquanto Cláudio reinava, a perseguição oficial contra os cristãos não havia se desencadeado plenamente. Ele ainda “detinha” o surgimento aberto do homem da iniquidade. Mas ao ser morto pela conspiração de Agripina, o caminho foi aberto para que Nero ascendesse ao trono e, com ele, viesse a perseguição brutal contra os cristãos. Nero, então, se tornou a manifestação concreta e histórica do “homem da iniquidade” que Paulo profetizou.


Além disso, Nero se opôs diretamente a Deus. Ele exigiu culto como se fosse uma divindade, conforme disse Paulo no versículo 4 (“de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus”). Historicamente, Nero exigia adoração como “Senhor e Deus” (Domitius Divus). Esse fato foi bem registrado por Suetônio e outros historiadores. Nero se via como divino e usava o poder do estado para perseguir os cristãos.


O apóstolo Paulo prossegue: “O Senhor Jesus o matará com o sopro da sua boca e o destruirá com o resplendor da sua vinda” (2Ts 2.8). Assim como o autor do artigo, muitos pensam que isso só pode se referir à Segunda Vinda de Cristo, mas a linguagem é profética e figurada, como em Isaías 11.4: [...] “com o sopro dos seus lábios matará o ímpio”. A vinda de Jesus aqui não é a Segunda Vinda futura e corporal, mas sim, uma vinda em juízo, exatamente como Ele veio contra Jerusalém no ano 70 DC. Jesus “veio” no sentido profético e escatológico. Ele não veio corporalmente. Ele removeu Nero da história por meio de sua queda humilhante e morte violenta. Nero se suicidou no ano 68 DC em pânico e total desonra. Logo depois, a perseguição imperial cessou temporariamente. E, logo em seguida, o juízo veio também sobre Jerusalém, selando, assim, o destino do sistema que rejeitou o Messias.


Resumindo esse ponto, o autor do artigo mistura conceitos bíblicos e acaba construindo um espantalho contra o preterismo, deixando o leitor desinformado. Ele confunde “Anticristo” com “homem da iniquidade”, afirma que todos os preteristas acreditam que o Império Romano é esse homem, e rejeita a profecia com base numa leitura simplista. Mas, como mostrei aqui: 


  • O homem da iniquidade de 2 Tessalonicenses 2 não é o Anticristo de João; 


  • A interpretação preterista é diversificada, e não se limita à teoria do Império Romano; 


  • A interpretação que identifica esse homem com Nero César é bíblica, histórica e coerente; 


  • A vinda de Jesus em 2 Tessalonicenses não é a Segunda Vinda, mas uma vinda em juízo, como tantas outras descritas na Bíblia; 


  • Cristo destruiu o homem da iniquidade com o poder do Seu juízo e da Sua palavra profética (o “sopro da sua boca”).


O argumento do artigo falha completamente e, infelizmente, ignora a riqueza da tradição exegética cristã ao longo da história. O preterismo parcial, longe de enfraquecer a glória de Cristo, exalta a Sua soberania sobre a história, a Sua fidelidade à Igreja e o Seu juízo sobre os ímpios.


Posto isso, vamos ao oitavo argumento do artigo, que é uma pergunta:


“A interpretação preterista de que a 'Grande Tribulação' já se cumpriu completa e literalmente em 70 d.C. é uma heresia?”


O autor deixa claro que isso não é uma heresia, mas sim, um erro teológico. Todavia, em seguida, ele faz um ataque exagerado que é a mesma coisa que chamar os preteristas parciais de hereges. Ele afirma que, se levarmos o preterismo às últimas consequências, estaremos chamando Jesus de contraditório, negando a Sua onisciência e imutabilidade e até abrindo caminho para o teísmo aberto. Essa é, sem dúvida, a parte mais grave e infeliz do artigo, pois ele confunde divergência teológica com desrespeito à divindade de Cristo. O preterismo parcial jamais faz isso.


Ora, o preterismo parcial não nega a divindade, a onisciência nem a imutabilidade de Cristo. Pelo contrário, nós afirmamos claramente que Jesus é o Soberano Senhor da história que cumpriu exatamente o que foi profetizado à geração do século primeiro (Mt 24.34). Dizer que Ele veio em juízo contra Jerusalém no ano 70 DC não é negar a Sua divindade, mas sim, reconhecer que Ele é Senhor. O Senhor veio em juízo, assim como Deus veio contra o Egito, Babilônia, Edom e outras nações no Antigo Testamento.


A acusação de “contradição” é fruto de uma leitura artificial que separa Mateus 24 de Apocalipse 7, como se fossem relatos incompatíveis. Mas como vimos até aqui, eles são dois ângulos complementares do mesmo evento. Mateus 24 mostra o juízo visível e histórico sobre Jerusalém e Apocalipse 7 mostra a perspectiva celestial da Igreja que venceu pela fé durante essa Grande Tribulação. Não há contradição. Há coerência teológica e harmonia escatológica.


A ideia de que Jesus estaria se contradizendo ao dizer que apenas judeus estavam em Mateus 24 e que judeus e gentios estão em Apocalipse 7 é um equívoco. Jesus nunca disse que só os judeus passariam pela Grande Tribulação. O texto apenas fala da Judeia porque é lá que o cerco aconteceria. Mas os cristãos que viviam naquela região (judeus e gentios) estavam todos sujeitos aos efeitos daquele juízo.


Acusar os preteristas de “blasfêmia” porque eles ensinam que a “vinda do Filho do Homem” de Mateus 24 é uma referência ao juízo contra Jerusalém é ignorar o próprio uso que a Bíblia faz dessa linguagem. Em Isaías 19.1, por exemplo, lemos: “Eis que o Senhor vem cavalgando numa nuvem ligeira, e entrará no Egito [...]“. Ora, isso não é uma vinda física e visível, mas uma manifestação de juízo. Jesus mesmo, ao citar Daniel 7, fala da vinda do Filho do Homem ao trono do Pai, e não à Terra. O texto de Daniel é claramente entronizador, e não escatológico no sentido futurista.


Portanto, dizer que o preterismo parcial leva à negação dos atributos de Cristo é uma distorção injusta e desonesta. Não há nenhum problema em discordar do preterismo parcial ou de qualquer outra vertente escatológica. Isso é legítimo e salutar. Todavia, acusá-lo de blasfêmia é completamente errado. Como eu disse, o autor admite que não se trata de heresia. No entanto, ele contradiz a si mesmo ao afirmar depois que essa interpretação seria uma blasfêmia se levada às últimas consequências. Isso revela uma argumentação mais emocional do que teológica.


Se Jesus cumpriu o que disse, então devemos adorá-lo com ainda mais reverência. Ele não falhou em Sua profecia. Ele cumpriu Sua Palavra com precisão. Longe de atacar a glória de Cristo, o preterismo parcial exalta Jesus como o Rei que veio em juízo e que continuará subjugando todos os inimigos debaixo de Seus pés.


Por fim, vamos para o nono e último argumento do artigo:


“A interpretação preterista de Mt 24:15-22; Lc 21:20-24 e Ap 7:9-17 tem algumas semelhanças com crenças de seitas falsas.” 


O autor encerra a sua crítica ao preterismo parcial com uma acusação extremamente grave e irresponsável. Ele assemelha o preterismo com crenças de seitas falsas, como as Testemunhas de Jeová e os Israelitas Britânicos. Segundo ele, ao identificar a Grande Tribulação de Apocalipse 7 com o juízo do ano 70 DC, os preteristas agem de forma bizarra e contraditória, chegando até mesmo a violar o 9º mandamento. Essa declaração, além de ofensiva, revela um raciocínio superficial e falacioso. Vejamos o porquê.


Primeiro, o autor tenta associar a visão preterista à doutrina das Testemunhas de Jeová que divide os salvos em dois grupos: os 144.000 que vão para o céu e a “grande multidão” que viverá para sempre na Terra. Essa doutrina é realmente herética, pois nega verdades centrais do evangelho, como a mediação universal de Cristo e a justificação somente pela fé. Entretanto, essa comparação é completamente sem sentido quando aplicada ao preterismo parcial. Nenhum preterista parcial divide a Igreja de Cristo em classes espirituais. Nenhum preterista parcial nega a mediação de Cristo. Nenhum preterista parcial separa os crentes em dois grupos de salvos. O preterismo parcial é uma escola de interpretação legítima dentro da tradição protestante reformada. Ela é ortodoxa em sua teologia da salvação e fiel ao Sola Scriptura.


Lamentavelmente, o autor do artigo comete aqui uma falácia de falsa analogia. E pior do que isso. Ele desinforma o leitor e planta suspeitas infundadas sobre irmãos que têm um compromisso real com a Escritura e com a glória de Cristo.


E segundo, o autor acusa os preteristas de “falta de biblicidade” e até de violarem o 9º mandamento (não dar falso testemunho). Isso é irônico, pois o preterismo parcial surge justamente da leitura atenta e reverente da Bíblia. A leitura preterista honra as palavras de Jesus, reconhece o peso do juízo contra a Antiga Aliança e vê o livro de Apocalipse como um livro de consolo para os santos perseguidos do primeiro século. O preterismo parcial não diminui a realidade histórica da Igreja primitiva.


Portanto, a comparação feita entre o preterismo parcial e seitas falsas como as Testemunhas de Jeová e os Israelitas Britânicos é uma acusação vazia, sem fundamento exegético, histórico ou teológico. Ela mostra que o autor desconhece a posição que se propõe a criticar. Ele se apoia em distorções que servem mais para assustar os leitores do que para conduzi-los à verdade. Para que fique claro para todos, o preterismo parcial afirma:


  • Que a Grande Tribulação envolveu judeus e gentios, como Jesus e João afirmaram; 

  • Que a destruição de Jerusalém em 70 DC foi um evento escatológico real; 

  • Que Jesus vindo em juízo contra a cidade que o rejeitou, cumprindo as Suas palavras à risca; 

  • Que a esperança cristã continua viva e futura, pois cremos na Segunda Vinda, na ressurreição dos mortos e no Juízo Final.


Longe de se aproximar de seitas, o preterismo parcial se mantém dentro da ortodoxia histórica da fé cristã e convida todos a lerem a Bíblia com mais atenção, mais humildade e mais confiança na fidelidade de Deus.



Conclusão


Depois de examinarmos com cuidado as objeções levantadas contra o preterismo parcial, fica evidente que elas não se sustentam nem exegética, nem teológica, nem historicamente. Os argumentos apresentados se baseiam em leituras anacrônicas, distinções artificiais entre os judeus e a Igreja, confusão entre linguagem literal e simbólica, e uma expectativa futurista que ignora o peso escatológico dos eventos do ano 70 DC. 

Mais grave ainda, algumas dessas objeções são elevadas ao ponto de acusar o preterismo de comprometer a fé cristã, algo que, como eu demonstrei, é injusto e infundado. O preterismo parcial não reduz a glória de Cristo, não nega a Segunda Vinda e não apaga a esperança cristã. Pelo contrário, ele afirma que Jesus é fiel à Sua Palavra. Cristo veio em juízo contra Jerusalém. Nesse momento, Ele reina soberanamente e está conduzindo a história ao seu grande desfecho. Cremos que Ele voltará de forma visível, corporal e gloriosa para ressuscitar os mortos, julgar os vivos e os mortos e consumar o Novo Céu e a Nova Terra. Essa é uma escatologia vitoriosa. Não é o fim da esperança, mas a sua plena confirmação!