pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: Estudos em Rute
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ESBOÇO DO CAPÍTULO 03 DE RUTE

ACONTECIMENTO
TEXTO BÍBLICO
O plano de Noemi
vv. 1-5
O voto de Boaz
vv. 6-13
O retorno de Rute a Noemi
vv. 14-18

EXPOSIÇÃO DO TEXTO
 

O plano de Noemi (vv. 1-5)
Certo dia, Noemi demonstrou preocupação com o futuro de Rute. Rute era jovem e viúva, mas Noemi queria que, apesar desses infortúnios, ela formasse uma família: “[...] Minha filha, vou procurar para ti um lar seguro que te traga felicidade” (v. 1). Noemi tinha um plano para Rute. Naquela noite, Boaz estaria limpando a cevada na eira. Limpava-se a cevada separando os grãos da casca. Após o boi triturar os cereais, o trabalhador lançava-os para cima através de uma peneira. O vento espalhava a palha (parte mais leve) e os grãos (parte mais pesada) caíam sobre a peneira. Isso era feito em local aberto, especialmente pelo auxílio do vento. Note que Boaz não trabalhava limpando a cevada diariamente. A expressão “Hoje à noite” (v. 2) indica que ele fazia tal tarefa em momentos pontuais. Aquela oportunidade, portanto, era única e não podia ser desperdiçada.
Noemi instruiu Rute a tomar um banho, se arrumar, e descer até a eira. Rute tinha de colocar a sua melhor roupa. A melhor roupa era um manto longo que deixaria Rute irreconhecível. Rute era pobre, e não podemos pensar que a “melhor roupa” se tratava da melhor roupa dentre tantas opções à sua disposição. Noemi disse para Rute esperar Boaz comer e beber antes de colocar o plano em ação: “[...] Mas não permitas que ele te veja, até que tenha acabado de comer e beber” (v. 3b). O plano de Noemi prosseguiu em detalhes: “E quando ele for dormir, observa o lugar em que se deitar. Depois entrarás, descobrirás os pés dele e te deitarás. Ele te dirá o que deves fazer” (v. 4). Com os pés descobertos, Boaz sentiria frio e logo acordaria. Ao olhar para o lado, ele perceberia Rute deitada ali. Há teólogos que sugerem que a palavra “pés” é um eufemismo para “órgão genital”. Moffatt, por exemplo, traduz esse versículo assim: “e lhe descobrirás a cintura”. Boaz acordaria e entenderia a mensagem de Rute. Essas são práticas culturais do passado que podem soar estranhas para nós. Mas, ao ouvir o plano de Noemi, Rute aceitou o desafio.
Se Rute deveria cuidar de sua aparência física para se apresentar diante de Boaz a fim de pedi-lo em casamento, quanto mais os cônjuges precisam cuidar de sua aparência para agradar o seu parceiro. Pessoas relaxadas com a aparência não transmitem seriedade. Você não pode ir a uma entrevista de emprego vestido de qualquer maneira. Igualmente, você precisa se cuidar para o seu cônjuge. Se durante o namoro isso era feito, no casamento esse cuidado não pode parar. Não se esqueça, porém, que cuidar apenas da aparência física é errado. O cuidado deve se estender, principalmente, ao caráter (cf. 1 Pedro 3:3-4).

O voto de Boaz (vv. 6-13)
Rute, então, desceu até a eira. Depois de comer e beber, Boaz foi se deitar. Passado algum tempo, Rute entrou em cena: “[...] Rute aproximou-se em silêncio, descobriu-lhe os pés e se deitou” (v. 7b). Ela chegou “em silêncio” (A21) ou “sem ser notada” (NVI), que significa calmamente, com toda cautela e cuidado. Essa mesma expressão aparece em 1 Samuel 14:4b (NVI): “[...] Então Davi foi com muito cuidado e cortou uma ponta do manto de Saul, sem que este percebesse”.
Rute não chegou logo que Boaz se deitou. Ela esperou Boaz pegar no sono para não ser percebida ali. No meio da noite, Boaz acordou e se assustou ao ver uma mulher do seu lado. A ARC e ARA dizem que ele estremeceu. Estremeceu por que havia uma mulher ao seu lado que não estava lá? Ou estremeceu por que sentiu o frio da madrugada tocando o seu corpo? A segunda opção é a mais provável. Eles, então, começaram um diálogo e Rute fez um pedido a Boaz: “[...] Estenda a sua capa sobre a sua serva, pois o senhor é resgatador” (v. 9b NVI). Estender a capa era uma forma cultural de pedir alguém em casamento. A versão Almeida Século 21 traduz interpretando tal prática: “[...] casa-te com a tua serva, pois tu és o resgatador”. Alguns dizem que “estenda a sua capa” equivale a “estenda as suas asas”. Isso nos leva ao capítulo dois. Boaz havia elogiado a atitude de Rute porque ela se escondera debaixo das asas do Senhor. Em outras palavras, Rute se refugiara debaixo das asas do Senhor e agora ela pede para se refugiar debaixo das asas de Boaz. Será que Boaz tinha deixado no ar o seu interesse por Rute, de tal maneira que ela ganhou confiança para pedi-lo em matrimônio? Enfim, são conjecturas interessantes.
Depois do pedido, Boaz disse que Rute tinha outras opções. Ela podia escolher homens mais jovens para se casar, no entanto, ela escolheu Boaz, que era o resgatador. Rute é uma moça de família que preza pela descendência. Ela quer casamento sério, e não aventuras passageiras. Boaz prometeu que ajudaria Rute no que fosse preciso. Mas antes de Boaz, havia um parente mais próximo do que ele que tinha o direito de resgatar Rute (v. 12). Boaz não podia simplesmente passar por cima da lei. Contudo, ele prometeu que, caso o outro homem não aceitasse ser o resgatador de Rute, ele certamente assumiria a tarefa: “Fica aqui esta noite. Se de manhã ele quiser assumir o seu papel de resgatador, que o faça. Se não quiser, juro pelo nome do SENHOR, eu o farei. Deita-te até pela manhã” (v. 13).
Antes de prosseguir com essa interessante história, vamos entender quais eram as funções de um resgatador. Comecemos pelo termo. O verbo hebraico גָּאַל (gāʾal) significa: resgatar, redimir. Portanto, o resgatador (גֹאֵל: gōʼēl) tinhas as seguintes funções [1]:

1. Comprar de volta a terra vendida em tempos de crise (Lv 25:25);
2. Resgatar parentes escravizados (Lv 25: 47-49);
3. Garantir um herdeiro para o irmão falecido (Dt 25:5-10);
4. Vingar a morte de um parente (Nm 35:19-21);
5. Tomar conta de parentes em circunstâncias difíceis (Jr 32:6-25).

Boaz, sem dúvida, é um tipo de Cristo. Jesus Cristo é o resgatador daqueles que o Pai elegeu antes da fundação do mundo. Cada gota de Seu precioso sangue foi derramada para resgatar os escolhidos de Deus. No tempo determinado, nascemos de novo pelo Espírito e fomos transportados pelo Pai para o reino de Jesus Cristo: “Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados” (Colossenses 1:13-14 NVI).

O retorno de Rute a Noemi (vv. 14-18)
Rute passou a noite aos pés de Boaz e se levantou antes do nascer do sol. Boaz temia que alguém reconhecesse Rute, pois, certamente, isso traria sérios problemas: “[...] Que ninguém fique sabendo que uma mulher veio até a eira” (v. 14b). A Mishná [2] diz que qualquer suspeita de relação sexual antes do resgate anularia o levirato. Em outras palavras, se as autoridades suspeitassem que Rute e Boaz tiveram relação sexual antes de se casarem, ele perderia o direito de ser resgatador dela. Por essa razão, Boaz foi bastante cauteloso.
Antes de Rute partir, Boaz pediu o manto que ela vestia e a despediu com seis medidas de cevada. O final do versículo quinze diz que “[...] ele [Boaz] voltou para a cidade (v. 15c). Todavia, Rute foi quem entrou na cidade, e não Boaz. Trata-se, portanto, de um erro do copista. A tradução da ARA traduz corretamente “[...] então, entrou ela na cidade”. Ao voltar para a cidade, Rute contou tudo a Noemi acerca dos acontecimentos. E Noemi pediu para Rute esperar, pois Boaz resolveria a questão naquele mesmo dia.
Semelhante a Boaz, precisamos de sabedoria para distinguir situações urgentes de situações importantes. Boaz resolveria a questão no mesmo dia, porque a situação era urgente. Coisas urgentes exigem prontidão e rapidez. Pense num incêndio, numa doença, num acidente, etc. Você não pode agendar as suas ações. Você precisa ser rápido. Por outro lado, coisas importantes podem ser planejadas. É o caso de uma viagem, de uma reforma na casa, da compra de roupas novas, etc. Confundir esses dois tipos de situações pode acarretar dissabores. Se você precisa de sabedoria para agir, assim como eu, busquemo-la na fonte correta: “Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida” (Tiago 1:5 NVI).




Fabrício A. de Marque

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Notas:
[1] É importante que você abra a Bíblia e leia com atenção cada referência citada.

[2] Importante obra do judaísmo rabínico, cujo significado é “repetição”.


ESBOÇO DO CAPÍTULO 02 DE RUTE

ACONTECIMENTO
TEXTO BÍBLICO
O campo de Boaz
vv. 1-3
Boaz chega ao campo
vv. 4-7
A conversa de Boaz com Rute
vv. 8-13
A refeição entre Rute e Boaz
vv. 14-16
Um parente de sangue
vv. 17-23

EXPOSIÇÃO DO TEXTO

O campo de Boaz (vv. 1-3)
Noemi estava viúva, mas ela tinha um parente por parte do marido. O nome desse parente é Boaz, homem rico e influente. O significado do nome é incerto, mas está ligado à força, podendo significar “filho da força”. Curiosamente, Boaz é o nome de um dos pilares do templo de Salomão: “Ele levantou as colunas na frente do pórtico do templo. Deu o nome de Jaquim à coluna ao sul e de Boaz à coluna ao norte” (1 Reis 7:21 NVI).
Certo dia, Rute decidiu sair para colher espigas. Ela se dispôs a colher no campo de quem a deixasse entrar: “[...] Deixa-me ir para recolher espigas no campo de quem permitir [...]” (v. 2). Observe que a palavra campo está no singular, indicando um campo grande e comum a todos os habitantes dali. Enquanto colhia as espigas, Rute acabou invadindo a plantação de Boaz. A Bíblia diz que isso aconteceu “por acaso” (NVI) ou “por coincidência” (A21): “Ela foi e, chegando ao campo, recolhia as espigas que os ceifeiros deixavam para trás. Por coincidência, aquela parte da plantação pertencia a Boaz, que era da família de Elimeleque” (v. 3). Comentando sobre este episódio, Leon Morris escreveu: “[Esse versículo] salienta a verdade [de] que os homens não controlam os acontecimentos, mas que a mão de Deus está por detrás deles, enquanto promove Seus propósitos. [...] A mão de Deus conduz a ação de Rute, e o autor não quer que nos esqueçamos disto” [1].
Precisamos entender que Deus dirige a nossa vida através de Sua bendita providência. Não existe acaso impessoal nem destino cego. O Senhor nos proporciona o emprego para nos alimentar. Ele usa pessoas para nos encorajar em momentos difíceis e tenebrosos. E até uma profunda dor pode ter um papel importante em Sua providência: “Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos” (Gênesis 50:20 NVI).

Boaz chega ao campo (vv. 4-7)
Naquele exato momento, Boaz chegou de Belém e viu Rute colhendo espigas. Então perguntou aos ceifeiros acerca dela: “[...] Quem é esta moça? (v. 5b). Os ceifeiros disseram que Rute é “a moça moabita” que tinha voltado com Noemi. O artigo definido (a moça moabita) pode indicar que a história ficou conhecida por todos. Rute tinha pedido para recolher as espigas que caíam do feixe. De acordo com a Lei, esse era um direito que ela possuía, tanto por ser viúva quanto por ser estrangeira: “Quando vocês estiverem fazendo a colheita de sua lavoura e deixarem um feixe de trigo para trás, não voltem para apanhá-lo. Deixem-no para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva, para que o Senhor, o seu Deus, os abençoe em todo o trabalho das suas mãos” (Deuteronômio 24:19 NVI). Rute recolheu as espigas o dia inteiro e depois descansou um pouco: “[...] Então ela veio e está em pé desde cedo. Só agora descansou um pouco no abrigo” (v. 7b).
Falar de trabalho é importante, especialmente em nossa era da preguiça. Precisamos trabalhar com firmeza e excelência independentemente da profissão que possuímos. O lixeiro não deve se envergonhar de ser lixeiro. O patrão não deve se orgulhar por ser patrão. Também não podemos pensar que o trabalho intelectual é mais digno do que o trabalho braçal. Ora, Adão recebeu um trabalho braçal do Senhor: a tarefa de cultivar e proteger o jardim. Por outro lado, ele também recebeu um trabalho intelectual: a tarefa de dar nome aos animais. Ambas as áreas são importantes e necessárias. Se você tem um trabalho braçal e é desprezado por isso, não se importe com as pessoas. Concentre-se em agradar o Senhor que te colocou ali: “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo” (Colossenses 3:23-24 NVI).

A conversa de Boaz com Rute (vv. 8-13)
Boaz iniciou um diálogo com Rute. Note, no versículo 8, que ele a chamou de “minha filha”, indicando com isso que Rute era mais nova do que ele. Ele, então, disse para ela não colher espigas em outra lavoura, mas, sim, permanecer ali mesmo [2]. Rute estaria segura nos campos de Boaz junto com as outras servas. Em seguida, Boaz pediu para Rute seguir as outras moças e prometeu que daria ordens para que os rapazes não a tocassem. Homens e mulheres trabalhavam juntos nas plantações, assim como ocorre hoje na maioria das empresas. Além disso, Boaz deu liberdade para Rute beber água à vontade: “Quando tiveres sede, vai até os potes e bebe do que os moços tiverem tirado [...]” (v. 9b). Rute ficou tocada diante de tanta bondade e quis saber o motivo: “Então ela se inclinou, prostrou-se com o rosto em terra, e lhe perguntou: Por que achei favor aos teus olhos, para que te importes comigo, uma estrangeira?” (v. 10). Boaz respondeu dizendo que a atitude que Rute teve para com Noemi foi louvável. Rute ficou ao lado de Noemi, deixando para trás o seu povo e a sua terra natal. Será que Boaz se lembrou da atitude semelhante que Abraão teve? Em seguida, Boaz fez uma oração em favor de Rute: “Que o SENHOR recompense o que fizeste, que recebas grande recompensa do SENHOR, Deus de Israel, sob cujas asas vieste buscar abrigo” (v. 12). Se refugiar debaixo das asas pinta o quadro de um pássaro sob as asas da mãe. É uma linguagem bastante usada no Saltério: “Protege-me como à menina dos teus olhos; esconde-me à sombra das tuas asas” (Salmos 17:8 NVI) [3]. Em resposta, Rute demonstrou apreciação pela oração de Boaz. É como se ela dissesse: “Muito obrigada, Boaz”! Note que essa foi a primeira coisa boa que Rute experimentou desde a morte de seu marido.
Quando recebemos gestos de bondade das pessoas, isso significa que Deus está demonstrando a Sua bondade conosco. Recentemente, assisti a uma reportagem em que um pai, juntamente com a polícia, encontrou sua filha que estava desaparecida há vários dias. O triste nessa história é que a garota foi encontrada morta. Uma telespectadora de outra cidade se comoveu com a história e viajou para dar um abraço naquele pai enlutado e lhe dizer algumas palavras de conforto. Deus demonstra Sua bondade utilizando-se de vários meios. Confie no Senhor.

A refeição entre Rute e Boaz (vv. 14-16)
Na hora da refeição, Boaz convidou Rute e ela se sentou junto com os ceifeiros. Ela comeu pão molhado no vinagre e grãos tostados. Pão molhado no vinagre era uma comida simples e os grãos tostados consistia de espigas recém colhidas e assadas em panela. Rute se alimentou até ficar totalmente satisfeita, e, depois da refeição, voltou a trabalhar. Boaz deu mais algumas ordens favoráveis a Rute: “Quando ela se levantou para recolher espigas, Boaz deu ordem aos seus servos: Deixai que recolha até entre os feixes; não a impeçais. Tirai também dos feixes algumas espigas e deixai-as cair, para que ela as recolha, e não a impeçais” (vv. 15-16). A Lei permitia recolher a espiga depois do trabalho dos ceifeiros. No entanto, Boaz permitiu que Rute recolhesse as espigas durante o trabalho deles. Os servos não deveriam impedi-la de fazer isso. Boaz, mais uma vez, foi bondoso para com Rute.

Um parente de sangue (vv. 17-23)
Rute trabalhou durante a tarde toda e recolheu cerca de 18 litros de cevada. Ela levou toda essa quantidade para o seu povoado. Ao chegar, Noemi ficou admirada com a quantidade trazida para casa. Então, perguntou onde Rute havia trabalhado naquele dia. Noemi percebeu que a quantidade só podia ser resultado de uma generosidade incomparável. Rute respondeu dizendo que trabalhou com um homem chamado Boaz. Noemi, então, expressou louvor e gratidão a Deus: “Seja ele abençoado pelo SENHOR, que não deixou de mostrar benevolência nem para com os vivos nem para com os mortos [...] (v. 20a). Em seguida, ela disse à Rute que Boaz “é um dos nossos resgatadores” (NVI). Mas as bênçãos não param por aí: “Então Rute, a moabita, respondeu: Ele me disse também: Seguirás de perto os meus ceifeiros, até que tenham acabado toda a minha colheita” (v. 21). Em outras palavras, Rute recebeu autorização para colher até o fim da colheita, e não apenas naquele dia. Noemi, então, aconselhou-a a ficar no campo de Boaz até o fim da colheita. Ela assim o fez, mas permaneceu morando com sua sogra.
É consolador saber que Deus está comprometido em suprir as necessidades do Seu povo. Ele cuida de nós. O que é necessário não nos faltará. Mais do que isso. Às vezes, a provisão do Senhor é maior do que a nossa necessidade. Jesus alimentou cinco mil pessoas ao multiplicar alguns pães e peixes. É dito que depois do suprimento, recolheu-se doze cestos repletos de pães e peixes (cf. Marcos 6:41-44). A bênção de Deus extravasa a nossa necessidade. Descanse nessa verdade.

“O meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus” (Filipenses 4:19 NVI)



Fabrício A. de Marque

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Notas:
[1] Artur E. Cundall & Leon Morris. Juízes e Rute: Introdução e Comentário. São Paulo, SP: Vida Nova, 1986. p. 254-55.
[2] O texto utiliza e expressão hebraica que é um advérbio de negação enfático (aparece no Decálogo), ao invés de utilizar a outra expressão ‘al.
[3] Veja também Salmos 36:7; 63:7 e 91:4.

INFORMAÇÕES INTRODUTÓRIAS

Rute foi a bisavó do rei Davi. A tradição judaica afirma que Rute era filha de Eglom, rei de Moabe. No entanto, isso não pode ser provado biblicamente. Não sabemos quem foi o autor desse pequeno e precioso livro. Estudiosos sugerem Samuel, Ezequias ou Esdras. O livro foi escrito por volta do ano 1.000 a.C., tendo em vista alguns propósitos fundamentais: 1) traçar a genealogia de Davi, de quem descende o Messias; 2) ensinar a doutrina da providência divina e 3) ensinar que os gentios não estão excluídos do plano salvador de Deus. A estrutura do primeiro capítulo ficará como segue:

ESBOÇO DO CAPÍTULO 01 DE RUTE

ACONTECIMENTO
TEXTO BÍBLICO
Uma viúva solitária
vv. 1-5
Uma decisão difícil
vv. 6-14
A devoção de Rute
vv. 15-18
Duas estranhas em Belém
vv. 19-22

EXPOSIÇÃO DO TEXTO

Uma viúva solitária (vv. 1-5)
O capítulo começa dizendo que uma fome atingiu a terra. A fome não era algo incomum, pois vemos a sua presença na época de Abraão, Jacó, José, Davi, Elias e de outros homens de Deus. O acontecimento levou uma família a deixar a cidade e se mudar para Moabe. Quem era os membros dessa família? “O nome do homem era Elimeleque, o de sua mulher, Noemi, e Malom e Quiliom os nomes de seus dois filhos. Eles eram efrateus, de Belém de Judá [...]” (v. 2a). Elimeleque significa “meu Deus é Rei” [1]. Noemi significa “agradável”, “amável”, “deleitável” [2]. Malom significa “doente” [3], talvez indicando que essa criança nascera com enfermidades. Quiliom significa “definhando”, “falhando”, “destruição” [4].
Logo após se mudarem para Moabe, o chefe da família, Elimeleque, morreu: Ao chegar à terra de Moabe, permaneceram ali. Então Elimeleque, marido de Noemi, morreu, e ela ficou sozinha com os dois filhos” (vv. 2b-3). O que levou Elimeleque à morte? A Bíblia não declara, mas alguns estudiosos acreditam que ele morreu por ter abandonado a terra de Belém. Ora, a fome em Belém era fruto da disciplina de Deus, e Elimeleque tentou dar um jeito na situação de maneira pecaminosa. Elimeleque teria agido com sabedoria, caso se sujeitasse à mão disciplinadora do Senhor, permanecendo em sua terra. No entanto, ao invés disso, ele correu para Moabe, uma nação pagã que antigamente havia atrapalhado Israel na fuga do Egito. Quando as coisas não estiverem bem, não tente resolvê-las do seu jeito. Não escolha o emprego que comprometerá os horários de culto quando passar por problemas financeiros. Não durma nem coma desenfreadamente quando estiver ansioso ou preocupado por alguma questão. Não se entregue ao pecado sexual nem namore uma pessoa incrédula só para suprir a sua carência afetiva. A Bíblia diz: “Confia no SENHOR de todo o coração, e não no teu próprio entendimento” (Provérbios 3:5 A21).
Depois da morte de Elimeleque, Noemi ficou sozinha com os dois filhos. Eles cresceram e se casaram com mulheres moabitas. Uma chamava-se Orfa e significa “pescoço” [5], indicando firmeza. A outra chamava-se Rute que significa “amizade” [6]. Lembre-se que Deus havia proibido o casamento com pessoas estrangeiras. Onde estava Noemi para ensinar os filhos enquanto eles cresciam? Observe que dez anos se passaram e ninguém cogitou a possibilidade de voltar para Belém. Depois desse tempo, os rapazes Malom e Quiliom também morreram. Mais uma vez, Noemi experimentou a dor do luto. Dessa vez, ela perdeu os seus únicos dois filhos, sangue de seu sangue. A situação dessa mulher é, de fato, trágica: “[...] Noemi ficou sozinha, sem os dois filhos e sem o marido (v. 5b).
Acreditar que todo sofrimento é resultado do pecado é cair em grave erro. Alguns sofrimentos não são fruto do pecado, mas outros acontecem por causa do mal que foi plantado. Algumas tragédias são fruto de atitudes pecaminosas. Lembre-se de Ananias e Safira que plantaram a semente da mentira contra o Espírito Santo e colheram a morte (Atos 5). Pense no marido que, embriagado, chega em casa e assassina a própria família e depois tira a própria vida. Considere as pessoas que morrem de overdose após ingerirem quantidades absurdas de drogas. Portanto, algumas sementes pecaminosas são plantadas e, como resultado, as tragédias são colhidas em grandes proporções.

Uma decisão difícil (vv. 6-14)
Uma boa notícia chegou aos ouvidos de Noemi. Ela foi informada de que a fome em Belém de Judá havia terminado. Isso indica que o povo voltara ao Senhor e Deus abençoara a sua agricultura. As três mulheres, então, decidiram voltar para Belém: “Quando Noemi ouviu falar que o SENHOR havia visitado o seu povo, dando-lhe alimento, decidiu deixar a terra de Moabe e voltar com as noras para a sua terra” (v. 6). No meio do caminho, Noemi mudou de ideia e pediu que as suas noras voltassem para Moabe: “[...] Enquanto voltavam para a terra de Judá, Noemi disse às suas noras: Ide e voltai, cada uma para a casa de sua mãe. E o SENHOR seja bondoso convosco, assim como fostes bondosas com os que faleceram e também comigo” (vv. 7b-8). Elas começaram a chorar em voz alta (prática comum no Antigo Testamento) e não quiseram voltar para Moabe. Mais uma vez, Noemi insistiu com elas, dizendo que não poderia mais gerar filhos para elas se casarem: “Voltai, minhas filhas! Por que viríeis comigo? Poderia eu ainda ter filhos para lhes dar como maridos?” (v. 11). Ainda que Noemi tivesse a capacidade de gerar filhos, porventura Orfa e Rute esperariam que os bebês crescessem para se casarem com eles? A resposta é não. Depois de chorarem juntas pela segunda vez, Orfa foi convencida pelos argumentos de Noemi e, depois de beijar a sua sogra, ela voltou para a terra de Moabe. É verdade que algumas pessoas não andarão conosco para sempre. Por isso, precisamos aprender a lidar com perdas e abandonos. Paulo precisou lidar com o abandono de Demas que, “por amar este mundo, abandonou-me” (2 Tm 4:10). Provavelmente você precisou lidar com a perda de amigos que decidiram voltar para o mundo, depois de estarem na presença de Deus junto com você. Orfa não seguiu Noemi nem o Deus de Israel. Antes, ela retornou para o paganismo moabita.

A decisão de Rute (vv. 15-18)
Ao contrário de Orfa, Rute estava decidida a seguir a sua sogra. Observe o compromisso dessa mulher: “Não insistas comigo para que te abandone e deixe de seguir-te. Pois aonde quer que fores, irei também; e onde quer que ficares, ali ficarei. O teu povo será o meu povo, e o teu Deus será o meu Deus. Onde quer que morreres, ali também morrerei e serei sepultada. Que o SENHOR me castigue, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti!” (vv. 16-17). Diante de uma declaração como essa, Noemi parou de insistir com Rute. Preste atenção na declaração de Rute. Com essa declaração, ela demonstrou fé no Deus de Israel e amor por Noemi. Rute antecipou o resumo da Lei ensinado por Cristo: “Respondeu Jesus: ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas’." (Mateus 22:37-40 NVI). Deus estava sendo bondoso com Noemi e também com Rute. Noemi havia perdido o marido, os filhos e uma das noras, no entanto, ela estava ganhando Rute para ampará-la em sua dor. Rute havia perdido o sogro e o marido, mas o Senhor estava mudando o rumo da história daquela mulher. Deus é bondoso e Seus planos são insondáveis!

Duas estranhas em Belém (vv. 19-22)
Quando Noemi e Rute chegaram em Belém, a cidade ficou alvoraçada. Os habitantes se perguntaram: “Será que é Noemi mesmo? Cadê Elimeleque? Onde estão Malom e Quiliom? Quem é essa mulher junto com ela?” O reconhecimento dos moradores indica que Noemi era alguém de posses. Aliás, ela mesmo disse que tinha partido de Belém com fartura nas mãos (v. 21).
Em seguida, Noemi lamentou e pediu que fosse chamada de Mara, e não mais de Noemi: “Não me chameis Noemi, mas sim Mara, pois o Todo-poderoso tornou a minha vida muito amarga. [...] Por que me chamais Noemi, visto que o SENHOR se colocou contra mim e o Todo-poderoso me afligiu?” (vv. 20, 21b). Noemi reconheceu que as coisas que lhe aconteceram foram obras de Deus. Essa declaração nos faz lembrar de Jó: “Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor" (Jó 1:21 NVI). A teologia de Noemi era boa? Deus havia afligido essa senhora? Deus ordena mortes, furacões, tempestades, etc.? Sim. O problema é que Noemi tinha a teologia correta, porém, incompleta. Ela tornou-se amarga em virtude das coisas que lhe aconteceram. Ela acreditava na teologia da soberania sem amor. Essa teologia diz mais ou menos assim: “Deus controla tudo que acontece, mas Ele não ama nem usa as coisas para o meu bem. Ele não se importa comigo”. Você não precisa declarar com os lábios que acredita na teologia da soberania sem amor, pois a sua atitude pode demonstrar que você crê nisso. Reflita por um momento: qual foi a tragédia que mais abalou a sua vida? Essa tragédia amargurou o seu coração? Você tem cultivado pensamentos de que Deus não se importa com você? Depois do que aconteceu, a sua busca por Deus ficou estagnada? Não se esqueça de que tudo o que Deus faz coopera para o bem daqueles que O amam. Se você se esquecer disso, o seu coração poderá se amargurar.

“Saber que Deus sabe tudo sobre mim e, ainda assim me ama é, de fato, meu consolo definitivo” (R. C. Sproul)


Fabrício A. de Marque

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Notas:
[1] Em hebraico אֱלִימֶלֶךְ: ʼᵉlîmelek.
[2] Em hebraico נָעֳמִי: Nāʻᵒmî.
[3] Em hebraico מַחְלוֹן: Malôn.
[4] Em hebraico כִּלְיוֹן: Kilyôn.
[5] Em hebraico עָרְפָּה: ʻOrpâ.
[6] Em hebraico רוּת: Rût.