pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: O Livro dos Louvores
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Introdução

Você já tentou fugir da presença de Deus? Como você se sente em saber que cada segundo da sua vida está sendo assistido por Deus? Você já parou para refletir que Deus é quem escreve o destino dos homens? Afinal de contas, quão profundo é o conhecimento que Deus tem a nosso respeito?

 

TEXTO: Salmo 139 (A21)

1 SENHOR, tu me sondas e me conheces.

2 Sabes quando me sento e quando me levanto; conheces de longe o meu pensamento.

3 Examinas o meu andar e o meu deitar; conheces todos os meus caminhos.

4 Antes mesmo que a palavra me chegue à língua, tu, SENHOR, já a conheces toda.

5 Tu estás ao meu redor e sobre mim colocas a tua mão.

6 Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; elevado demais para que eu possa alcançá-lo.

7 Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua presença?

8 Se eu subir ao céu, lá tu estás; se fizer a minha cama nas profundezas, tu estás ali também.

9 Se tomar as asas da alvorada, se habitar nas extremidades do mar,

10 ainda ali a tua mão me guiará, e a tua mão direita me sustentará.

11 Se eu disser: As trevas me encobrirão e a luz ao meu redor se transformará em escuridão;

12 até mesmo as trevas não serão escuras para ti, mas a noite brilhará como o dia; pois as trevas e a luz são a mesma coisa para ti.

13 Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no ventre de minha mãe.

14 Eu te louvarei, pois fui formado de modo tão admirável e maravilhoso! Tuas obras são maravilhosas, tenho plena certeza disso!

15 Meus ossos não te estavam ocultos, quando em segredo fui formado e tecido com esmero nas profundezas da terra.

16 Teus olhos viram a minha substância ainda sem forma, e no teu livro os dias foram escritos, sim, todos os dias que me foram ordenados, quando nem um deles ainda havia.

17 Ó Deus, como são preciosos para mim os teus pensamentos! Como é grande a soma deles!

18 Se eu os contasse, seriam mais numerosos do que os grãos de areia; se os contasse até o fim, ainda estaria contigo.

19 Quem me dera matasses o perverso, ó Deus, e se afastassem de mim os assassinos,

20 homens que se rebelam contra ti, e contra ti se levantam para o mal.

21 SENHOR, não odeio eu os que te odeiam? Não detesto os que se levantam contra ti?

22 Eu os odeio com ódio absoluto; considero-os verdadeiros inimigos.

23 Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos;

24 vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno.

Podemos dividir o Salmo 139 em cinco partes:

 

I. O Deus onisciente (vv. 1-6)

Absolutamente nenhuma informação escapa do conhecimento de Deus. O salmista começa o salmo dizendo que Deus o sonda e o conhece. A palavra “sondar” significa “examinar com profundidade”, ou ainda, “esquadrinhar”. A ideia dessa palavra faz referência às operações de mineração. O minerador esquadrinha a terra com profundidade em busca de pedras preciosas:

 

“As pessoas sabem de onde extrair a prata e onde refinar o ouro. Sabem de onde tirar o ferro da terra e como separar o cobre da rocha. Sabem fazer brilhar luz na escuridão e procurar minério nas regiões mais distantes, em meio às trevas profundas. Cavam entradas para minas, em lugares onde ninguém vive. Descem por meio de cordas, balançando de um lado para o outro.” (Jó 28.1-4, NVT)

 

Desta forma, o salmista está dizendo que Deus sonda as profundezas do seu coração. O conhecimento que Deus tem vai até o mais profundo e íntimo do seu ser. Mas, além de sondar, o salmista também diz que Deus o conhece. O verbo “conhecer” indica um conhecimento completo, que abrange cada minúcia de todas as partes. Veja um exemplo: “Que mais posso dizer-te? Tu sabes como teu servo é de fato, ó Soberano Senhor.” (2Samuel 7.20).

Deus sabe de tudo o que acontece em nossa vida. No entanto, esse conhecimento de Deus não é frio ou indiferente. Deus também se importa com a nossa vida. Observe a forma com que o salmista se dirige ao Senhor. Ele usa expressões pessoais como “eu”, “me” e “mim” mais de 30 vezes. Além disso, quando o salmista se dirige ao Senhor, ele usa 21 vezes as expressões “tu”, “ti” e “teu”. E ainda, a palavra “SENHOR” (YHWH) e a expressão “Ó Deus” aparecem 3 vezes cada uma.

Diante disso, o que o Senhor conhece a nosso respeito de maneira específica? Em primeiro lugar, o salmista mostra que Deus conhece o que fazemos: “Sabes quando me sento e quando me levanto [...] Examinas o meu andar e o meu deitar; conheces todos os meus caminhos” (vv. 2a, 3). Isso significa que cada atitude particular é conhecida pelo Senhor. Ele conhece perfeitamente o seu trabalho, o seu descanso, o seu entretenimento, os seus estudos, o seu tempo em família e todas as coisas que você faz em secreto.

Em segundo lugar, o salmista mostra que Deus conhece o que pensamos: “[...] conheces de longe o meu pensamento” (v. 2b). A expressão “de longe” significa que Deus conhece os nossos pensamentos antecipadamente. Em outras palavras, antes de você pensar em alguma coisa, Deus já sabe qual será o seu pensamento. O teólogo Allan Harman disse:

 

“Os mais íntimos recessos de nossas mentes são como que um livro aberto diante dele.” [1]

 

Em terceiro lugar, o salmista mostra que Deus conhece o que falamos: “Antes mesmo que a palavra me chegue à língua, tu, SENHOR, já a conheces toda” (v. 4). Deus conhece cada palavra antes mesmo que ela saia dos lábios. Além disso, Deus conhece não apenas as palavras ditas, mas também a motivação que nos leva a falar o que falamos.

 

“A sua fala era mais macia que a manteiga, porém no coração havia guerra; as suas palavras eram mais suaves que o azeite, mas eram, de fato, espadas afiadas.” (Salmos 55.21)

 

Deus consegue identificar um coração falso que se esconde por trás das palavras bonitas.

E em quarto lugar, o salmista mostra que Deus conhece a circunstância em que estamos: “Tu estás ao meu redor e sobre mim colocas a tua mão” (v. 5). A imagem de que Deus está ao redor do salmista é a imagem de uma cidade sitiada que não tem escapatória. A mensagem é clara: estamos fechados dentro das mãos de Deus. A mão de Deus está sobre nós para nos segurar, disciplinar e proteger.

Diante dessas verdades preciosas, o salmista chega a uma conclusão: “Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; elevado demais para que eu possa alcançá-lo” (v. 6). Ele fica maravilhado diante da onisciência de Deus. Ele fica do mesmo jeito que o apóstolo Paulo ficou séculos mais tarde:

 

“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão inexplicáveis são os seus juízos, e quão insondáveis são os seus caminhos!” (Romanos 11.33)

 

Mas, afinal, o que o salmista quis dizer com a frase: “O conhecimento de Deus é elevado demais para que eu possa alcançá-lo?” Será que ele está dizendo que Deus está tão acima de nós, que é impossível conhecê-lo de verdade? Não, não é isso! Deus pode ser conhecido, porque Ele se revelou à humanidade. O salmista está dizendo que Deus não pode ser conhecido exaustivamente. Ninguém pode esgotar o conhecimento de Deus. Afinal de contas, Deus é eterno e o homem é finito.

 

II. O Deus onipresente (vv. 7-12)

Além de saber de tudo, Deus também está presente em todos os lugares. É por isso, então, que no verso 7, o salmista fala da impossibilidade de ausentar-se da presença de Deus: “Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua presença?”. Ora, essa é uma pergunta retórica, que exige uma resposta negativa. Em outras palavras, não existe nenhum lugar em toda a terra que permita ao homem esconder-se do Espírito de Deus. A presença de Deus está em todos os lugares, tornando impossível que os homens criem esconderijos para si:

 

“Pode alguém se ocultar em esconderijos, de modo que eu não o veja? — diz o Senhor. Não encho eu os céus e a terra? — diz o Senhor.”  (Jeremias 23.24)

 

A partir do verso 8, o salmista muda sua abordagem. No início do salmo, ele se concentrou no aspecto temporal, mostrando que Deus conhece nossas ações, pensamentos e palavras antes de se manifestarem no tempo. Agora, porém, ele se concentra no aspecto espacial, ou seja, ele passa a falar de lugares que também não podem nos esconder de Deus.

Ele diz: “Se eu subir ao céu, lá tu estás [...]” (v. 8a). O céu é o lugar da habitação de Deus e dos seres espirituais. Deus está no céu. Se o salmista fosse até lá, ele “esbarraria” com Deus, por assim dizer. Ele prossegue: “[...] se fizer a minha cama nas profundezas, tu estás ali também” (v. 8b). A palavra “profundeza”, ou “abismo” em outras versões, significa “inferno”.

No hebraico, a palavra que aparece é שְׁאוֹל (shᵉʼôl), e faz referência à morada dos mortos. Depois de mencionar o céu e as profundezas, o salmista continua: “Se tomar as asas da alvorada, se habitar nas extremidades do mar, ainda ali a tua mão me guiará, e a tua mão direita me sustentará” (vv. 9-10). A expressão “asas da alvorada” se refere ao Oriente, ao passo que a expressão “extremidades do mar” se refere ao Ocidente. De um extremo do universo até o outro extremo, é impossível fugir da presença de Deus.

Nos versos 11 e 12 o salmista ainda diz: “Se eu disser: As trevas me encobrirão e a luz ao meu redor se transformará em escuridão até mesmo as trevas não serão escuras para ti, mas a noite brilhará como o dia; pois as trevas e a luz são a mesma coisa para ti”. O salmista usa as trevas e a luz como ilustração de um esconderijo para mostrar que nem mesmo a mais densa escuridão pode afetar a presença dominante de Deus [2]. João disse que Deus é luz e nele não há treva nenhuma (1João 1.5). Ele também disse que a luz prevalece sobre as trevas (João 1.5). O famoso líder Moisés escreveu dizendo que Deus criou e separou a luz das trevas (Gênesis 1.3-4). E o profeta Daniel disse que Deus conhece o que está em trevas e que a luz mora com ele (Daniel 2.22).

Então, perceba a mensagem que o salmista está transmitindo aqui. Ele fala de altura (céu), profundidade (abismo), distância (Oriente e Ocidente) e esconderijo (luz e trevas). Tudo isso é mencionado para nos ensinar o seguinte: é impossível se esconder de Deus seja qual for o lugar da criação. O autor da carta aos Hebreus disse: “E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e expostas aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” (Hebreus 4.13).

 

III. O Deus onipotente (vv. 13-18)

Nesta parte, o salmista mostra o poder de Deus ao formar uma criança no ventre materno. No verso 13, ele diz que Deus formou o seu interior. A palavra “interior” significa “rins”. A palavra hebraica é כִּלְיָה (kilyâ). Será que Deus criou apenas os rins do salmista, mas não criou o seu pulmão, coração e os demais órgãos? É preciso entender que, na mentalidade hebraica, o rim é a parte mais íntima e profunda da anatomia humana. De maneira figurada, é a sede das emoções e do afeto. Dessa forma, o salmista está dizendo que Deus criou o mais íntimo do seu ser. Diante de uma obra tão maravilhosa, o salmista, então, expressa admiração pelo poder de Deus. Ele louva a Deus e declara que Suas obras são maravilhosas (v. 14).

No verso 15, o salmista volta a meditar sobre a formação de uma criança no ventre. Ele diz: “Meus ossos não te estavam ocultos, quando em segredo fui formado e tecido com esmero nas profundezas da terra” [3]. Observe a expressão “profundezas da terra”. Como assim o salmista foi “tecido nas profundezas da terra”? O que isso significa? Essa expressão se refere ao útero da mulher grávida. É uma expressão poética. O útero é um lugar escuro, porque está escondido dentro da mãe, longe da nossa visão. Todavia, o útero não está escondido dos olhos de Deus. Deus trabalha dentro do útero materno, formando de maneira cuidadosa e amorosa todas as crianças que serão geradas.

No verso 16b, o salmista diz algo ainda mais profundo. Note que o foco não é mais a formação do bebê no ventre, mas os dias de vida desse bebê. Ele diz: “[...] no teu livro os dias foram escritos, sim, todos os dias que me foram ordenados, quando nem um deles ainda havia”. O salmista está dizendo que a sua vida foi escrita por Deus de antemão. É evidente que isso vai além de um pré-conhecimento. Deus não apenas conhece antecipadamente cada dia da nossa vida. Deus escreveu antecipadamente cada dia da nossa vida. É por isso que Ele conhece cada um de nossos dias detalhadamente. O salmista deixa isso claro ao escolher as expressões “dias escritos” e “dias ordenados”. O poeta bíblico tem consciência de que ele não é o autor de sua própria história, embora ele seja responsável pelos seus atos. Ele reconhece que Deus é o Autor de todos os seus dias.

Diante dessa verdade, o salmista se vê maravilhado com os pensamentos de Deus: “Ó Deus, como são preciosos para mim os teus pensamentos! Como é grande a soma deles! Se eu os contasse, seriam mais numerosos do que os grãos de areia; se os contasse até o fim, ainda estaria contigo” (vv. 17-18). A sabedoria de Deus é profunda e insondável. Visto que é impossível perscrutar os pensamentos de Deus, a atitude que nos resta é de admiração e adoração.

 

IV. O Deus vingador (vv. 19-22)

A quarta parte do salmo muda de maneira repentina, podendo causar um pouco de estranheza em nós. O salmista expressa sua indignação contra os inimigos de Deus. Ele quer que Deus mate os perversos e assassinos que se rebelam contra o Senhor.

No verso 21, o salmista diz que os inimigos de Deus se tornam em seus inimigos também. É como se o salmista “comprasse a briga”, por assim dizer. No antigo Oriente Próximo, essa era a forma comum de confessar lealdade a uma pessoa. Quando uma pessoa fazia aliança com outra pessoa, ela tinha o dever de tratar os inimigos da outra parte, como se fossem os seus próprios inimigos [4]. Curiosamente, foi isso que Deus prometeu para a nação de Israel quando Ele firmou uma aliança com ela:

 

“Mas, se vocês ouvirem atentamente o que ele disser e fizerem tudo o que eu ordeno, então serei inimigo dos que são inimigos de vocês e adversário dos que são adversários de vocês.” (Êxodo 23.22)

 

No verso 22, Davi diz que odeia os inimigos de Deus com ódio absoluto. O conceito hebraico de ódio é diferente do nosso conceito ocidental. No Antigo Testamento, odiar uma pessoa significa rejeitá-la, ou seja, das as costas a ela [5]. É importante deixar claro que o salmista não está falando em termos de vingança pessoal. Ele zela tanto pela glória de Deus, a ponto de se ofender com os pecados que os ímpios cometem contra Deus. Ele considera a honra do nome do Senhor muito mais importante do que os seus direitos pessoais.

 

V. O Deus que guia (vv. 23-24)

O salmista encerra o salmo olhando para dentro do seu coração. Ele pede para Deus sondar o seu coração, provar os seus pensamentos, avaliar a sua conduta e, por fim, guiá-lo pelo caminho eterno. É como se ele dissesse: “Senhor, eu também estou sujeito a te ofender com os meus pecados. Então, me sonda e me mostra se tenho andado por caminhos desagradáveis a Ti”.

O último verso traz uma expressão muito importante: “caminho eterno”. Diferente do caminho dos ímpios que certamente perecerá, o salmista quer ser guiado por Deus durante essa vida até, por fim, chegar à vida eterna. Assim, concluímos esse estudo com algumas aplicações práticas para a nossa vida.

 

Aplicações práticas

(1) O fato de Deus conhecer tudo a seu respeito te traz conforto ou medo? Se estivermos andando no caminho mau, então a presença de Deus deve ser motivo de medo mesmo. Por outro lado, se estivermos andando no caminho de Deus, não há o que temer.

 

(2) O aborto é repugnante, porque é a tentativa de acabar com a vida que o próprio Deus formou. A Bíblia revela que Deus é o Autor da vida e também da morte: “O Senhor é quem tira a vida e quem a dá; ele faz descer à sepultura e faz subir.” (1Samuel 2.6).

 

(3) Bebês que nascem com alguma deficiência não têm menos valor do que aqueles que nascem fisicamente perfeitos. A deficiência existe por consequência do pecado do homem. No entanto, a vida humana é valiosa aos olhos de Deus. Cada pessoa foi criada à imagem e semelhança do Senhor, apesar de algumas possuírem alguma deficiência física. Além do mais, até mesmo os detalhes físicos de uma pessoa foram determinados pelo Deus soberano. Veja o que Deus disse a Moisés: “Quem fez a boca do homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o Senhor?” (Êxodo 4.11).

 

(4) Não seja amigo íntimo de pessoas que se rebelam e zombam do Senhor. Com isso, não estou dizendo que devemos viver isolados, como se fôssemos perfeitos e sem pecado. Quem afirma não ter pecado nenhum, está chamando Deus de mentiroso (1João 1.10) O ponto é que não podemos ser cúmplices das obras das trevas (Efésios 5.11). Não podemos fazer “cara de paisagem” quando homens ímpios zombam de Deus em nossa frente. Devemos reprovar as suas ações.

 

(5) Examine o seu coração frequentemente. O autoexame deve ser uma disciplina diária, e não somente no dia da Ceia do Senhor. Paulo disse aos irmãos de Corinto: “Examinem-se para ver se realmente estão na fé; provem a si mesmos [...]” (2Coríntios 13.5a). Infelizmente, o nosso coração se desvia com muita facilidade. Quanto mais examinarmos a nossa vida à luz das Escrituras, menos pecados vamos cometer.

 

Portanto, que a oração do salmista também seja a nossa oração:

 

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno.” (Salmos 139.23-24)

 

 

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Notas:

[1] HARMAN, Allan M. Comentários do Antigo Testamento: Salmos. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. p. 454.

[2] SWINDOLL, Charles R. Vivendo Salmos: motivação para os desafios da vida moderna. Rio de Janeiro: CPAD, 2014. p. 275.

[3] Existe uma tradição judaica que afirma que primeiro Deus cria os ossos de uma pessoa, depois os reveste de nervos e carne e, por fim, sopra nela o espírito de vida.

[4] HARMAN, Allan M. p. 457.

[5] SWINDOLL, Charles R. p. 284.

 


 

Fabrício A. de Marque

 

Introdução

Com que frequência você faz uma pausa para considerar a bondade de Deus? Você reflete sobre o quanto você é bem-aventurado? Qual é o seu maior obstáculo para louvar a Deus? Afinal de contas, por quais motivos devemos adorar a Deus de todo o nosso coração? Vamos refletir sobre essas e outras questões no estudo de hoje. Acompanhe a leitura a seguir.

 

TEXTO: Salmos 100 (ARA)

1 Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras.

2 Servi ao SENHOR com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico.

3 Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio.

4 Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de louvor; rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome.

5 Porque o SENHOR é bom, a sua misericórdia dura para sempre, e, de geração em geração, a sua fidelidade.

 

O salmo 100 é conhecido como “Jubilai” [1]. É um salmo utilizado no culto litúrgico. Estudiosos acreditam, apesar da incerteza, que esse salmo foi escrito para acompanhar a apresentação de uma oferta de ação de graças (cf. Levítico 7.11-15) [2].

Durante a história da igreja, o salmo 100 foi usado para louvar ao Senhor em comunidade, ou seja, como igreja congregada. Além do mais, o salmo 100 também serviu de inspiração para a composição de alguns hinos modernos. Por exemplo, inspirado pelo salmo 100, William Kethe (?—1594) compôs uma paráfrase, em 1561, intitulada “Todos que na terra moram”. Isaac Watts (1674—1748), famoso compositor cristão, escreveu o hino “Diante do trono sublime de Jeová” [3]. E Louis Bourgeois (1510—1559), compôs um hino chamado “O Antigo Centésimo”, que apareceu pela primeira vez no Saltério Francês de Genebra de 1551 [4].

O nome do Senhor aparece 4 vezes no salmo 100, mesmo o salmo tendo apenas cinco versos. Além disso, o nome que aparece, no hebraico, é YHWH (יהוה), o nome pessoal de Deus no Antigo Testamento. Embora seja tão pequeno, o salmo 100 possui sete mandamentos, e termina com um resumo do caráter de Deus ao mencionar Sua bondade, misericórdia e fidelidade [5]. Assim, o salmo 100 pode ser dividido em duas partes:

 

I. Convocação ao culto solene (vv. 1-3)

O salmista começa o salmo com um convite de adoração. Essa adoração deve ser prestada com júbilo. No hebraico, não encontramos a expressão “com júbilo”. Ao invés disso, encontramos a expressão: “Gritai ao Senhor”. A palavra “gritar” traz a ideia de um barulho provocado por trombetas. A imagem é semelhante a uma torcida de futebol gritando pelo seu time, ou ainda, aos gritos da população quando um líder confiável é eleito para ocupar um cargo importante. Dessa forma, o salmista está dizendo: “Gritem ao Senhor! Exalte o nome dEle a plenos pulmões!”.

Ao refletir sobre isso, tente se lembrar quando foi a última vez que você praticamente gritou de tão empolgado que ficou após ler uma passagem bíblica? Quando foi a última vez que você praticamente gritou de gratidão a Deus por uma bênção recebida? Expressar as nossas emoções de alegria a Deus pode ser um excelente antídoto contra a frieza espiritual.

Note ainda que o convite de adoração do salmista é um tipo de convite missionário à adoração. Ele convida à adoração não apenas um grupo restrito de pessoas, mas todas as terras. A terra inteira deve adorar ao Senhor, porque o Senhor tem feito grandes coisas pelo Seu povo. João Calvino (1509—1564) enxerga um elemento de profecia no verso 1. Ele acredita que o salmista fala, profeticamente, de um período em que a Igreja seria formada por pessoas de diferentes nações [6].

No verso 2, o salmista nos convida a “servir” a Deus. A palavra “servir” também pode ser traduzida por “culto”. É por isso que a Nova Versão Internacional (NVI) traduz o verso assim: “Prestem culto ao Senhor com alegria”. Ademais, a palavra “culto” tem uma variedade de significados no Antigo Testamento. Por exemplo, a palavra se refere à atitude de um escravo em Jeremias 34.14. A palavra indica o exercício de súditos em favor de um soberano em Jeremias 27.7 e 28.14. E a palavra também é usada em referência ao serviço prestado ao Senhor em Êxodo 23.25 [7].

Aqui no salmo, o salmista está convidando todas as nações gentílicas a prestarem um culto alegre ao Senhor. Prestar culto ao Senhor é, sem dúvida, uma forma de servi-lo. Na verdade, é a primeira e mais importante forma de servir a Deus. Antes de servirmos a Deus com os nossos dons, devemos servi-lo com a nossa adoração.

Note, ainda no verso 2, que devemos servir ao Senhor com alegria. Com isso, o salmista está dizendo que a nossa adoração a Deus deve ser uma adoração feliz, porque Deus é feliz, e Ele fica satisfeito quando demonstramos alegria ao adorá-lo.

O comentarista bíblico Warren W. Wiersbe (1929—2019), ao comentar sobre adoração e serviço, disse: 


“A adoração conduz ao serviço, e o verdadeiro serviço é uma forma de adoração” [8]


O teólogo Myer Pearlman (1898—1943), comentando o Salmo 100, afirmou: 


“O Novo Testamento começa com o júbilo dos anjos que anunciam o nascimento de Cristo e termina com a descrição das incontáveis multidões cantando aleluias Àquele que venceu o pecado, a morte e o diabo” [9]


No verso 3, o salmista ordena que todos reconheçam que YHWH é Deus. Além de ser Deus, Ele também é o nosso Criador. Ele nos fez. Por isso, pertencemos a Ele; não somos de nós mesmos. O sentido dessa passagem é mais profundo do que aparentemente parece. É verdade que Deus criou a nação de Israel. Todavia, Deus criou as outras nações também, e não apenas Israel. Então, o salmista está dizendo que Deus não apenas criou Israel, mas também elegeu a nação de Israel para se revelar a ela.

Em seguida, o salmista diz que somos o povo e o rebanho de Deus. Toda essa ideia de não pertencermos a nós mesmos e de sermos o rebanho de Deus, é ampliada no Novo Testamento:

 

“Porque vocês estavam desgarrados como ovelhas; agora, porém, se converteram ao Pastor e Bispo da alma de vocês.” (1Pedro 2.25)

 

“Porque vocês foram comprados por preço. Agora, pois, glorifiquem a Deus no corpo de vocês.” (1Coríntios 6.20)

 

II. Convocação à ação de graças (vv. 4-5)

No verso 4, o salmista diz que os adoradores de YHWH devem entrar pelas portas do templo “com ações de graças”. Isso significa que Deus requer não apenas adoração, mas também gratidão. Ora, a ingratidão é uma marca presente na vida do ímpio. E não só isso. A ingratidão é a consequência de não glorificar a Deus, apesar da Sua revelação geral:

 

“Porque, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças [...]” (Romanos 1.21a)

 

Ainda no verso 4, o salmista também diz que os adoradores de YHWH devem entrar pelas portas do templo “com hinos de louvor”. Perceba que “ações de graças” e “hinos de louvor” são coisas diferentes. E qual é a diferença entre essas atitudes de adoração? Ações de graças é o reconhecimento daquilo que Deus fez por nós. É a adoração focada nas bênçãos recebidas. Hinos de louvor, por sua vez, é o reconhecimento daquilo que Deus é. É a adoração focada no caráter de Deus.

O último verso do salmo 100 menciona a bondade, a misericórdia e a fidelidade do Senhor. É provável que essa tenha sido a confissão que os adoradores proclamavam toda vez que compareciam no templo para adorar [10]. Neste último verso encontrarmos os motivos de Deus ser adorado. Em outras palavras, por que devemos adorar a Deus com ações de graças e com hinos de louvor? O salmista nos oferece 3 motivos:

 

(1) Porque Deus é bom: se você tem dúvida quanto à bondade de Deus, a Bíblia, então, te convida a provar e ver que isso é verdade:

 

“Provem e vejam que o Senhor é bom [...]” (Salmos 34.8a)

 

(2) Porque a misericórdia de Deus é eterna: a palavra “misericórdia”, no hebraico, é חֶסֶד (esed) e pode significar “gentileza” e “favor”. O salmista está dizendo que o favor de Deus para com o Seu povo é eterno, não tem fim. A maior demonstração da misericórdia de Deus foi enviar Jesus para nos redimir da culpa e da condenação eterna.

 

(3) Porque a fidelidade de Deus perpassa as gerações: a fidelidade de Deus não ficou restrita à nação de Israel no Antigo Testamento. Deus é fiel à aliança que Ele firmou com aqueles que estão em Cristo Jesus.

 

Assim, gostaria de terminar essa reflexão no Salmo 100 trazendo algumas aplicações práticas para a nossa vida cristã.

 

Aplicações práticas

1) As igrejas devem colocar o Senhor no centro do culto e da adoração. O centro do culto não são as pessoas. As pessoas devem ir à igreja para prestarem um culto racional e espiritual a Deus.

 

2) Valorize o privilégio que você tem de adorar o único e verdadeiro Deus. Todos os dias várias pessoas se curvam diante de falsos deuses. Infelizmente, elas estão em pecado e debaixo da ira de Deus. Nós, por outro lado, adoramos o único Deus verdadeiro e isso não tem nada a ver com méritos pessoais. Deus se revelou a nós e nos convenceu de nossa miséria. Por isso, temos o maior privilégio de todos que é adorar o verdadeiro Deus.

 

3) Ofereça a Deus uma adoração e um culto repleto de alegria. A alegria é o resultado da adoração, e não a motivação da adoração. Primeiro adoramos, depois recebemos alegria. Primeiro vem o dever, depois a recompensa.

 

 

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Notas:

[1] KIDNER, Derek. Introdução e Comentário aos Livros III a V dos Salmos. São Paulo: Vida Nova & Mundo Cristão, 1981. p. 375.

[2] HARMAN, Allan. Comentários do Antigo Testamento: Salmos. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. p. 350.

[3] KIDNER, Derek. p. 376.

[4] HARMAN, Allan. p. 350.

[5] SWINDOLL, Charles R. Vivendo Salmos: motivação para os desafios da vida moderna. Rio de Janeiro: CPAD, 2014. p. 191.

[6] CALVINO, João. Série Comentários Bíblicos: Salmos, vol. 3. São José dos Campos: Fiel, 2009. p. 573.

[7] HARMAN, Allan. p. 350.

[8] WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento, Volume III, Poéticos. Santo André: Geográfica, 2006 p. 257.

[9] PEARLMAN, Myer. Salmos: Orando com os Filhos de Israel. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 199. p. 146.

[10] HARMAN, Allan. p. 351.

 

 

 

Fabrício A. de Marque