pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: Teologia do Dia
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Ao criar o ser humano, Deus o dotou de vontade e liberdade de ação. Deus criou pessoas, e não robôs programados, isto é, o Senhor criou o homem livre para escolher o bem ou o mal. Antes de pecar, o homem era inocente. Havia em seu coração o desejo e a capacidade de fazer o que é bom e agradável a Deus.

No entanto, a inocência e a capacidade de executar o bem poderiam ser perdidas. Somente o pecado poderia destruir essas qualidades (Gn 2.17). Infelizmente, foi isso que aconteceu. A ordem divina foi transgredida e o homem caiu de seu estado original (Gn 3.6; Ec 7.29).

Depois que o homem caiu em pecado, a capacidade de desejar e fazer o bem espiritual foi completamente perdida. Amar e obedecer a Deus tornaram-se qualidades impossíveis na vida humana pós-queda. Apesar dos atos de bondade e misericórdia que ocorrem pontualmente, o homem natural não age motivado pelo amor a Deus e às coisas sagradas. Afinal, “a mentalidade da natureza humana é sempre inimiga de Deus. Nunca obedeceu às leis de Deus, e nunca obedecerá” (Romanos 8.7 | NVT).

Por isso, sem Cristo, todo ser humano é espiritualmente morto e alienado de Deus (Ef 2.1, 5). Nenhuma pessoa é capaz de converter a si mesma. Ora, o que um morto pode fazer por si mesmo se ele está morto? Foi por essa razão que Jesus disse que “ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer a mim [...]” (João 6.44a | NVT).

Diante disso, qual é a solução para esse gravíssimo problema? O próprio Deus precisa ressuscitar espiritualmente o homem caído. Quando isso acontece, o homem é transferido para o estado de graça e liberto do estado de morte e de escravidão do pecado (Cl 1.13). Dessa forma, quando uma pessoa é convertida por Deus, ela é novamente capacitada a fazer e desejar o que é espiritualmente bom (Fp 2.13).

Contudo, apesar dessa obra milagrosa, o homem convertido ainda é um pecador, embora não mais escravo do pecado. Ele ainda luta contra os vestígios do pecado em seu coração. Isso significa que há uma intensa luta interior entre o bem e o mal (Rm 7.15, 18-19, 21, 23). Mas quando essa luta interior terminará? Somente no estado eterno, quando o pecado for definitivamente eliminado. Assim, nunca mais o mal existirá.

Para encerrar, consideremos algumas reflexões. Primeira, no presente mundo há muita violência, roubos, assassinatos e toda sorte de pecados. Isso porque o ser humano perdeu a capacidade de desejar e fazer o que agrada a Deus. O mal, portanto, não é resultado da mera desigualdade social, mas do pecado humano.

Segunda, uma pessoa só poderá desejar as coisas que Deus deseja se ela for regenerada pelo Espírito Santo e crer no Senhor Jesus Cristo. A boa notícia é que isso pode acontecer hoje mesmo. As portas da graça continuam abertas. O convite do evangelho continua sendo oferecido. Hoje pode ser o dia da salvação.

Por fim, ainda que a luta interior entre o bem e o mal seja real em nossa vida, um dia essa luta terminará. Melhor ainda é saber que terminaremos vitoriosos, e não derrotados. O que nos faz permanecer não é nosso desempenho espiritual, mas o poder de Deus. A segurança eterna dos santos está fundamentada na promessa infalível de Deus. Ele prometeu conduzir os Seus eleitos à glória eterna: “Toda a glória seja àquele que é poderoso para guardá-los de cair e para levá-los, com grande alegria e sem defeito, à sua presença gloriosa” (Judas 1.24 | NVT).

 


Fabrício A. de Marque

 

Após o pacto feito na eternidade, o Pai escolheu Jesus Cristo para ser o mediador entre Deus e a humanidade (1Pe 1.20). Jesus foi escolhido para ser profeta (At 3.22), sacerdote (Hb 5.5-6) e rei (Sl 2.6), o que é chamado de ofício tríplice. Além disso, Jesus também é o Cabeça e Salvador da igreja, o herdeiro de todas as coisas e o Juiz do mundo (At 17.31).

Antes de criar o universo, Deus, o Pai, presenteou Jesus com um povo particular. Esse povo seria redimido, chamado, justificado, santificado e glorificado (Jo 17.6; Rm 8.30). Assim, quando o tempo determinado chegou, Jesus encarnou (Jo 1.14), assumindo voluntariamente todas as fraquezas do homem. Ele tinha tudo em comum com o ser humano, exceto o pecado (Hb 4.15).

O nascimento de Jesus foi sobrenatural. Ele não nasceu através de relação sexual como todos nascem. O Espírito Santo desceu sobre Maria e ela engravidou, ainda virgem, sem qualquer relação sexual. Todo bebê que nasce pela relação sexual, nasce pecador. Por isso, o Cristo sem pecado não nasceu a partir da intimidade sexual de um casal, mas por meio de um milagre dos céus. Tudo isso tinha sido profetizado no AT e aconteceu perfeitamente conforme a profecia dos antigos profetas (Mt 1.22-23; Lc 1.30-31, 35).

Após o nascimento, Jesus foi santificado e ungido com o Espírito Santo. Deus estava com Ele em todas as coisas (At 10.38). Em Jesus se encontram todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento (Cl 2.3). Jesus é plenamente Deus, ou seja, Ele tem a mesma essência divina que o Pai e o Espírito: “Pois foi do agrado do Pai que toda a plenitude habitasse no Filho” (Colossenses 1.19 | NVT).

Além disso, Jesus é santo, inculpável e sem mancha de pecado. Ele é cheio de graça e de verdade (Jo 1.14). Todas essas qualidades o qualificam para ser o único Mediador dos homens. A Bíblia diz que Deus, o Pai, colocou nas mãos de Jesus toda autoridade para julgar (Jo 5.22-23). É por isso que Ele possui toda a autoridade nos céus e na terra (Mt 28.18).

É importante pontuar que Jesus assumiu o ofício de Mediador de boa vontade e cumpriu esse ofício perfeitamente. Isso significa que Ele sujeitou-se à Lei do AT e suportou o castigo que nós deveríamos receber (Gl 3.13). Embora não tenha pecado, Cristo foi feito pecado e maldição por nossa causa. Ele suportou as tristezas mais terríveis na alma e passou pelos sofrimentos mais dolorosos no corpo (Mt 26.37-38; Lc 22.44).

Depois de tão terrível sofrimento, Jesus ainda foi crucificado e morreu. No entanto, o seu corpo não apodreceu no túmulo. Isso porque, no terceiro dia, Ele ressuscitou corporalmente dos mortos. Embora tenha ressuscitado em carne e osso (Jo 20.25, 27), o seu corpo ressuscitou transformado. Depois de ressuscitar, Jesus ascendeu aos céus e assentou-se à direita de Deus (Mc 16.19). É exatamente ali, à direita de Deus, que Jesus intercede pelos eleitos de Deus (Rm 8.34) até o dia em que Ele voltará à terra para julgar o mundo (At 10.42).

Toda a obra redentora de Cristo, desde a encarnação até a sessão (o sentar-se à direita da majestade), foi considerada por Deus uma obediência perfeita. Dessa forma, Jesus satisfez a justiça de Deus em relação ao pecado. Por isso, aquele que crê de coração na Pessoa e na obra de Jesus, é reconciliado com o Pai para sempre (Rm 3.25-26).

À luz de tudo isso, cabe fazer algumas considerações. Primeira, por também ser homem, Jesus compreende os sofrimentos que enfrentamos. Ele não só compreende, mas também nos dá força para enfrentá-los da forma correta. Segunda, Jesus não é uma figura que meramente morreu no passado, assim como outros líderes influentes, tal como Gandhi, por exemplo. Somente Jesus ressuscitou dos mortos e está vivo hoje. E terceira, não se esqueça de que você tem um intercessor perfeito orando continuamente por sua vida. Saber que o próprio Salvador está orando por nós é consolador e encorajador!


 

Fabrício A. de Marque


Existe uma distância imensa entre Deus e o homem. Essa distância é tão grande que, por si só, o homem é incapaz de alcançar o dom da vida eterna: “Se você for justo, isso será um grande presente para ele? O que você tem para lhe dar? Seus pecados só afetam gente como você; suas boas ações só afetam outros humanos” (Jó 35.7-8). [1] Alcançar a vida eterna só seria possível se o próprio Deus descesse até o nível do homem a fim de se revelar a ele. De fato, Deus fez exatamente isso. O Senhor se revelou ao ser humano e firmou um pacto com a humanidade.

Todavia, ao quebrar o pacto que Deus havia estabelecido, o homem sucumbiu e atraiu a maldição divina sobre si. Por isso, Deus estabeleceu um novo pacto, chamado pacto de graça. Nesse novo pacto, Deus ofereceu gratuitamente vida e salvação por meio de Jesus Cristo. A vida e salvação são obtidas através da fé na Pessoa e na obra do Salvador: “Porque Deus amou tanto o mundo que deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). [2]

Além disso, Deus também prometeu enviar o Espírito Santo ao Seu povo. O Espírito Santo é aquele que regenera os corações, concedendo o dom da fé aos homens. Afinal, sozinho o homem não é capaz de crer: “Eu lhes darei um novo coração e colocarei em vocês um novo espírito. Removerei seu coração de pedra e lhes darei coração de carne. Porei dentro de vocês meu Espírito, para que sigam meus decretos e tenham o cuidado de obedecer a meus estatutos” (Ezequiel 36.26-27). [3]

O pacto de graça está revelado no evangelho. Ele foi inicialmente declarado na promessa feita a Adão (cf. Gn 3.15). Em seguida, essa promessa foi transmitida de geração em geração no decorrer da história (cf. Hb 1.1) e, por fim, se manifestou plenamente no era do Novo Testamento em Cristo.

O pacto de graça está fundamentado na eterna aliança entre o Pai e o Filho para redimir os escolhidos: “Pois Deus nos salvou e nos chamou para uma vida santa, não porque merecêssemos, mas porque este era seu plano desde os tempos eternos: mostrar sua graça por meio de Cristo Jesus” (2 Timóteo 1.9). [4] A esperança da vida eterna foi prometido por Deus antes dos tempos eternos (cf. Tt 1.2).

É somente pela graça de Deus manifestada no pacto de graça que os homens podem ser aceitos. Se Deus não tivesse estabelecido o pacto de graça, ninguém seria salvo: “Não há salvação em nenhum outro! Não há nenhum outro nome debaixo do céu, em toda a humanidade, por meio do qual devamos ser salvos” (Atos 4.12). [5]

Assim, aprendemos que a graça e a misericórdia de Deus se manifestam tanto no ato de nos salvar, quanto no ato de nos conceder o dom da fé. Aprendemos também que Deus é um Deus de aliança, o que revela a Sua fidelidade. Deus não quebra a Sua aliança. Podemos confiar completamente no que Ele disse. Finalmente, a esperança da humanidade não está na humanidade, mas em Deus. Ninguém encontrará o sentido da vida em si mesmo ou em vantagens terrenas. A vida e o sentido dela encontram-se somente em Cristo.

 

Fabrício A. de Marque

 

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Notas:

[1] Nova Versão Transformadora (NVT).

[2] Ibid.

[3] Ibid.

[4] Ibid.

[5] Ibid.

 

A Bíblia nos ensina que, desde toda a eternidade, Deus mesmo determinou todas as coisas que deveriam acontecer no tempo e na história. Isso foi feito em conformidade com o Seu plano e com a Sua vontade soberana e sábia. A determinação divina, porém, não significa que Deus foi o Criador do pecado. A responsabilidade pelo pecado pesa sobre o homem desobediente. Além disso, o fato de Deus ter determinado tudo, também não significa que Adão foi coagido a pecar. 

A Palavra de Deus é clara em afirmar que Deus não conduz ninguém ao pecado: “E, quando vocês forem tentados, não digam: ‘Esta tentação vem de Deus’, pois Deus nunca é tentado a fazer o mal, e ele mesmo nunca tenta alguém” (Tiago 1.13). [1] Apesar disso, é óbvio que Deus sabia que Adão pecaria. Deus não apenas sabia, mas Ele poderia impedir que isso acontecesse, caso quisesse. Afinal, todo o poder está em Suas mãos. Todavia, mesmo sabendo e mesmo sendo poderoso para impedir a Queda de Adão, o Senhor não impediu. A razão disso é que esse acontecimento estava dentro dos planos soberanos de Deus que fogem do nosso entendimento limitado.

O fato da Queda de Adão fazer parte dos planos de Deus não macula a Sua pureza e santidade. A Bíblia declara que “Deus é luz, e nele não há escuridão alguma” (1João 1.5). [2] Perceba que até mesmo a morte de Jesus na cruz estava nos planos de Deus: “De fato, isso aconteceu aqui, nesta cidade, pois Herodes Antipas, o governador Pôncio Pilatos, os gentios e o povo de Israel se uniram contra Jesus, teu santo Servo, a quem ungiste. Tudo que fizeram, porém, havia sido decidido de antemão pela tua vontade” (Atos 4.27-28). [3]

Outro ponto importante a ser considerado é que, por causa de Seu decreto eterno, Deus escolheu algumas pessoas e alguns anjos para a vida eterna: “Ordeno solenemente, na presença de Deus, de Cristo Jesus e dos anjos eleitos que você obedeça a estas instruções sem tomar partido nem demonstrar favoritismo” (1Timóteo 5.21). [4] Deus não escolheu todas as pessoas nem todos os anjos. Ele agiu dessa forma porque Ele é Deus e, portanto, pode fazer o que quiser. Todas as coisas foram feitas para a Sua glória: “Da mesma forma, Deus tem o direito de mostrar sua ira e seu poder, suportando com muita paciência aqueles que são objeto de sua ira, preparados para a destruição. Ele age desse modo para que as riquezas de sua glória brilhem com esplendor ainda maior sobre aqueles dos quais ele tem misericórdia, aqueles que ele preparou previamente para a glória” (Romanos 9.22-23). [5]

Diante isso, uma dúvida se levanta: por qual motivo Deus escolheu algumas pessoas e outras não? Os escolhidos eram melhores do que os não escolhidos? Eram, talvez, pessoas mais doadoras e de coração puro? Nada disso! Deus as escolheu porque Ele é cheio de graça, misericórdia e soberania. Sendo Deus Soberano, a Sua graça é concedida a quem Ele quiser, e não a quem merecer, pois não há merecedores: “Pois Deus nos salvou e nos chamou para uma vida santa, não porque merecêssemos, mas porque este era seu plano desde os tempos eternos: mostrar sua graça por meio de Cristo Jesus” (2Timóteo 1.9). [6]

É importante esclarecer que os eleitos de Deus precisam crer em Jesus para serem salvos. Deus escolheu um grupo imenso de eleitos e determinou o modo de concretizar a salvação deles. Ninguém será salvo sem receber a Cristo pela fé. A boa notícia é que todo eleito de Deus crerá em Jesus no tempo estabelecido pelo Senhor. Por isso, é preciso pregar o evangelho que é o gerador da fé salvadora (cf. Rm 10.17; 1Co 1.21).

A doutrina do decreto eterno de Deus deve ser pensada com muita cautela. Ela deve gerar humildade, reverência e admiração em nosso coração, e não qualquer sentimento de injustiça e revolta. Além do mais, a nossa responsabilidade é olhar para esse ensino com temor, buscando, em nossa vida pessoal, obediência à Palavra de Deus, apesar de nossas quedas. Não podemos pensar pretensiosamente: “Ah, já que Deus terminou tudo que acontece, eu não tenho a responsabilidade de fazer nada”. Que Deus nos livre desse pensamento ímpio!

Assim, se Deus nos escolheu para a vida eterna, devemos ser infinitamente gratos por isso. Não havia nada de bom em nós que despertasse a compaixão e a misericórdia de Deus. Nós fazemos escolhas a partir da utilidade e dos benefícios daquilo que foi escolhido. Mas diferente de nós, Deus escolheu homens rebeldes e depravados a fim de revelar-lhes a Sua glória e o Seu amor. Diante disso, só podemos exclamar: “Ah, se não fosse a graça de Deus!”.

 

Estudo em vídeo sobre o Decreto de Deus

https://youtu.be/dlc__1F0EAU

 

 

Fabrício A. de Marque

 

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Notas:

[1] Nova Versão Transformadora (NVT).

[2] Ibid.

[3] Ibid.

[4] Ibid.

[5] Ibid.

[6] Ibid.


A “suficiência” é um dos atributos da Bíblia. O que significa dizer que cremos que a Bíblia é suficiente? A Bíblia é suficiente para conhecermos o que Deus quer que pensemos e façamos? As palavras da Bíblia nos bastam ou precisamos recorrer a outras fontes para compreendemos a vontade do Senhor?

Quando declaramos que as Escrituras são suficientes, estamos dizendo que a Bíblia possui todas as palavras divinas que Deus quis dar ao Seu povo em cada etapa da história da redenção. Portanto, temos à nossa disposição toda informação necessária para a salvação: “Desde a infância, você conhece as sagradas letras, que podem torná-lo sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Timóteo 3.15). [1]

A Bíblia é suficiente não apenas para a salvação, mas também para o viver cristão, que deve ser marcado pela prática de boas obras: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o servo de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Timóteo 3.16-17). [2]

Você já Imaginou se tivéssemos que buscar a vontade de Deus em todos os livros que já foram escritos durante a história? Que tarefa impossível! A boa notícia é que não precisamos fazer isso, porque a Bíblia é suficiente para nos orientar em cada decisão. Podemos saber o que Deus pensa acerca da igreja, da salvação, do casamento, da criação de filhos, do dinheiro, e assim por diante. Por isso, não estamos perdidos sem o conhecimento do caminho em que devemos andar.

Diferente dos protestantes, os católicos dizem que, além da Bíblia, também é preciso conhecer o ensino oficial da igreja, ou seja, é indispensável saber o que a igreja, no decorrer da história, disse sobre determinado assunto. Contra essa ideia, respondemos que a Bíblia é suficiente. O ensino da igreja pode nos ajudar a compreender o que já está na Bíblia, mas o ensino da igreja não está em pé de igualdade com a Palavra de Deus.

Outro ponto importante sobre a suficiência da Bíblia é que Moisés não teve o privilégio de ler o livro de Salmos e Provérbios, pois esses livros foram escritos depois de sua morte. Na realidade, nenhuma pessoa do AT teve o privilégio de ler qualquer livro do NT. A razão disso é que a revelação de Deus aconteceu de maneira progressiva. O cânon sagrado não foi redigido de uma só vez. Cada porção da Escritura foi revelada em certo período da história.

No entanto, depois que os 66 livros bíblicos foram concluídos, a revelação escrita cessou de uma vez por todas. Nada pode entrar nem sair da biblioteca de Deus: Toda palavra de Deus é pura. Ele é escudo para os que nele confiam. Não acrescente nada às suas palavras, para que ele não o repreenda, e você seja achado mentiroso” (Provérbios 30.5-6) [3]. Somos privilegiados, pois temos em nossas mãos o que Moisés teve apenas em parte.

Diante disso, eu quero deixar algumas aplicações práticas da doutrina da suficiência das Escrituras. Em primeiro lugar, é nosso dever buscar o que Deus quer que pensemos e façamos. Devemos buscar a doutrina e a ética de Deus. Vamos encontrá-las tão somente na Bíblia Sagrada. Em segundo lugar, não devemos acrescentar nada à Bíblia nem colocá-la no mesmo patamar de importância de qualquer outro escrito. São as seitas que fazem isso. No entanto, os evangélicos não estão isentos desse erro grosseiro. Por exemplo, colocar a opinião de um pastor, teólogo ou cantor acima ou no mesmo nível da Bíblia, é declarar que a Bíblia não é suficiente.

Em terceiro lugar, tudo aquilo que devemos crer a respeito de Deus e a respeito da obra redentora de Cristo, encontra-se na Bíblia. No passado, livros eram escritos e atribuídos a homens de Deus conhecidos, no intuito de validar aquelas obras. Como a Bíblia é nossa regra de fé, não temos a obrigação de crer em outros escritos. Pense, por exemplo, nos livros que narram a infância de Jesus. Devemos acreditar que tais livros são verdadeiros? É claro que não. Visto que a Bíblia não revela o período da infância de Cristo, então essas obras são especulativas e meramente humanas.

Em quarto lugar, se algo é pecaminoso, então a Bíblia deixará isso claro, quer explícita ou implicitamente. Em outras palavras, o que Deus considera pecado é declarado na Bíblia como pecado. Proibições extrabíblicas são fruto do legalismo. Em assuntos mais delicados, porém, precisamos decidir a partir dos princípios gerais da Palavra de Deus e da sabedoria que vem do alto.

Em quinto lugar, se temos o dever de praticar algo, então a Bíblia deixará isso claro para nós. Não precisamos buscar a vontade de Deus fora das Escrituras, pois Deus revelou todos os Seus preceitos para o Seu povo. Por isso, se algum líder ordenar que você faça algo, busque a vontade de Deus nas Escrituras. Se algo não está ordenado nas Escrituras, então estamos livres da obrigação de cumprir com aquilo.

Por fim, em sétimo lugar, devemos nos contentar com a revelação de Deus que nos foi dada nos 66 livros sagrados. A Bíblia não poderia ser mais completa do que já é. Se Deus não revelou algo que gostaríamos de saber, devemos confiar nEle, pois o Senhor é infinitamente Sábio. Absolutamente tudo que precisamos saber nos foi revelado. Assim, ao invés de ficarmos chateados ou afoitos em busca de revelações fora da Bíblia, nossa tarefa é mergulhar na Palavra de Deus a fim de compreendermos qual é a vontade do Senhor (cf. Efésios 5.17).


Confira o estudo da Confissão de Fé Batista de 1689 sobre as Escrituras Sagradas

https://youtu.be/oX4JQUCJFaY


 

Fabrício A. de Marque


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Notas:

[1] Nova Almeida Atualizada (NAA).

[2] Ibid.

[3] Ibid.


Como saber se você foi batizado com o Espírito Santo? Será que é necessário falar em línguas estranhas? Todo cristão genuíno já foi batizado com o Espírito Santo ou será que apenas uma parcela recebeu essa bênção?

Existe uma doutrina bastante difundida em alguns círculos que ensina que existe uma “segunda bênção” ou uma “segunda obra da graça” na vida do crente, obra essa que acontece depois da conversão. A “primeira bênção” seria a própria conversão, enquanto a “segunda bênção” seria a santificação completa. Essa santificação completa pode ser alcançada aqui na terra, antes da morte física e da glorificação. Essa doutrina ficou conhecida como perfeccionismo.

No entanto, com o passar dos anos, os pentecostais começaram a ensinar diferentes graus e tipos de perfeccionismo. Assim, a “primeira bênção”, segundo eles, continua sendo a conversão do pecador. Todavia, a “segunda bênção” não é a santificação completa (como diz o primeiro grupo), mas sim, um “revestimento de poder” ou “a capacitação especial” para o exercício ministerial.

Essa “segunda bênção”, então, passou a ser chamada de batismo no Espírito Santo. Mas, afinal, qual é o sinal de que uma pessoa recebeu essa segunda bênção? Os próprios defensores dessa doutrina discordam entre si com relação ao sinal do batismo do Espírito Santo.

De um lado, alguns dizem que o sinal no batismo do Espírito Santo é o falar em línguas estranhas. Se você fala em outras línguas, então você recebeu o batismo no Espírito Santo. Contudo, se você não fala em línguas, então você não foi batizado no Espírito Santo.

Do outro lado do debate, dizem que o falar em línguas não é “obrigatório”, por assim dizer. Se você não fala em línguas estranhas, não tem problema nenhum, pois o batismo no Espírito Santo pode ser acompanhado pelo fenômeno de falar em línguas ou não.

Apesar dessa divergência entre os dois grupos, ambos acreditam que existe um intervalo entre a conversão de uma pessoa e o recebimento do batismo no Espírito Santo. Isso quer dizer que uma pessoa pode ser cristã e, mesmo assim, não ser batizada no Espírito Santo.

Diante disso, eu te pergunto: esse ensino tem fundamentação bíblica? E a resposta é não! O batismo no Espírito Santo não significa falar em outras línguas e também não significa capacitação ministerial. Vejamos o que o apóstolo Paulo disse sobre esse batismo: “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1Coríntios 12.13) [1].

Paulo está dizendo que, quando uma pessoa nasce de novo, o Espírito Santo introduz essa pessoa no Corpo de Cristo, que é a Igreja. Esse ato de introduzir a pessoa no Corpo de Cristo é o batismo no Espírito Santo. Isso significa que todo convertido a Cristo foi batizado no Espírito Santo. O texto é claro: “quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. A todos foi dado beber de um só Espírito”.

Portanto, se você é uma nova criatura em Cristo, você já foi batizado no Espírito Santo. Você foi enxertado no Corpo de Cristo e feito membro da família de Deus. Por isso, quando alguém te perguntar se você foi batizado no Espírito Santo, simplesmente responda que sim, pois isso aconteceu quando você nasceu de novo e depositou sua fé em Cristo.

O nosso dever, como cristãos, não é buscar o batismo no Espírito Santo, como muitas igrejas, equivocadamente, encorajam os seus membros a fazer. Algumas, inclusive, pressionam tanto que acabam trazendo culpa sobre as pessoas. Você não precisa buscar o batismo no Espírito Santo, porque isso já aconteceu. Ao invés de buscar o batismo, devemos buscar o enchimento do Espírito Santo, que é algo totalmente diferente.

O batismo já aconteceu, mas o enchimento deve acontecer todos os dias da nossa vida: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito” (Efésios 5.18) [2]. O enchimento do Espírito acontece à medida que usamos os meios de graça que foram concedidos por Deus: leitura bíblica, oração, jejum, etc. Todo cristão genuíno foi batizado no Espírito Santo. Pertencemos ao mesmo Corpo. Portanto, não fique desesperado atrás de uma nova experiência; apenas reconheça uma realidade já concedida e se alegre com isso.


Confira a reflexão em vídeo:

https://youtu.be/HKkZx1srU7Y


Fabrício A. de Marque

 

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Notas:

[1] Nova Almeida Atualizada (NAA).

[2] Almeida Corrigida Fiel (ACF).

 

Você é um cristão legalista? Somos rápidos em afirmar que “não, de jeito nenhum!”. No entanto, é provável que sejamos legalistas sem perceber. Isso porque o legalismo pode se manifestar de várias formas na vida cristã. Conhecer cada uma dessas formas é fundamental para examinarmos a nós mesmos. Antes de comentarmos sobre as diversas expressões do legalismo, vamos definir o conceito de legalismo.

De acordo com o teólogo batista Millard J. Erickson, legalismo é o “cumprimento da lei, particularmente em sentido formal, em que se considera que a obediência é meritória[1]. Segundo a definição, o legalista é aquele que procura cumprir a lei de Deus a fim de ser recompensado por sua obediência. A obediência do legalista não tem como base a gratidão a Deus, mas a obrigação. Se não houver obediência rigorosa, jamais seremos aceitos por Deus.

Muitos cristãos, diante disso, podem afirmar: “Somos aceitos pela graça de Deus por causa dos méritos de Jesus, apesar de nossos deméritos. O legalismo não faz sentido, pois anula a graça de Deus”. Isso é verdade. Contudo, na prática, podemos agir como legalistas, mesmo tendo o conceito bem definido em nossa mente. O legalismo pode se fazer presente sutilmente, afetando negativamente a nossa caminhada cristã. Vejamos, agora, as diversas manifestações do legalismo.

A primeira expressão do legalismo é o externalismo. Essa expressão é, basicamente, o que falamos anteriormente na definição do conceito. Esse tipo de legalista separa a lei de Deus do próprio Deus que revelou a lei. Assim, a vida cristã é privada do relacionamento pessoal com Deus, pois o propósito é tão somente obedecer a regras. Tudo se limita a “fazer isso” e “não fazer aquilo”. É óbvio que o Senhor revelou mandamentos que devem ser obedecidos. No entanto, a obediência aos mandamentos não pode ficar desconectada do relacionamento pessoal com Deus. Ao invés disso, a obediência aos mandamentos deve ser a expressão do amor genuíno a Deus.

A segunda expressão do legalismo é a negligência do espírito da lei. O que é isso? O Novo Testamento revela que há distinção entre a letra da lei e o espírito da lei. A letra da lei é a forma exterior da lei. Já o espírito da lei é o propósito final para o qual a lei foi dada. O legalista separa esses dois aspectos da lei de Deus, enfatizando apenas a letra da lei, em detrimento do espírito da lei.

Pense, por exemplo, nos fariseus da época de Jesus. Certa vez, Jesus encontrou na sinagoga um homem que tinha uma das mãos deformada. Isso aconteceu num sábado. Então, os fariseus perguntaram a Jesus se a lei de Deus permitia curar no sábado. A pergunta dos fariseus tencionava acusar Jesus de quebrar a lei de Deus, caso ele dissesse que “sim”. Jesus, então, respondeu com outra pergunta: “Se um de vocês tivesse uma ovelha e ela caísse num poço no sábado, não trabalharia para tirá-la de lá? Quanto mais vale uma pessoa que uma ovelha! Sim, a lei permite que se faça o bem no sábado” (Mateus 12.11-12) [2].

Perceba que o espírito da lei consiste em fazer o bem às pessoas, mesmo no dia de sábado. Fazer o bem no dia de sábado não quebraria a lei de Deus de modo algum, porque a letra da lei está unida com o espírito da lei. O ser humano é mais importante do que determinado dia da semana. O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado. O problema é que os fariseus não conseguiam enxergar além da letra da lei. Ao negligenciar o espírito da lei, eles caíam no externalismo.

A terceira expressão do legalismo é o acréscimo de leis humanas à lei de Deus. Infelizmente, esse tipo de legalismo é bastante comum, principalmente em alguns segmentos evangélicos. Por exemplo, certas denominações proíbem o uso de calça jeans, maquiagem, etc. Outras, afirmam com convicção que ingerir qualquer quantidade de álcool — até mesmo um pequeno cálice de vinho — é pecado. Ainda outras declaram que ingressar na política, ganhar muito dinheiro ou ir para a universidade, equivale a fazer amizade com o mundo.

Impor essas leis às pessoas como se fossem leis de Deus é beirar a blasfêmia. É uma perversa distorção do evangelho da graça de Deus. A sabedoria bíblica deve guiar o povo de Deus em todas as questões, especialmente naquelas questões em que não há um pronunciamento das Escrituras. Se a Bíblia se cala sobre determinado assunto, é imoral impormos leis humanas como se fossem leis divinas.

A quarta expressão do legalismo é a supervalorização de coisas menores. Reflita sobre a seguinte pergunta: é mais fácil amar o nosso inimigo ou parar de comer como um glutão? Com certeza é mais fácil deixar de comer como um glutão. Deixar de comer muito é uma questão menor, enquanto amar o nosso inimigo é uma questão muito maior. O legalista dá atenção apenas às questões pequenas, sem se preocupar também com as questões mais importantes. Os fariseus do século 1º também agiam assim. Certa vez, eles foram repreendidos por Jesus, porque davam o dízimo da hortelã, do endro e do cominho (coisas menores), mas não se importavam com a justiça, misericórdia e fé (coisas maiores) [3].

Podemos cair na mesma armadilha de supervalorizar as questões menores em detrimento das questões maiores da fé cristã. Se uma pessoa evita a murmuração, mas age desonestamente com o próximo, ela não está sendo menos hipócrita do que os fariseus. Obedecer a Deus em questões menores é indispensável. Todavia, isso é apenas o ponto de partida. Deus requer obediência completa da nossa parte.

Por fim, a quinta expressão do legalismo é o escapismo. Muitos de nós já tentamos escapar de uma obrigação, apresentando justificativas aparentemente plausíveis. Isso acontece quando usamos um argumento para justificar a nossa desobediência. Vemos isso em igrejas que abandonaram a pregação genuína do evangelho e introduziram a “pregação coaching”, argumentando que os tempos mudaram. O escapismo também se faz presente na vida de muitos cristãos. Muitos, sob a pressão do mundo e da própria carne, abandonaram os meios de graça, perderam o interesse pelos seus cônjuges e filhos e se entregaram à desesperança, como se fossem órfãos nesse mundo. Em muitos desses casos, o argumento será sempre o mesmo: “A vida é difícil e tudo irá de mal a pior”.

Para encerrar, retomo a pergunta feita no início: você é um cristão legalista? Se você não é, certamente você já foi em algum momento. Todos nós já agimos de maneira legalista em alguma situação da vida. Que Deus nos ajude a vivermos sob a graça de Deus, em obediência ao Seus mandamentos e totalmente livres da religiosidade sufocante do legalismo.

 

Fabrício A. de Marque

 

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Notas:

[1] ERICKSON, Millard J. Dicionário Popular de Teologia. São Paulo: Mundo Cristão, 2011. p. 114.

[2] Nova Versão Transformadora (NVT).

[3] Mateus 23.23.