pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: Reflexões
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Eu gostaria de iniciar apresentando, brevemente, o autor do livro. Alexander Whyte (1836-1921) foi um pastor e teólogo escocês que marcou a sua geração com sua grande capacidade de ensinar a Bíblia de forma clara. Ele nasceu em uma família simples. Trabalhou como sapateiro e professor, mas sentiu o chamado para o ministério e se formou em Teologia. Serviu por mais de 40 anos como pastor na cidade de Edimburgo, e depois se tornou diretor e professor de Novo Testamento em um importante seminário, onde ajudou a formar novos líderes cristãos.


Alexander Whyte também foi moderador da Assembleia Geral da Igreja Livre da Escócia em 1898. Esse é um cargo de grande honra e responsabilidade. Ser moderador é como ser o presidente da maior reunião da denominação, liderando os debates, orientando as decisões importantes e representando a igreja em assuntos públicos. É uma função que reconhece não só a sabedoria teológica do líder, mas também o seu exemplo de vida cristã. Isso mostra o quanto Whyte era respeitado entre os irmãos, tanto como pastor quanto como homem de Deus.


O livro de Alexander Whyte é uma obra pastoral sobre os quatro temperamentos: sanguíneo, colérico, fleumático e melancólico. Não é um manual técnico, mas uma reflexão que mostra como cada temperamento pode ser uma bênção ou uma armadilha, dependendo se está sob domínio de Deus ou não. Whyte mostra cada temperamento em sua forma “extrema” para nos revelar o que somos sem a graça de Deus. A mensagem central é: os nossos temperamentos foram dados por Deus e devem ser cultivados para a Sua glória. Todos, mesmo os mais difíceis, são campos que precisam ser lavrados com disciplina, graça e fé.


Começando pelo temperamento sanguíneo, o autor mostra que o sanguíneo é o temperamento do entusiasmo, da empolgação e da esperança. Pessoas sanguíneas são calorosas, cheias de vida, espontâneas e geralmente animadas. Elas têm facilidade para se alegrar, fazer amigos, começar novos projetos e motivar os outros. São abertos ao que é novo e otimistas por natureza. Quando bem dirigidos, os sanguíneos são líderes naturais, comunicadores eficazes e cheios de fé e coragem para empreender grandes coisas no reino de Deus. São como o fogo da juventude. Eles aquecem o ambiente ao seu redor.


Por outro lado, o sanguíneo é conhecido pela sua inconstância. O entusiasmo costuma durar pouco. O sanguíneo troca rapidinho de direção e se deixa levar pelas emoções. É impulsivo, fala demais e pensa depois. Ele pode abraçar ideias boas com paixão, mas também pode abandonar tudo na primeira dificuldade. No campo espiritual, pode parecer fervoroso, mas com pouca profundidade. Falta-lhe perseverança, firmeza e raiz. O coração do sanguíneo comanda a sua cabeça. E isso o torna vulnerável às distrações e modismos.


O próximo temperamento abordado é o colérico. O colérico é o mais enérgico dos temperamentos. É o homem de ação, de visão e de conquista. Ele tem uma mente focada, uma vontade firme e coragem de sobra. É decidido, estratégico e trabalhador incansável. Quando convertido e dominado pelo Espírito, o colérico se torna um guerreiro do bem, assim como o apóstolo Paulo, que era consumido pelo zelo da casa de Deus. O colérico enxerga longe. Ele começa o que outros têm medo de começar e permanece firme mesmo quando ninguém mais aguenta. Quando o fogo da ira é controlado, o colérico se torna uma força propulsora para o reino de Deus.


Em contrapartida, o colérico sem domínio próprio é um perigo. Ele é orgulhoso, autoritário, impaciente e, muitas vezes, cruel com os mais fracos. O seu temperamento tende à ira, ao ressentimento e até mesmo à violência, seja física, verbal ou emocional. Ele não precisa de muito para explodir. O colérico pode destruir lares, igrejas e ministérios com seu temperamento inflamado. Além disso, a pior forma da cólera é a religiosa. O autor chama isso de “ódio teológico” que usa Deus como desculpa para atacar os outros. Por isso, o colérico precisa cultivar humildade, mansidão e controle espiritual diário.


O terceiro temperamento comentado é o fleumático. O fleumático é o homem calmo, sereno e constante que raramente se abala. Ele é observador, prudente, equilibrado. É uma pessoa excelente em tempos de crise. Ele não se precipita, pensa antes de agir e transmite segurança às pessoas. Essa “frieza” emocional é, muitas vezes, a sua maior virtude. O fleumático é o tipo de pessoa que pode ser âncora em um ambiente caótico, um bom conselheiro e um excelente administrador. A fleuma o protege das paixões e das decisões tolas. Dessa forma, ele é como uma rocha firme em meio às tempestades emocionais dos outros.


Apesar disso, o fleumático também tem os seus perigos. A frieza do fleumático pode virar apatia e sua calma pode virar preguiça profunda. Ele é muito tentado ao comodismo, à procrastinação e à passividade. Ao invés de prudente, o fleumático pode se tornar indiferente. Ele sabe o que tem que fazer, mas empurra com a barriga. No ministério, por exemplo, o fleumático pode se tornar um pastor relaxado. No lar, ele pode se tornar um pai ausente. E na vida cristã, ele pode se tornar um servo “morno”. A sua maior luta é contra o ócio. Portanto, o desafio do fleumático é sair da zona de conforto e fazer o que precisa ser feito, mesmo sem nenhuma vontade.


Por fim, o último temperamento é o melancólico. O melancólico é profundo, sensível e reflexivo. Ele tende à introspecção, ao pensamento sério e à busca por sentido. É o temperamento dos pensadores, dos poetas e dos teólogos profundos. As pessoas melancólicas sentem as coisas com intensidade e vivem com profundidade. Elas são idealistas, éticas e leais. Quando santificados, os melancólicos se tornam intercessores poderosos, conselheiros empáticos e verdadeiros homens e mulheres de Deus. O melancólico carrega o peso da alma do mundo e transforma a dor em oração.


Entretanto, visto que todo temperamento tem o seu lado negativo, o melancólico também tem. O melancólico pode mergulhar profundamente na tristeza, no pessimismo e no isolamento. A sua visão crítica o faz enxergar mais os problemas do que as soluções. Além disso, o melancólico tende mais à culpa exagerada, à baixa autoestima e às crises existenciais. Ele é tentado à inércia por causa do desânimo. Quando mal conduzido, o melancólico pode viver em constante reclamação, tristeza e autopiedade. De fato, a maior batalha do melancólico é interna. Por isso, ele precisa aprender a se alegrar no Senhor e manter a mente fixada na esperança.


Alexander Whyte nos lembra que não existe temperamento ruim. Todos os temperamentos são dons de Deus, mas, mesmo assim, todos precisam ser redimidos. O segredo está em conhecer a si mesmo, identificar as próprias tendências e lutar espiritualmente para glorificar a Deus com o que somos. Nas palavras do autor, Deus nos colocou numa “hospedaria”. Os temperamentos são “a pele da alma, a hospedaria em que nossa alma habita no presente”. Portanto, cabe a nós cultivá-la como terreno fértil. Com a ajuda do Espírito Santo, podemos transformar a fraqueza em força, as paixões em frutos e os temperamentos em instrumentos úteis para o reino de Cristo.

 

Vou compartilhar com vocês uma história engraçada e perigosa que aconteceu comigo há alguns poucos anos. Até hoje essa história me faz rir quando penso nela, mas no final das contas, até rendeu uma liçãozinha valiosa.

Tudo aconteceu num posto de gasolina. Era uma bela manhã de domingo, próximo ao horário do almoço. Eu tinha acabado de sair do culto e decidi que era hora de abastecer o carro. Cheguei ao posto de gasolina e, para minha surpresa, me deparei com uma fila interminável de carros esperando para encher o tanque. Pensei comigo mesmo: "Poxa vida, isso vai levar uma eternidade!".

Mas aí percebi que todos os carros estavam muito próximos da calçada, quase encostando nela, e pensei: "Ué, será que eles estão estacionados?". Pois bem, sem muita reflexão, passei pelo lado dos carros, furei a fila como se fosse um ninja automobilístico e parei diretamente na bomba de combustível.

Mas, como nem tudo são flores, aí veio o problema. Assim que desliguei o carro, comecei a ouvir um cara me xingando: "Folgado!", "Sem vergonha!"... Eita, o bicho pegou! Levei alguns segundos para perceber que ele estava se referindo a mim. Fiquei meio sem graça, mas decidi investigar a situação.

Então, desci do carro, caminhei em direção ao sujeito exaltado e perguntei com a maior naturalidade: “Você está falando comigo?". O cara continuou resmungando, parecendo pronto para explodir. Daí eu expliquei a minha confusão, que tinha achado que os carros estavam estacionados e não percebi que era uma fila. Pedi desculpas sinceras a ele.

Em seguida, eu disse que ele não deveria sair por aí xingando desconhecidos e, numa tentativa de colocar panos quentes, eu soltei uma frase: "Afinal, você não sabe o que eu tenho aqui". O cara ficou pálido, amarelo e branco ao mesmo tempo. Começou a gaguejar e olhar fixamente para o chão, como se esperasse o pior.

Com isso, eu queria dizer que ele não conhece as pessoas e que deveria tomar cuidado com o que diz para os outros. Mas o maluco interpretou de forma completamente diferente! O cara achou que eu estava com uma arma na cintura! Foi um mal entendido daqueles! Ele deve ter pensando que eu era um louco perigoso.

Eu poderia ter esclarecido a situação e ter deixado claro que eu não estava armado, mas, confesso, foi tão engraçado ver a expressão de medo no rosto do cara “nervosinho” que decidi deixá-lo com suas suposições. Então, voltei calmamente para o carro e fui embora do posto. O sujeito continuava lá, sem nem mesmo erguer os olhos para me encarar. Eu devo ter parecido um verdadeiro vilão de filme. Confesso que dei uma risadinha abafada por dentro enquanto me afastava, imaginando a cara de confusão e o alívio misturado com constrangimento do pobre coitado.

E sabe de uma coisa? Essa história toda me fez pensar numa lição bem simples, mas importante. Às vezes, a gente se depara com situações confusas e acaba agindo de forma impulsiva, sem pensar nas consequências. É nessas horas que podemos criar problemas e mal entendidos.

Antes de agir, respire fundo e pense um pouquinho. Não se deixe levar pelo calor do momento. A ira é traiçoeira. É sempre melhor dar um passo atrás, avaliar a situação com clareza e, se for o caso, pedir desculpas e corrigir os próprios erros.

Ah, e claro, nunca se esqueça de que as aparências podem enganar. Uma frase mal interpretada pode criar histórias imaginárias na cabeça das pessoas. Então, seja cuidadoso com o que você diz e como você se expressa. Às vezes, uma simples palavra pode gerar um mal-entendido gigantesco. Enfim, essa foi a história engraçada que passei no posto de gasolina. Às vezes, as confusões mais bobas podem nos ensinar coisas valiosas.

 


Fabrício A. de Marque


Muitos cristãos já leram a Bíblia inteira mais de uma vez. Outros, ainda carregam esse “sonho” no coração. Eles adotam o “plano de leitura anual” para o novo ano, mas, muitas vezes, fracassam no meio do caminho e acabam abandonando a leitura, transferindo a meta para o ano seguinte. Apesar do fracasso, eles compreendem a importância da leitura diária das Escrituras. Eles têm razão. Ler diariamente a Palavra de Deus deveria ser uma prática normal do povo de Deus.

Agora, se você conseguir ler a Bíblia inteira uma vez, isso quer dizer que você cumpriu com o seu dever e, portanto, não deve lê-la de capa a capa novamente? Certa vez uma pessoa disse algo mais ou menos nesse sentido para mim: “Se você já leu a Bíblia inteira, por que vai ler de novo?” Não podemos ler a Bíblia como se a sua leitura completa fosse a linha de chegada da vida cristã.

Devemos ler a Bíblia hoje, amanhã e sempre por inúmeras razões. Destaco apenas três para refletirmos. Em primeiro lugar, somos inclinados ao esquecimento das verdades eternas. Quantos versículos você é capaz de recitar de memória? Posso afirmar que 90% dos versículos que memorizei foram fixados em minha mente através da leitura constante das Escrituras.

O salmista, por exemplo, não se esqueceu de Deus, porque ele havia guardado os mandamentos do Senhor no coração: “Lembrei-me do teu nome, ó Senhor, de noite, e observei a tua lei. Isto fiz eu, porque guardei os teus mandamentos” (Salmos 119.55-56). Não é sem razão que Deus ordena que meditemos frequentemente em Sua Lei, seja em público ou em privado (cf. Js 1.8; Ed 7.10; Sl 1.2; At 17.11; Rm 15.4).

Em segundo lugar, não existe santificação sem o conhecimento das Escrituras. É muito equivocado pensar que o crescimento espiritual pode ocorrer sem a leitura, meditação e obediência às Escrituras. O corpo físico não recebe os nutrientes necessários se apenas olharmos e cheirarmos o alimento. Precisamos consumi-los.

Semelhantemente, ninguém cresce em santificação por ter uma Bíblia em casa ou por carregá-la debaixo do braço. Precisamos ler a Bíblia e aplicá-la em nossa vida. A Bíblia aberta e lida é a boca de Deus aberta trazendo conselhos, orientações e repreensões para nós. Embora o conhecimento bíblico sem a obediência seja algo terrível, não podemos ignorar o fato de que a obediência sem o conhecimento da Bíblia é algo impossível de existir.

Por fim, em terceiro lugar, Deus quer ser amado com o nosso pensamento: Jesus deixou isso claro: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento” (Mateus 22.37). Não temos a liberdade de pensar sobre Deus por nós mesmos, ou seja, não podemos pensar o que achamos ser o correto (“Deus deveria ser assim”, “Esse preceito aqui não faz muito sentido”, etc.).

Deus revelou o que deve ocupar o nosso pensamento. Ele determinou o que devemos pensar e, quando pensamos de acordo com a Sua vontade revelada, estamos O amando. Sendo assim, quando você terminar a leitura da Bíblia, recomece. Leia em uma versão, depois em outra e mais outra. Você não ficará de “saco cheio”, a menos que leia com a motivação errada. Precisamos entender que a Bíblia não é um livro como qualquer outro. A Bíblia é diferente e fascinante!

 

Fabrício A. de Marque

 

Hoje pela manhã, bem cedinho, eu lia as Escrituras, como faço diariamente no mesmo horário. O dia estava bem agradável: sábado nublado, silêncio ao redor, temperatura agradável e café quentinho ao lado. Estava lendo o livro de Números, o quarto livro da Bíblia, escrito por Moisés. Um dos capítulos que li nessa manhã foi o famoso episódio que ocorreu em Baal-Peor (cf. Números 25). 

Você se lembra do que aconteceu? Vou resumir a história: os homens de Israel se envolveram sexualmente com as mulheres moabitas, o que era algo abominável ao Senhor. Como resultado desse envolvimento, os homens de Israel, à convite dessas mulheres, participaram das festas idólatras e adoraram os deuses de Moabe. Eles prestaram culto ao deus Baal. Isso aconteceu no lugar chamado Peor. Daí a expressão Baal-Peor.

Irado com a atitude dos homens de Israel, Deus enviou uma severa praga sobre a comunidade, resultando na morte de 24 mil pessoas. A praga cessou somente depois que Fineias (neto de Arão) cravou uma lança no estômago de um israelita e de uma midianita, pois esse israelita havia levado uma mulher midianita para dentro de sua tenda. A atitude de Fineias expiou o pecado da comunidade e demonstrou, ao mesmo tempo, zelo pela santidade de Deus.

Enquanto lia essa narrativa, um detalhe aparentemente irrelevante me chamou a atenção. O texto diz que 24 mil pessoas morreram como resultado da praga. No entanto, o apóstolo Paulo, ao fazer menção de uma história do AT, disse que 23 mil pessoas morreram. Veja: “E não devemos praticar a imoralidade sexual, como alguns deles praticaram, e morreram 23 mil pessoas num só dia.” (1 Coríntios 10.8). Diante disso, fica a pergunta: morreram 24 ou 23 mil pessoas no episódio de Baal-Peor?

Quem registrou a quantidade de mortos corretamente: Moisés ou Paulo? Se um acertou, então quer dizer que o outro errou? Se um deles errou, então a Bíblia possui um registro equivocado e contraditório? Se sim, como a Bíblia pode ser a Palavra de Deus? Eu quero estimular a sua reflexão, porque alguns céticos tentam refutar a Bíblia usando esse tipo de “pegadinha”. Eles pegam detalhes do texto e montam um cenário de aparente contradição nas Escrituras.

Vamos resolver esse problema? É simples. Quantas pessoas morreram no episódio de Baal-Peor: 24 ou 23 mil? Essa pergunta pressupõe que Paulo estava se referindo ao mesmo episódio de Números 25. Isso não é verdade. Paulo estava se referindo ao episódio do bezerro de ouro de Êxodo 32. Deus puniu o povo de Israel por causa da idolatria. Você pode abrir a sua Bíblia e comparar 1Coríntios 10.7 com Êxodo 32.6. Paulo cita literalmente o texto de Moisés.

Moisés não apresenta o número de mortos no episódio do bezerro de ouro, mas Paulo traz esse dado como informação extra pra nós. Sendo assim, em Baal-Peor 24 mil pessoas morreram, e na ocasião do bezerro de ouro 23 mil pessoas morreram. Paulo cita o segundo acontecimento, e não o primeiro. Simples, não acha? Infelizmente, porém, às vezes os céticos conseguem silenciar alguns cristãos com esse tipo de “armadilha”. Não permita que isso aconteça!

Quando você estiver lendo a Bíblia e encontrar algo aparentemente contraditório, anote, pesquise e procure a solução para o problema. Não é errado ter dúvidas. Errado é ficar indiferente à dúvida, pois isso pode abrir a porta para a incredulidade. Lembre-se de que a Palavra de Deus é perfeita em cada afirmação. Não há contradição entre os escritores bíblicos. Afinal, eles foram inspirados por Deus e Deus não é contraditório.

 

Fabrício A. de Marque

 

Fico impressionado com a tolice de algumas pessoas. Ao invés de corrigir os seus desvios de caráter, preferem justificar a sua postura reprovável e colocar a culpa de seus pecados nas outras pessoas ou nas circunstâncias da vida. Quem age assim, provoca a ira de Deus e coloca-se debaixo de Seu julgamento.

Pense, por exemplo, em uma pessoa “casca grossa”, difícil de lidar. Sabemos que, em certo sentido, todos nós, sem exceção, somos pessoas difíceis. Afinal, somos pecadores por natureza, e pecadores são problemáticos. Todavia, não me refiro à pecaminosidade humana que é comum a todos, mas sim, à arrogância de algumas pessoas que humilham o próximo sob o argumento de que “eu sou assim mesmo”.

Convenhamos que o respeito, a educação e a ética são qualidades que todos podem cultivar, seja cristão ou incrédulo. Um ímpio pode ter uma vida eticamente exemplar em casa, no trabalho e na vizinhança. Isso porque, a despeito de ser destituído da glória de Deus, o ímpio ainda carrega a imagem e semelhança do Senhor em sua essência. É por isso que os incrédulos concordam conosco em relação a várias posturas éticas e morais.

Assim sendo, quando lidamos com pessoas estúpidas e desrespeitosas, estamos diante de pessoas que se acham melhores do que as outras. Dentre os ímpios, esse é um dos piores tipos. Se você questioná-lo: “Você não tem respeito pelos outros?”, ele vai dizer: “Esse é o meu jeito e não vou mudar por causa dos outros. As pessoas têm que me aceitar do jeito que eu sou!”. Pobre ignorante! De onde essa pessoa tirou a ideia de que todos têm que aceitar o seu jeito de ser?

O problema não é que as pessoas não aceitam o jeito dela. O problema é justamente o jeito dela! Percebe o jogo? As pessoas que não querem mudar transferem a responsabilidade sobre os outros. É mais fácil culpar as pessoas do que assumir o próprio orgulho e trabalhar para mudar. Afinal, se o problema não está em mim, eu não tenho do que me arrepender.

É muito difícil corrigir pessoas assim. A Bíblia diz que “quem repreende o zombador traz afronta sobre si; e quem censura o ímpio será insultado” (Provérbios 9.7). A Palavra de Deus não está desencorajando a repreensão. O ponto é que, ao corrigir um ímpio zombador, corremos um sério risco de sermos hostilizados. Mas devemos correr esse risco.

No fim das contas, o ímpio é quem se dará mal, pois “quem teima em rejeitar a repreensão será destruído de repente sem que haja remédio” (Provérbios 29.1). O meu conselho para você é: fique longe dos zombadores. Não dê liberdade para eles. Não permita que eles tratem você de qualquer jeito. Se necessário, seja firme e enérgico. Para manter a “ordem”, precisamos de firmeza. Firmeza não é falta de amor, mas uma de suas facetas.

Se até mesmo o Senhor detesta os perversos (Pv 3.32) e derrama maldição sobre a casa deles (Pv 3.33), não vejo motivo para aplaudirmos e “passarmos a mão” em sua arrogância. Essas são palavras duras? Talvez. E quem disse que a vida cristã é repleta apenas de “palavras doces”? Há palavras duras e amargas também. Que o Senhor nos dê sabedoria e firmeza em proporções iguais.

 

Fabrício A. de Marque

 

Há uma frase, dita por Paulo Freire (1921-1997), que revela o declínio da educação brasileira: “Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”. Muitos reproduzem essa afirmação como se fosse uma verdade cristalina. Com essa afirmação, Paulo Freire quis mostrar a importância do professor respeitar o conhecimento do aluno (conhecimento de vida, de experiências, etc.) e usar isso como ponto de partida no processo de ensino.

Sem dúvida, há saberes diferentes. Mas é evidente que algumas pessoas sabem mais do que outras. Ora, compramos livros e cursos justamente por reconhecer que o autor daquele conteúdo possui algum conhecimento que não possuímos. Além disso, se não há saber mais ou saber menos, por que há escolas e universidades com professores contratados?

A verdade, porém, é que ideias desse tipo só servem para desestimular a busca pelo conhecimento. Não é à toa que muitos diplomados não possuem a devida profundidade de conhecimento. Infelizmente, em nosso país existe a “cultura do diploma”. Para muitos, ter um certificado pregado na parede é mais importante do que a aquisição e aplicação do conhecimento.

Trazendo essa realidade para o contexto teológico, percebe-se a mesma postura em muitos seminaristas em processo de formação, e até mesmo em muitos pastores que foram ordenados para o ministério sem a devida formação teológica. Eles não querem debruçar sobre os volumosos livros de teologia e aprender com profundidade.

Sabendo disso, outros se aproveitam da situação e passam a vender “carteirinha de teólogo”, “diploma de bacharel em teologia”, e assim por diante. Quem compra essas mercadorias, engana a si mesmo. Por trás do diploma, existe uma pessoa que carece da profundidade teológica que o sagrado ministério requer. E não adianta esconder a superficialidade lançando mão de uma oratória persuasiva. Várias pessoas percebem quando alguém conhece bem ou não determinado assunto.

Além de enganar a si mesmo, agir dessa forma também promove o engano de outras pessoas, especialmente as pessoas leigas no assunto. Via de regra, temos a tendência de dar crédito às palavras de uma pessoa “formada na área”, sem averiguar a veracidade da afirmação. Temos que examinar toda afirmação feita. Afinal, uma grande mentira pode vir de uma pessoa “diplomada” também.

Eu encorajo você a buscar uma formação superior. Eu incentivo você a ser graduado em vários níveis. Contudo, mais do que isso, precisamos zelar pelo conhecimento verdadeiro e profundo. O conhecimento é uma arma poderosa. No entanto, a ignorância também é uma arma poderosa, mas voltada na direção do mal.

Graças a Deus que o conhecimento foi democratizado. Qualquer pessoa dedicada pode ser bem informada, ainda que não tenha um diploma formal em sua parede. Apesar disso, precisamos tomar muito cuidado com as fontes que consumimos. Nem toda fonte é confiável, mas se tivermos boas referências (pessoas) ao nosso redor, então elas nos conduzirão para fontes confiáveis. Sendo assim, não busque o diploma em detrimento do conhecimento. Se possível, tenha os dois. Se não for possível, opte sempre pelo conhecimento.

 

Fabrício A. de Marque

 

Não há dúvidas de que os relacionamentos são essenciais para a vida humana. Viver sozinho pode gerar muitos problemas emocionais e psicológicos. A Bíblia, por exemplo, afirma que a solidão e a verdadeira sabedoria não podem existir juntas (Pv 18.1).

Apesar disso, ter muitos amigos não é uma possibilidade. Não estou me referindo a colegas e conhecidos, mas a amigos verdadeiros que se enquadram no padrão de Provérbios: “Como se afia o ferro com outro ferro, assim o homem afia seu amigo” (Pv 27.17).

Alguns podem objetar, dizendo: “Mas, Fabrício, não está escrito que os projetos se estabelecem na multidão de conselheiros?” É claro que sim (Pv 15.22). Todavia, quem disse que apenas os amigos podem oferecer conselhos sábios? Ora, até mesmo um vizinho, um parente distante ou um conhecido na rua podem dar conselhos sábios e enriquecedores. Esse não é o ponto.

É importante ter poucos amigos, não porque somos egoístas ou indiferentes aos relacionamentos. Ao invés disso, precisamos de poucos amigos, porque, de fato, os amigos que existem são poucos. Há pessoas com quem você pode contar em ocasiões e circunstâncias específicas. Há, por outro lado, poucas pessoas com quem você pode contar em qualquer circunstância. Esses são os amigos verdadeiros que devemos valorizar.

Os relacionamentos podem nos levar pra cima ou pra baixo. Eles podem potencializar as nossas habilidades ou simplesmente inibi-las de uma vez por todas. Em certo sentido, o seu crescimento será afetado pelas pessoas com quem você convive e confia.

Portanto, seja seletivo. Se possível, conheça várias pessoas e tenha amizade com praticamente todas elas. Isso é muito bom! Contudo, conceda acesso profundo a poucas pessoas. Tenha poucos amigos, desde que eles sejam fiéis e verdadeiros até o fim.

 

Fabrício A. de Marque

 

É biblicamente coerente casar com um incrédulo? O sentimento e o afeto em um relacionamento são mais importantes do que a fé e as convicções doutrinárias? O relacionamento entre um crente e um incrédulo pode, porventura, dar certo? Vamos refletir brevemente sobre isso. Quero destacar, antes de tudo, que minhas argumentações estão baseadas na Bíblia. Minha “opinião”, na verdade, se apoia no ensino bíblico.

Na segunda carta aos Coríntios, Paulo fala sobre o julgo desigual com os incrédulos. Ele não fala especificamente sobre o “amor entre casais”, mas sobre a participação de cristãos em práticas cultuais pagãs. Contudo, o princípio pode ser aplicado aos relacionamentos também. Paulo escreve: “Não se ponham em jugo desigual com os descrentes [...]” (2Co 6.14a). Por que essa proibição? Paulo está sendo intolerante e frio?

Nada disso! Pense comigo. O crente é chamado de “filho de Deus”, “nova criatura” e “luz” (Jo 1.12; 2Co 5.17; Ef 5.8). O incrédulo, por outro lado, é chamado de “trevas”, além de estar debaixo da ira de Deus, e não de Seu amor salvador (Ef 5.8; Jo 3.36). À luz dessa realidade, Paulo questiona: “[...]Como pode a luz conviver com as trevas? Que harmonia pode haver entre Cristo e o diabo? Como alguém que crê pode se ligar a quem não crê?” (2Co 6.14b-15).

A pergunta é retórica. Envolver-se intimamente com uma pessoa incrédula pode comprometer sua ética e sua moralidade cristã. Aliás, as más companhias corrompem o bom costume (1Co 15.33). Quando um crente se casa com um incrédulo, essa pessoa está assumindo uma companhia que lhe causará muitas dores de cabeça, a menos que Deus, por misericórdia, decida salvar o incrédulo também. Mas isso não é regra. E se Deus não salvar? A pessoa terá que carregar as consequências de sua escolha para sempre.

Imagine, por exemplo, como será a rotina dessa união. O crente diz: “Vamos ler a Bíblia e aprender mais sobre o Senhor?”. O incrédulo rebate: “Ah não! Vamos fazer outra coisa”. No domingo, o crente diz: “Hoje é dia de culto. Vamos à igreja”. O incrédulo retruca: “Pode ir você. Eu vou ficar em casa descansando”. Sem contar aquelas situações mais complicadas em que o cônjuge incrédulo proíbe o cônjuge crente de servir a Deus.

Eu citei apenas dois exemplos. Poderíamos citar outras áreas, como dinheiro, criação de filhos, etc. Com isso, eu não estou dizendo que casamentos em julgo desigual não podem ter nenhum momento de prazer e tranquilidade. É claro que podem. No entanto, os bons momentos não podem compensar as brigas e os desentendimentos gerados pela escolha errada. Haverá sempre aquele pensamento: “Eu não deveria ter entrado nesse casamento. Se arrependimento matasse...”.

Particularmente entre os jovens, eu vejo bastante precipitação. Já que o sexo antes do casamento é errado, então muitos se casam na pressa de satisfazer os seus desejos. Ainda citam a Bíblia para justificar a precipitação: “É melhor casar do que arder em desejos” (1Co 7.9). O problema é que alguns não levam em conta outros fatores de maior importância que terão repercussão de longo prazo. Esses jovens vão sentir na pele o arrependimento à medida que o tempo passar.

Por fim, é importante esclarecer que a situação que apresentei é diferente daquela situação em que uma pessoa se tornou cristã depois de casada. Sendo assim, a Bíblia não aprova a decisão de um crente se casar com um incrédulo. Por mais que justificativas sejam apresentadas, elas não podem alterar o que está escrito na Palavra de Deus. Se você começou errado e está namorando um incrédulo, não prossiga. Coloque Cristo em primeiro plano. Não permita que esse relacionamento seja um obstáculo entre você e seu Senhor.

 

Fabrício A. de Marque

Vários cristãos não cultivam a leitura regular das Escrituras. Esse fato é lamentável, pois, em outros tempos, os cristãos eram conhecidos como “o povo do Livro”. Temo que atualmente sejamos conhecidos como “o povo do movimento coaching”, “o povo da fofoca” ou algo similar. Precisamos voltar às Escrituras. Precisamos conhecer a vontade e os pensamentos de Deus que foram catalogados nos 66 livros sagrados.

Além dos cristãos que não cultivam a leitura bíblica no dia a dia, temos ainda os cristãos que leem a Bíblia de forma errada. Evidentemente, eles têm mais conhecimento bíblico do que aqueles que leem menos. No entanto, apesar dessa aparente vantagem, os versículos são lidos desordenadamente, fora do contexto. A Bíblia é transformada em uma colcha de retalhos.

Interpretar a Bíblia fora do contexto é tão perigoso quanto ficar longe dela. A razão disso é a seguinte: quando a Bíblia é interpretada de maneira errônea, atribuímos à mensagem divina um significado que Deus jamais pretendeu. Assim, colocamos palavras na boca de Deus. Inventamos preceitos que não foram revelados e criamos promessas que nunca foram feitas.

O estudioso do século XVII, Antônio Vieira, estava coberto de razão ao afirmar que, quando as palavras de Deus são proclamadas no sentido que Deus não as disse, elas se tornam em palavras do Diabo. Isso é forte, mas também é verdadeiro. Ora, quando uma pessoa distorce as nossas palavras, tal petulância causa profunda indignação em nós. Agora você imagina fazer isso com a Palavra de Deus! Só restará sérias consequências, pois o Senhor zela por Sua Palavra.

Considere algumas atitudes que mostram que vários cristãos estão lendo a Bíblia de maneira errada. A primeira atitude é escolher um versículo aleatório e ignorar os versículos anteriores e posteriores. É claro que podemos compartilhar um versículo isolado. Um versículo solto pode transmitir uma mensagem universal para todas as épocas. Isso, porém, não se aplica a qualquer versículo.  

Por exemplo, leia esse versículo isolado do contexto: “Se você já tem esposa, não procure se separar. Se não tem esposa, não procure se casar.” (1Co 7.27). Qual a impressão que esse texto transmite? Que o solteiro não deve se casar e formar uma família. Todavia, o contexto não proíbe o casamento. Ignorar o contexto da passagem implica em grave distorção das Escrituras, nos levando a quebrar o terceiro mandamento da Lei.

A segunda atitude é atribuir ao texto bíblico compreensões e pressupostos modernos. Um dos maiores desafios que enfrentamos é ler a Bíblia com os “óculos” do século primeiro. Várias palavras daquela época possuem significados específicos dentro de contextos específicos. Por isso, materiais de apoio (dicionários bíblicos, introduções bíblicas, manuais bíblicos, etc.) são indispensáveis para a correta leitura da Palavra de Deus.

Finalmente, a terceira atitude que percebo em algumas pessoas é a prática da leitura mística. Alguns dizem que o importante é ler a Bíblia, ainda que nada seja compreendido. Seguindo essa lógica, você tomaria um remédio sem compreender as orientações da bula? Sem compreensão não há transformação. Só gastaremos tempo e energia e ainda acumularemos frustrações. Portanto, elimine esses erros de sua leitura bíblica. Leia com seriedade e dedicação. Garanto que você colherá excelentes frutos!

 

Fabrício A. de Marque


 

Em seu ponto de vista, é desrespeitoso chamar de "seita" uma religião que é contrária à Bíblia? Bem, eu sei que, de modo geral, o ponto de vista das pessoas é relativo, especialmente quando se trata de gostos pessoais. Por exemplo, uma pessoa pode preferir chocolate branco, enquanto a outra pode preferir chocolate meio amargo.

Apesar dessa relatividade, o mesmo princípio não se aplica aos valores morais e aos conceitos teológicos centrais. O que estou dizendo é que há valores morais e verdades teológicas absolutas que não devem, em hipótese alguma, ser relativizados.

Recentemente, eu publiquei um vídeo em meu canal apresentando os ensinos de uma seita pouco conhecida pela maioria das pessoas. Trata-se da seita "Pastafarianismo", uma religião que simplesmente zomba de várias histórias bíblicas. Incentivo você a assistir o vídeo e ficar por dentro do assunto.

Como geralmente acontece, um membro dessa seita assistiu ao vídeo e fez um comentário. De forma irônica, ele agradeceu por eu ter divulgado o Monstro do Espaguete Voador (que é o "deus" dessa seita) e afirmou que fui desrespeitoso ao me referir à religião dele como "seita".

Será que fui desrespeitoso por afirmar isso? Será que os cristãos devem ceder ao politicamente correto e cortar certas palavras do seu "dicionário" pessoal para não "ferir" a cegueira espiritual das pessoas? Será que, em nome do falso amor e da falsa espiritualidade, devemos dar as mãos e dizer que todos os caminhos conduzem o homem a Deus? São perguntas retóricas. A resposta óbvia é "não"!

Como cristãos, que consideram seriamente a Bíblia como Palavra de Deus, devemos olhar para Jesus e aprender tanto com os Seus ensinos quanto com as Suas atitudes. Jesus sempre foi categórico em matéria de teologia. Ele não abriu espaço para conceitos errados a respeito de Deus e da salvação.

Ora, em certa ocasião, Jesus afirmou enfaticamente que ninguém pode conhecer ao Deus Pai se não for através dEle, pois Ele é o caminho, a verdade e a vida (cf. Jo 14.6). Sem contar que, em outras ocasiões, Jesus confrontou a religião farisaica de Sua época que tentava invalidar a Palavra de Deus usando a tradição humana.

Sendo assim, se qualquer segmento ou movimento religioso é contrário aos ensinos da Bíblia, então estamos diante de uma seita que deve ser combatida. Não fique emocionalmente mal pensando que você está pecando ao chamar de "seita" uma religião que é seita mesmo. Seja firme e descanse sempre na autoridade de Deus e de Sua Palavra escrita.

 

Fabrício A. de Marque

 

O que é “acaso”? Segundo o dicionário, acaso é um “acontecimento imprevisto; acidente; sequência de eventos cuja origem não depende da vontade; sorte”. Percebe-se que, de acordo com essas definições, o acaso é algo completamente impessoal.

Apesar disso, alguns tentam transformar esse conceito impessoal em algo pessoal e próximo do ser humano. Você vai se lembrar da famosa música “Epitáfio” do Titãs: “O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído...”.

Biblicamente falando, não existe acaso. Esse é um conceito pagão e desprovido de esperança. A Bíblia, por outro lado, ensina a doutrina da providência divina. Tudo o que acontece no mundo é orquestrado por Deus.

Deus pode fazer algo de maneira direta, o que é chamado de “causa primária”. Exemplo disso são os milagres. Mas às vezes Deus pode fazer algo indiretamente, o que é chamado de “causa secundária”. Nesse ponto, pense na ação de Deus através das leis da natureza, das pessoas, e assim por diante.

A doutrina da providência ensina que o controle de Deus não se limita às circunstâncias cotidianas. O controle de Deus também abrange o coração e as ações humanas. Por exemplo, Deus pode endurecer o coração daqueles que se recusam a se arrepender dos seus pecados. Um coração teimoso pode ser endurecido mais do que já está (cf. Rm 1.24-26, 28).

A doutrina da providência não deve gerar medo em nós, mas temor. Medo e temor são ideias diferentes. Se o mundo fosse governado pelo acaso, aí sim teríamos motivos para nos preocupar. Afinal, que consolo e proteção haveria numa força impessoal e indiferente ao sofrimento humano?

Sendo assim, descanse no cuidado soberano de Deus. O governo de Deus é regado com graça, amor e cuidado. Não é soberania nua e crua, sem bondade. O Senhor cuida dos animais, da vegetação, dos mares, dos pássaros e dos homens. Ele está no trono conduzindo todas as coisas conforme a Sua vontade.

 


Fabrício A. de Marque

 

Não faz muito tempo que várias igrejas evangélicas têm mudado a sua “roupa”, por assim dizer. As paredes foram pintadas de preto, o púlpito tradicional foi substituído por galões de óleo velho, etc. Esteticamente falando, várias igrejas locais estão muito parecidas com casas de show. O que podemos pensar a respeito disso?

Há pessoas que nutrem certo preconceito em relação à cor preta. Afirmam que a cor preta está ligada às trevas e ao pecado. Por isso, pintar a igreja de preto é ceder à influência do mundo. Quanto a isso, é preciso dizer que a Bíblia utiliza a expressão “trevas”, “escuridão” e outras expressões para se referir a coisas más e negativas (Is 5.20; Jo 1.5; Cl 1.13; 1Jo 2.11).

Em contraste, a Bíblia utiliza a cor branca para se referir à pureza e à santidade (Sl 51.7; Dn 7.9; Mt 28.3; Ap 20.11). No entanto, isso não significa que a Bíblia esteja ensinando que a cor preta é do Diabo e a cor branca é de Deus. Trata-se de metáforas. Todas as cores são de Deus. Ele é o Autor de todas as tonalidades que existem no universo. A cor preta não é do Diabo, assim como as cores do arco-íris não são do movimento LGBT.

Então, já que todas as cores são de Deus, as igrejas que pintam as paredes de preto devem ser imitadas? São igrejas sérias? Não necessariamente. Há igrejas sérias e igrejas falsas que pintaram as paredes de preto. Há igrejas teologicamente robustas e anãs teológicas que mudaram a aparência do prédio. A cor da parede não determina a saúde espiritual de uma igreja. Isso precisa ficar claro.

Apesar disso, é altamente provável que várias igrejas locais cederam ao modismo gospel. Querem parecer relevantes por meio da aparência “descolada”. Isso, talvez, atraia um público bem maior para suas reuniões. Outras igrejas, quem sabe, querem ser politicamente corretas. Enfim, a motivação do coração diz muito acerca das mudanças estéticas. Não conseguimos sondar as motivações. O máximo que conseguimos é analisar o ensino e os frutos produzidos por essas igrejas.

Por fim, se alguém me perguntasse se eu congregaria em uma igreja de paredes pretas e com púlpito feito de galão velho, eu diria que “depende”. Depende de vários fatores. Não me prendo a questões secundárias como paredes pretas e púlpitos descolados. Ao invés disso, preocupo-me com o ensino e com a prática da igreja. Se a igreja for doutrinariamente fiel ao evangelho, missionária, engajada e comprometida com os membros, transparente nas decisões e nas convicções teológicas, então tem todo o meu apoio e envolvimento.

Havendo essas qualidades, pode pintar a parede até de vermelho. Não vejo problema nenhum. Para encerrar, quero deixar algumas perguntas para o autoexame e reflexão: se você pertence a uma “igreja preta”, o que motivou essa mudança de cor? Você acredita que uma igreja é culturalmente mais relevante por causa das paredes pretas? Se você não gosta de paredes pretas, isso é motivo para mudar de igreja? Se a igreja é bíblica, não seria melhor você repensar sua decisão? Há motivos mais sérios para mudar de igreja local.

A mudança estética é mais relevante do que o evangelho? Se o evangelho não impactar os pecadores, nada mais impactará. Tudo será fogo de palha. A igreja está mudando a aparência devido à influência coaching? Fique atento a isso, pois, infelizmente, o foco de muitas pregações é a superação pessoal, a autoestima e a realização dos objetivos pessoais. Analise as pregações da sua igreja à luz da Palavra de Deus. Você está envolvido com o crescimento de sua igreja local? Faça isso orando, servindo e contribuindo financeiramente. Cuidado para não se tornar excessivamente crítico. Orar, servir e contribuir te ajudará a manter o equilíbrio.

 


Fabrício A. de Marque


Ao criar o ser humano, Deus o dotou de vontade e liberdade de ação. Deus criou pessoas, e não robôs programados, isto é, o Senhor criou o homem livre para escolher o bem ou o mal. Antes de pecar, o homem era inocente. Havia em seu coração o desejo e a capacidade de fazer o que é bom e agradável a Deus.

No entanto, a inocência e a capacidade de executar o bem poderiam ser perdidas. Somente o pecado poderia destruir essas qualidades (Gn 2.17). Infelizmente, foi isso que aconteceu. A ordem divina foi transgredida e o homem caiu de seu estado original (Gn 3.6; Ec 7.29).

Depois que o homem caiu em pecado, a capacidade de desejar e fazer o bem espiritual foi completamente perdida. Amar e obedecer a Deus tornaram-se qualidades impossíveis na vida humana pós-queda. Apesar dos atos de bondade e misericórdia que ocorrem pontualmente, o homem natural não age motivado pelo amor a Deus e às coisas sagradas. Afinal, “a mentalidade da natureza humana é sempre inimiga de Deus. Nunca obedeceu às leis de Deus, e nunca obedecerá” (Romanos 8.7 | NVT).

Por isso, sem Cristo, todo ser humano é espiritualmente morto e alienado de Deus (Ef 2.1, 5). Nenhuma pessoa é capaz de converter a si mesma. Ora, o que um morto pode fazer por si mesmo se ele está morto? Foi por essa razão que Jesus disse que “ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer a mim [...]” (João 6.44a | NVT).

Diante disso, qual é a solução para esse gravíssimo problema? O próprio Deus precisa ressuscitar espiritualmente o homem caído. Quando isso acontece, o homem é transferido para o estado de graça e liberto do estado de morte e de escravidão do pecado (Cl 1.13). Dessa forma, quando uma pessoa é convertida por Deus, ela é novamente capacitada a fazer e desejar o que é espiritualmente bom (Fp 2.13).

Contudo, apesar dessa obra milagrosa, o homem convertido ainda é um pecador, embora não mais escravo do pecado. Ele ainda luta contra os vestígios do pecado em seu coração. Isso significa que há uma intensa luta interior entre o bem e o mal (Rm 7.15, 18-19, 21, 23). Mas quando essa luta interior terminará? Somente no estado eterno, quando o pecado for definitivamente eliminado. Assim, nunca mais o mal existirá.

Para encerrar, consideremos algumas reflexões. Primeira, no presente mundo há muita violência, roubos, assassinatos e toda sorte de pecados. Isso porque o ser humano perdeu a capacidade de desejar e fazer o que agrada a Deus. O mal, portanto, não é resultado da mera desigualdade social, mas do pecado humano.

Segunda, uma pessoa só poderá desejar as coisas que Deus deseja se ela for regenerada pelo Espírito Santo e crer no Senhor Jesus Cristo. A boa notícia é que isso pode acontecer hoje mesmo. As portas da graça continuam abertas. O convite do evangelho continua sendo oferecido. Hoje pode ser o dia da salvação.

Por fim, ainda que a luta interior entre o bem e o mal seja real em nossa vida, um dia essa luta terminará. Melhor ainda é saber que terminaremos vitoriosos, e não derrotados. O que nos faz permanecer não é nosso desempenho espiritual, mas o poder de Deus. A segurança eterna dos santos está fundamentada na promessa infalível de Deus. Ele prometeu conduzir os Seus eleitos à glória eterna: “Toda a glória seja àquele que é poderoso para guardá-los de cair e para levá-los, com grande alegria e sem defeito, à sua presença gloriosa” (Judas 1.24 | NVT).

 


Fabrício A. de Marque