pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: Ordo Salutis
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Chegamos na última etapa da Ordem da Salvação. A glorificação é a etapa final que concluirá a nossa salvação. A glorificação acontecerá no Retorno de Jesus. Quando esse dia chegar, o nosso corpo físico será ressuscitado dos mortos e transformado por Deus. Estamos aguardando a redenção do nosso corpo (Rm 8.23). Antes da glorificação, o Senhor Jesus destruirá o último inimigo. Jesus matará a própria morte: “O último inimigo a ser destruído é a morte” (1Co 15.26).

Várias passagens do Novo Testamento ensinam a doutrina da glorificação. Há dois textos, em particular, que tratam desse assunto de modo mais abrangente. Trata-se de 1Coríntios 15 e 1Tessalonicenses 4. Além desses capítulos, outros textos também falam sobre a glorificação. Jesus falou sobre a glorificação e ressurreição em João 6, e Paulo escreveu sobre esse assunto em Romanos e Filipenses. Embora o Novo Testamento fale bastante sobre a glorificação, podemos encontrá-la no Antigo Testamento?

Pense na ressurreição (que antecede a glorificação). Alguns podem pensar que a ressurreição é uma doutrina revelada somente no Novo Testamento. No entanto, há evidências de que algumas pessoas acreditavam nessa doutrina, antes mesmo da ressurreição de Jesus. Por exemplo, depois que Lázaro morreu, Marta disse algo que deixou evidente que ela conhecia essa doutrina: “Jesus disse a ela: — O seu irmão há de ressurgir. Ao que Marta respondeu: — Eu sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia” (João 11.22-24).

Além dessa evidência, alguns textos do Antigo Testamento indicam que os crentes do passado nutriam no coração a expectativa de uma ressurreição futura. Por exemplo, o salmista sustentava a realidade de uma ressurreição: “Mas Deus remirá a minha alma do poder da morte, pois ele me tomará para si” (Salmos 49.15). Isaías também: “Os teus mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão [...]” (Isaías 26.19). Da mesma forma Jó e o profeta Daniel (Jó 19.25-26; Dn 12.2).

Contudo, a compreensão deles acerca dessa doutrina não era detalhada como a nossa, pois Deus revelou Sua Palavra progressivamente. Mas é evidente que os crentes do Antigo Testamento tinham alguma noção da etapa final da salvação. Diante do que foi falado até aqui, surge uma curiosidade: quando a Ressurreição Final acontecer, como será o nosso corpo físico? Será o mesmo corpo que temos hoje, ou será um corpo totalmente diferente? Vamos refletir brevemente sobre isso.

Em 1Coríntios 15.42-44 e 49, o apóstolo Paulo menciona algumas características do corpo humano ressurreto. Segundo o apóstolo, o nosso corpo ressuscitará: (1) incorruptível; (2) em glória; (3) em poder; e (4) será um corpo espiritual. O que significa essas características? Em primeiro lugar, “incorruptível” significa que o corpo da ressurreição não experimentará enfermidades nem poderá envelhecer. Será um corpo robusto sem as marcas do tempo.

Em segundo lugar, o nosso corpo ressuscitará “em glória”, porque não haverá nada desprezível nele. É provável que um brilho de glória resplandecente envolverá o nosso corpo depois da ressurreição. Alguns versículos parecem sugerir isso: “Então os justos resplandecerão como o sol, no Reino de seu Pai [...]” (Mateus 13.43). Daniel afirmou: “Os que forem sábios resplandecerão como o fulgor do firmamento, e os que conduzirem muitos à justiça brilharão como as estrelas, sempre e eternamente” (Daniel 12.3).

Em terceiro lugar, o nosso corpo ressuscitará “em poder”, indicando que será um corpo forte e poderoso (observe que essa característica está em contraste com “fraqueza”). Isso significa que o nosso corpo será completamente forte e capacitado para fazermos a vontade de Deus na Nova Terra restaurada. Com isso, não estou dizendo que teremos poderes sobre-humanos, mas que não teremos nenhuma limitação imposta pelo pecado e pela doença.

E em quarto lugar, o corpo da ressurreição será “espiritual”. Atenção! Isso não é o oposto de materialidade. O corpo ressurreto será literalmente físico e material. Ele será espiritual no sentido de ser elevado ao grau de perfeição que Deus originalmente o criou. Todas essas características podem ser encontradas no corpo de Jesus. Portanto, na Ressurreição Final, o nosso corpo será semelhante ao do Senhor: “[...] Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele [...]” (1João 3.2).

 

Fabrício A. de Marque

 

Existe propósito na morte física? Por que a morte atinge aqueles que foram perdoados por Deus através de Cristo Jesus? Se Deus nos perdoou, por que a morte ainda pode nos atingir? Essas perguntas podem gerar um pouco de incômodo, mas precisamos fazê-las. A Escritura Sagrada nos oferece respostas consoladoras para lidarmos com todas as questões, inclusive com a morte. Vamos refletir um pouco mais sobre isso.

Em primeiro lugar, a morte não é um castigo para os cristãos. Não podemos pensar que os crentes ainda morrem porque Deus está irado com eles. Todos os nossos pecados foram perdoados por Deus e pagos por Cristo. Não há nenhuma condenação para quem está em Cristo Jesus (Rm 8.1). Contudo, apesar disso, é possível que Deus recolha um cristão em pecado: “É por isso que há entre vocês muitos fracos e doentes e não poucos que dormem” (1 Coríntios 11.30).

Quando Deus recolhe um cristão em pecado, não se trata de condenação, mas de disciplina divina. Deus não condena um filho que foi adotado, mas certamente Ele disciplina os Seus filhos: “Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (1 Coríntios 11.32). Como Pai, Deus aplica a disciplina que Ele julgar necessária. Ele pode enviar tribulações, mas também a morte física.

Em segundo lugar, a morte é o desfecho da vida em um mundo caído e marcado pelo pecado. A nossa salvação já é uma realidade, mas ela ainda não está completa. Tudo o que Jesus conquistou na cruz ainda não é desfrutado por nós na sua plenitude. A imortalidade física, por exemplo, é uma bênção que ainda não desfrutamos. Mas só por enquanto, pois a morte é o último inimigo que Jesus derrotará: “É necessário que ele reine até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte” (1 Coríntios 15.25-26).

Assim, se alguém perguntar para você: “Por que os cristãos ainda morrem?”, você deve responder: “Porque os cristãos ainda vivem em um mundo caído”. Além da morte, também experimentamos outros efeitos negativos do pecado, como enfermidades, dores, envelhecimento, desastres naturais, etc. Por vezes, pedimos a Deus livramento dessas consequências, e Ele nos livra. Todavia, às vezes Ele decide não nos livrar. De qualquer maneira, sabemos que todos esses males serão completamente eliminados na eternidade.

Em terceiro lugar, Deus usa a experiência da morte para completar a nossa santificação. Todo sofrimento pelo qual passamos contribui para a nossa santificação. De fato, buscamos mais santificação quando o sofrimento chega. Mas não pense que todo sofrimento que nos acomete é fruto de algum pecado pessoal que supostamente praticamos. A maior prova de que o sofrimento nem sempre tem a ver com algum pecado praticado, é o fato de Jesus ter sofrido também. Ele sofreu, mas nunca pecou!

O mal nos atinge pelo fato de vivermos em um mundo corrompido pelo pecado. Apesar disso, sabemos que todas as coisas cooperam para o nosso bem. Quando a morte física chegar, a nossa santificação será, finalmente, completada. Dessa forma, glorificaremos a Deus por meio da nossa morte: “Minha ardente expectativa e esperança é que em nada serei envergonhado, mas que, com toda a ousadia, como sempre, também agora, Cristo será engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte” (Filipenses 1.20).

Em quarto lugar, a morte completará a nossa união com Cristo. A razão pela qual Deus não nos leva para o céu imediatamente depois do novo nascimento, é porque Ele quer que imitemos Jesus também na morte. Assim como Jesus passou pela experiência de morte, nós também devemos passar: “Porque para isto mesmo vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando exemplo para que vocês sigam os seus passos” (1 Pedro 2.21; 4.13; Fp 3.10-11).

Por fim, a obediência a Deus é mais importante do que a preservação da nossa vida. Permanecer fiel a Cristo poderá custar alguns privilégios, alguns direitos ou a nossa própria vida. Mas isso não deve nos perturbar. Temos uma esperança que o mundo não tem. O próprio Deus garantiu que estaremos com Ele quando as luzes se apagarem do lado de cá.


Fabrício A. de Marque

 

Uma das perguntas mais polêmicas do universo teológico é a seguinte: os cristãos verdadeiros podem perder a salvação? Muitos acreditam que ser salvo hoje não é garantia de salvação amanhã. Se estamos salvos hoje e morrêssemos hoje, aí sim iríamos para o céu. No entanto, se amanhã cometêssemos algum pecado e morrêssemos sem confessá-lo, certamente iríamos para o inferno. Será que esse pensamento procede da Escritura Sagrada?

A doutrina da perseverança dos santos pode ser definida com as seguintes palavras: “Pela perseverança dos santos, todos aqueles que verdadeiramente nasceram de novo serão guardados pelo poder de Deus e perseverarão como cristãos até o final da vida, e só aqueles que perseverarem até o fim realmente nasceram de novo” [1]. Observe dois aspectos importantes nessa definição: (1) primeiro, é dito que o poder de Deus garante a perseverança dos crentes; e (2) segundo, é dito que a perseverança na fé é a evidência de que uma pessoa nasceu de novo. 

Em outras palavras, quem não persevera, não nasceu de novo. Vamos considerar mais a fundo o primeiro aspecto. O poder de Deus garante a nossa perseverança. Isso não é incrível? Você só continua firme na fé, porque Deus te sustenta. Caso contrário, você estaria longe da fé, muito mais longe do que é capaz de imaginar.

Deus, o Pai, confiou muitas ovelhas a Jesus. Jesus cuida de todas elas e não perderá sequer uma ovelha do rebanho. Ele ainda garante que Suas ovelhas serão ressuscitadas no último dia: “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia” (João 6.38-39). O texto está falando de uma certeza, e não de uma possibilidade apenas. É o poder de Deus que nos faz permanecer firmes.

O apóstolo Pedro disse: “[Vocês] são guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para ser revelada no último tempo” (1 Pedro 1.5). O poder de Deus guarda a nossa vida da apostasia. O poder de Deus sustenta a nossa fé. Assim, pelo poder de Deus atuando através da fé, perseveramos no caminho estreito. O poder de Deus e a nossa fé atuam ao mesmo tempo durante a caminhada cristã.

Consideremos agora o segundo aspecto da definição. Nós estamos em Cristo realmente? Será que não estamos equivocados, pensando que somos salvos? É possível saber se somos de Deus ou não? A resposta é sim. Há muitos sinais que demonstram se estamos em Cristo ou não. A perseverança é apenas um deles. Quando uma pessoa deixa de perseverar e abandona o Senhor, o que aconteceu com ela? Ela perdeu a salvação, ela está temporariamente desviada, ou ela nunca foi salva?

As duas últimas opções são as únicas plausíveis. É possível que alguém se desvie temporariamente da fé. Digo “temporariamente”, porque o filho verdadeiro sempre retorna ao lar. Todavia, se o desviado nunca mais retornar, na verdade ele nunca foi salvo, embora estivesse envolvido com as coisas de Deus. A perseverança é um dos frutos da verdadeira salvação. É verdade que a Bíblia adverte os crentes quanto ao perigo de abandonarem o evangelho: “Tenham cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha um coração mau e descrente, que se afaste do Deus vivo” (Hebreus 3.12).

Todavia, não devemos usar esse versículo para ameaçar as pessoas, dizendo: “Se você se afastar de Deus, você vai perder a sua salvação”. O objetivo dessa advertência não é ameaçar os verdadeiros crentes, mas alertar aqueles que pensam que são verdadeiros crentes. Algumas pessoas pensam que nasceram de novo, mas, de repente, elas abandonam tudo e voltam para a vida de pecado. Elas não perderam a suposta salvação. Elas só deixaram evidente que nunca foram salvas de verdade, pois o salvo de verdade persevera na fé (1Jo 2.19).

Para concluir, deixo algumas perguntas para nossa reflexão: temos perseverado na fé bíblica? Apesar das dificuldades e lutas, continuamos firmes nos caminhos do Senhor? Buscamos forças no poder de Deus para sermos perseverantes? Oro para que a nossa resposta seja sim.

 

“Cristãos temporários não são cristãos. Quem quer tirar férias desse serviço divino, jamais entrou nele” (C. H. Spurgeon)

 


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Notas:

[1] GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática: Atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 1999. p. 659.

 

 

Fabrício A. de Marque

 

Você é santo? Você sabe o que é santificação? É possível viver em santidade? Ouvimos, com frequência, a palavra santificação. Pregadores declaram que a vida do cristão deve ser marcada pela santidade, e eles estão cobertos de razão. O problema, porém, é que o conceito bíblico de santificação nem sempre é explicado adequadamente. Como resultado, muitas distorções surgem em nossa mente, e isso produz ideias que não têm fundamento na Palavra de Deus.

Podemos definir santificação com as seguintes palavras: “Santificação é uma obra progressiva da parte de Deus e do homem que nos torna cada vez mais livres do pecado e semelhantes a Cristo em nossa vida presente” [1]. Um dos aspectos mais importantes da santificação é que ela continua por toda a vida. É por isso que o Novo Testamento enfatiza a importância de lutarmos contra a carne, a terrível vilã que milita contra o Espírito.

Bem, se a santificação continua por toda a vida, isso significa que ela tem um início. Onde começa o processo de santificação? Tudo começa no novo nascimento [2]. Quando nascemos de novo, ocorre uma mudança radical em nosso ser. A Bíblia chama isso de “[...] lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tito 3.5). Nesse estágio inicial da santificação, Deus remove a culpa imposta pelo pecado e transforma o nosso coração.

O segundo estágio da santificação é o mais longo de todo o processo. Ele dura a vida toda. Se, depois do novo nascimento, Deus permitir que você viva 30 anos, então sua santificação durará 30 anos. Nesse sentido, a santificação é progressiva. Nesse estágio, Deus remove o domínio que o pecado exercia sobre nós (Rm 6.14). Pelo poder de Deus, abandonamos os pecados que faziam parte da nossa velha vida. Essa mudança moral impede que continuemos vivendo na prática do pecado: “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado, porque nele permanece a semente divina; esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1 João 3.9).

Jamais podemos afirmar que é impossível vencer determinado pecado. Dizer isso, é admitir que o pecado ainda tem domínio sobre nós. E isso não é verdade, porque fomos libertos do domínio do pecado. Há pecados mais difíceis de serem vencidos do que outros, mas nenhum pecado é maior que o poder de Deus.

Os meios de graça, como a leitura bíblica e a oração, por exemplo, são praticados nessa segunda etapa da santificação: “Sejam praticantes da palavra e não somente ouvintes [...]” (Tiago 1.22). Quando você pratica a Palavra de Deus, você está progredindo em sua santidade. Vários pecados estão sendo deixados pelo caminho à medida que andamos com o Senhor. Embora haja muitos pecados em nós, sem dúvida é bem menos do que havia no comecinho da vida cristã. Se não for assim, precisamos examinar a nossa vida.

O terceiro e último estágio da santificação será concretizado no Retorno de Cristo. Quando um cristão morre, o corpo e a alma se separam. O corpo vai para o túmulo, e a alma vai para a presença de Deus. Lá no céu, a alma é completamente aperfeiçoada e purificada de todo pecado. O corpo também será purificado de todo pecado, mas isso vai acontecer somente quando Jesus retornar. Assim, no Retorno de Cristo, o nosso corpo será ressuscitado, transformado e unido novamente à alma. Nesse estágio, Deus removerá para sempre a presença do pecado.

Para concluir, é importante dizer que a santificação jamais será perfeita durante essa vida. No meio cristão, existe uma visão equivocada de santificação, chamada de “perfeição cristã”, “perfeccionismo” ou “total santificação”. O criador dessa visão foi John Wesley (1703—1791). Essa linha ensina que é possível atingirmos a santidade completa nesta terra, antes da glorificação final. À medida que crescemos, é possível chegar num patamar de crescimento em que não pecamos mais. Essa teoria está longe da verdade e devemos descartá-la.

Assim, a santificação possui três estágios. Ela começa no novo nascimento (Deus remove a culpa do pecado). Ela se desenvolve durante a vida cristã, pois é progressiva (Deus remove o domínio do pecado). Por fim, ela será perfeita no Retorno de Cristo (Deus removerá a presença do pecado). Ansiamos por esse glorioso dia!


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Notas:

[1] GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática: Atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 1999. p. 622.

[2] Ou regeneração, se preferir.

 


Fabrício A. de Marque

 

Se você é cristão, então você é membro da família de Deus. Deus te adotou e te concedeu privilégios maravilhosos. Se Deus quisesse apenas perdoar os seus pecados, sem necessariamente adotá-lo como filho, Ele poderia fazê-lo. Todavia, Deus foi além do perdão dos pecados, demonstrando ainda mais a Sua bondade para com aqueles que recebem o Seu Filho Jesus.

No novo nascimento, recebemos vida espiritual em nosso interior (regeneração). Na justificação, recebemos o direito legal de estar diante de Deus sem qualquer acusação. Mas na adoção, Deus nos fez membros de Sua família. Por isso, a adoção fala especificamente de nossa comunhão com Deus e com o Seu povo eleito.

A adoção faz de todos os crentes membros da mesma família. A adoção é uma bênção dada por Deus na Nova Aliança. É claro que na dispensação da Antiga Aliança havia a consciência de que Deus era o Pai dos crentes. No entanto, os privilégios e benefícios plenos foram dados no período da Nova Aliança, isto é, depois da vinda de Jesus e do envio do Espírito Santo.

A adoção é uma bênção tão incrível, que vemos o apóstolo João maravilhado ao refletir sobre isso: Vejam que grande amor o Pai nos tem concedido, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porque não o conheceu” (1 João 3.1).

Mas, afinal, quais são os benefícios que podemos desfrutar como filhos adotados por Deus? Em primeiro lugar, podemos chamar o Deus Todo-Poderoso de “Pai”. Jesus nos ensinou a orar dessa maneira: Pai nosso que estás nos céus” (Mateus 6.9). Chamar Deus de “Pai” significa que não somos mais escravos do pecado, mas filhos de Deus. Como filhos, temos a garantia de que Deus suprirá cada necessidade básica da nossa vida.

Em segundo lugar, temos o privilégio de sermos guiados pelo Espírito Santo. O Espírito Santo coloca em nós o desejo de fazer a vontade de Deus. Isso produz disposição para mortificar a carne e viver em santidade. Em terceiro lugar, temos o privilégio de sermos disciplinados. Isso pode parecer ruim, porém, devemos nos lembrar de que Deus não disciplina os filhos deste mundo, porque o Senhor não é o Pai deles.

A disciplina, embora dolorosa, não é um privilégio de todas as pessoas. Somente os filhos de Deus são disciplinados por Deus. Deus age assim para o nosso bem, e não para o nosso mal. Da mesma forma que os pais corrigem os filhos quando eles fazem algo indevido, Deus também disciplina aqueles que Ele adotou. Leia Hebreus 12.5-6 para compreender melhor o papel da disciplina divina.

Em quarto e último lugar, temos o privilégio de nos relacionar mutuamente com a comunidade redimida. Os crentes fazem parte da mesma família espiritual. Chamamos uns aos outros de “irmãos”, porque, afinal, temos o mesmo Pai que é Deus. Já que somos irmãos, deveríamos cultivar a cooperação, e não a competição. Deveríamos, também, acolher com mais prontidão uns aos outros, principalmente aqueles que estão chegando agora na família de Deus.

Portanto, a adoção é uma bênção “extra” que Deus nos concedeu. Poderíamos não ser adotados, mas Deus escolheu nos adotar, porque, como Pai Amoroso, o Senhor quer que tenhamos comunhão profunda com Ele da mesma forma que um filho se relaciona intimamente com o seu pai terreno.

 


Fabrício A. de Marque


 


Como um pecador pode estar diante de Deus sem qualquer culpa? Seria isso possível? Sim, isso é possível. Antes de falarmos sobre esse tema, vamos definir o que é justificação: “Justificação é um ato instantâneo e legal da parte de Deus pelo qual ele (1) considera os nossos pecados perdoados e a justiça de Cristo como pertencente a nós e (2) declara-nos justos à vista dele” (Grudem, p. 603). Quando acontece a justificação? A justificação acontece depois da fé salvadora.

Primeiro cremos em Cristo e, então, somos justificados por Deus. Em outras palavras, cremos para ser justificados. Vários versículos mostram que a justificação procede da fé: “[...] o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Jesus Cristo [...]” (Gl 2.16; cf. Rm 2.26, 28; 5.1). Quando Deus justifica alguém, não significa que a pessoa se torna moralmente boa por dentro. A justificação é uma declaração de inocência. Trata-se, portanto, de uma declaração legal e forense.

Pelo fato de crermos em Jesus, Deus olha para nós como inocentes, porque a nossa culpa foi paga por Jesus. Sendo assim, a justificação é totalmente diferente da regeneração. John Murray (1898—1975) explica da seguinte forma: “Regeneração é um ato de Deus em nós; justificação é um julgamento de Deus a nosso respeito. A distinção é como a diferença entre o ato de um cirurgião e o ato de um juiz”. Além de nos declarar justos à Sua vista, Deus também declara que a justiça de Cristo nos pertence.

Isso significa que todos os méritos da obediência de Jesus foram transferidos para nós, como se nós tivéssemos obedecido a Lei de Deus perfeitamente: “Mas, agora, sem lei, a justiça de Deus se manifestou, sendo testemunhada pela Lei e pelos Profetas. É a justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem. Porque não há distinção” (Rm 3.21-22).

Pela fé, a justiça de Cristo é creditada em nossa conta. O próprio Abraão creu e foi declarado justo por Deus: “Pois o que diz a Escritura? Ela diz: ‘Abraão creu em Deus, e isso lhe foi atribuído para justiça’.” (Rm 4.3; cf. Gn 15.6). Abraão foi justificado pela fé, e não pelas obras. Todo aquele que crê em Jesus recebe o dom da justiça: “Se a morte reinou pela ofensa de um e por meio de um só, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo” (Rm 5.17).

A Igreja Católica Romana entende a justificação de uma forma diferente. Conforme afirmei, a justificação é uma declaração de Deus. Ela não nos transforma interiormente. Os católicos, por outro lado, afirmam que a justificação nos torna mais santos por dentro. O problema é que a justificação católica não ocorre somente pela fé. Certo teólogo católico chegou a dizer que a fé sozinha não é suficiente para receber o perdão dos pecados. A fé precisa aceitar o conteúdo do ensino da Igreja Católica. Isso é chamado de “fé teológica ou dogmática”.

Na visão católica, a justificação não tem a ver com a justiça que é imputada em nós pela fé. Eles creem na justiça infundida, que é uma justiça que Deus realmente coloca em nós. Todavia, essa justiça não nos dá a certeza da salvação. A justiça infundida capacita o homem a praticar boas obras. À medida que o homem pratica boas obras, Deus o justifica aos poucos, gradualmente. Neste sentindo, a justificação tem graus diferentes em cada pessoa (uma compreensão completamente diferente do Protestantismo).

O resultado deste entendimento católico é que a salvação não é unicamente pela graça, mas sim, pela junção de obras humanas mais graça divina. O teólogo católico Ludwig Ott (1906—1985) deixou isso bem claro: “Porque a vida eterna justificada é tanto uma dádiva da graça prometida por Deus quanto uma recompensa por suas próprias obras e méritos [...]. Obras salutares são, ao mesmo tempo, dádivas de Deus e atos meritórios do homem”.

Entretanto, a fé é um dom que recebemos de Deus. A justificação não é uma espécie de prêmio de recompensa. A fé é o instrumento por meio do qual o Senhor nos justifica. Ele escolheu esse meio, porque a fé é o oposto da autoconfiança (obras). É impossível confiar em Cristo para a salvação e, ao mesmo tempo, imaginar que as próprias obras possam, de alguma forma, conquistar a justificação de Deus.


Fabrício A. de Marque 

A palavra conversão transmite a ideia de mudança de direção. O pecador convertido volta-se do pecado em direção a Cristo. A atitude de voltar-se do pecado é chamada arrependimento. E o ato de voltar-se em direção à Pessoa de Cristo é chamado . Assim, o arrependimento e a fé são os dois componentes da conversão e ambos sempre operam juntos. Para fins didáticos, primeiro falarei sobre a fé, e depois sobre o arrependimento.

A fé salvadora inclui conhecimento, aprovação e confiança pessoal em Cristo. Os três elementos precisam existir juntos. O conhecimento isolado não é suficiente. É claro que precisamos saber quem Cristo é, e o que Ele fez por nós. No entanto, conhecer os fatos a respeito de Jesus não basta. Uma pessoa pode conhecer os fatos sobre Cristo e, mesmo assim, rejeitá-lo: “Você crê que Deus é um só? Faz muito bem! Até os demônios creem e tremem” (Tg 2.19).

A aprovação é o segundo elemento necessário, mas igualmente insuficiente. A aprovação diz respeito à aceitação dos fatos sobre Jesus. Uma pessoa pode conhecer o conteúdo bíblico, concordar com o que está escrito e, mesmo assim, não ser salva. O rei Agripa é um exemplo disto: “Por isso, pergunto: Rei Agripa, o senhor acredita nos profetas? Eu sei que o senhor acredita. Então Agripa se dirigiu a Paulo e disse: Por pouco você me convence a me tornar cristão” (At 26.27-28).

O terceiro elemento é a confiança pessoal. A confiança pessoal deve existir junto com os outros elementos (conhecimento e aprovação). A salvação só é real quando os três elementos da fé salvadora estão presentes em alguém. Só assim uma pessoa receberá Jesus de maneira genuína: “Mas, a todos quantos o receberam [confiança pessoal], deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome” (Jo 1.12).

Agora consideremos o verdadeiro arrependimento. Assim como a fé possui três elementos, o arrependimento também. São eles: (1) entendimento correto sobre o que é o pecado; (2) tristeza e aversão ao pecado e (3) decisão de abandonar o pecado. Essas características nascem no pecador por obra do Espírito Santo. O homem natural (sem Cristo) não possui essas marcas espirituais em seu coração (1Co 2.14).

Vale destacar que nem toda tristeza indica arrependimento verdadeiro. A Bíblia fala de dois tipos de tristezas: 1) a tristeza segundo Deus, que produz vida e 2) a tristeza segundo o mundo, que produz morte (também conhecida como remorso): “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte” (2Co 7.10).

A tristeza segundo Deus (verdadeiro arrependimento) chora por causa do pecado cometido contra Deus. Reconhece a gravidade da ofensa e a grandiosidade do Ofendido. Por outro lado, a tristeza segundo o mundo (remorso) chora por causa das consequências colhidas. Sente angústia porque se deu mal, e não porque praticou o mal. Uma pessoa flagrada em seu pecado habitual pode chorar e até dizer que nunca mais fará aquilo de novo. Contudo, ela não diria isso se nunca fosse flagrada.

Por fim, é importante dizer que a fé e o arrependimento ocorrem no início da vida cristã, mas devem continuar por toda a vida cristã. Paulo disse: “[...] já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. E esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus [...]” (Gl 2.20). Jesus disse aos crentes de Laodiceia: “[...] seja zeloso e arrependa-se” (Ap 3.19).

Quando cometermos algum pecado, devemos nos arrepender e, pela fé, confessarmos ao Senhor (1Jo 1.9). Quando passarmos por dificuldades no cotidiano, precisamos confiar no cuidado e na provisão do Senhor. De fato, a fé e o arrependimento são evidências irrefutáveis da verdadeira conversão a Cristo.

 

 

Fabrício A. de Marque



O teólogo reformado Wayne Grudem definiu o conceito teológico de regeneração com as seguintes palavras: “Regeneração é um ato secreto de Deus pelo qual ele nos concede nova vida espiritual” (Teologia Sistemática, p. 584). Usando a linguagem bíblica, a regeneração também é chamada de “nascer de novo” (Jo 3.3). Conforme a sequência lógica da Ordem da Salvação, a regeneração ocorre após a eleição e após o chamado eficaz do Espírito Santo.

É preciso estabelecer que a regeneração é uma obra exclusiva de Deus. O nascimento biológico ilustra bem este ponto. Nenhuma pessoa em todo o planeta pediu para nascer biologicamente. Ela nasceu porque Deus quis que ela nascesse. Semelhantemente, nenhuma pessoa escolhe nascer espiritualmente, pois ela está morta em delitos e pecados. Por isso, Deus lhe dá vida soberanamente, segundo o Seu beneplácito.

Observe como a Bíblia é clara quanto a isso: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.12-13).

Além do mais, a regeneração é uma obra misteriosa de Deus. Ninguém é capaz de prever este acontecimento: “O vento sopra onde quer, você ouve o barulho que ele faz, mas não sabe de onde ele vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (Jo 3.8).

Afirmar que a regeneração é uma obra exclusiva de Deus traz outra implicação muito importante. O que vem primeiro: a fé salvífica ou a regeneração? Colocando em outras palavras: primeiro cremos e depois somos regenerados ou primeiro somos regenerados e depois cremos? A fé é a causa ou o efeito da regeneração?

Visto que ninguém pode ir a Cristo se isso não for concedido pelo Pai (Jo 6.65), e uma vez que recebemos vida quando ainda estávamos mortos em pecados (Cl 2.13), cremos que a regeneração acontece primeiro. Neste sentido, a fé salvífica é o primeiro fruto do novo nascimento. A fé em Cristo para a salvação é a primeira evidência de que uma pessoa nasceu de novo. A fé salvífica é o primeiro fruto, mas não é o único fruto.

Após ser transformado, o homem regenerado é introduzido na obra da santificação. É durante esse processo que os demais frutos serão desenvolvidos. Podemos mencionar, por exemplo, a vitória sobre o pecado (1Jo 3.9), a vitória sobre o mundo (1Jo 5.4), o amor genuíno (1Jo 4.7) e as várias qualidades de caráter listadas por Paulo (Gl 5.22).

Portanto, a salvação inteiramente pela graça deve excluir qualquer contribuição humana. É o maior milagre que uma pessoa pode receber de Deus. Sem dúvida, é superior a qualquer outro milagre. Assim, encerro esta reflexão com as palavras do teólogo Iain H. Murray: “Somos incapazes de contribuir para nossa regeneração tanto quanto de contribuir na obra do Calvário”.



Fabrício A. de Marque


No texto anterior, falei sobre a primeira etapa da Ordem da Salvação: a eleição. Seguindo a sequência lógica dos eventos redentores, agora falarei sobre o Chamado do Evangelho. Paulo escreveu sobre essas etapas: “E aos que predestinou, a esses também chamou [...]” (Rm 8.30). Depois de eleger, Deus Pai chama o eleito à salvação.

Nas Escrituras, há dois tipos de chamados: (1) o chamado geral e (2) o chamado particular. Os teólogos podem utilizar outras palavras para se referir a esses chamados. Às vezes, o chamado geral também é intitulado de “chamado externo e o chamado particular pode receber o nome de “chamado interno ou “chamado eficaz. A diferença básica é que o chamado geral é proclamado a todas as pessoas sem exceção. Já o chamado particular é efetuado somente nos eleitos de Deus.

João Calvino explicou com as seguintes palavras: “Há o chamado geral, pelo qual Deus convida todos igualmente a si mesmo por meio da pregação externa da Palavra — mesmo àqueles a quem Ele a entrega como um cheio de morte (2Co 2.16) e como ocasião para uma condenação mais severa. O outro tipo de chamado é especial, o qual na maioria das vezes Ele escolhe conceder somente aos crentes, enquanto pela iluminação interior do seu Espírito faz com que a Palavra pregada habite em seus corações” (Institutes of the Christian Religion, 3.24.8).

Em outras palavras, todos ouvem a pregação das boas-novas (chamado geral), mas somente os eleitos respondem positivamente, porque o Espírito Santo os habilita para isso (chamado particular). Além disso, o chamado particular não é um simples convite feito por Deus. É o poderoso chamado do Rei do universo que sempre produzirá respostas positivas. É particular e eficaz porque os resultados pretendidos por Deus são plenamente alcançados.

Observe como Deus chamou Lídia eficazmente à salvação: “Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia” (At 16.14). O chamado particular não anula a resposta humana. No caso dos eleitos, a resposta positiva que eles dão ao chamado é, na verdade, o efeito da ação de Deus. Por isso, Jesus disse: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer [...]” (João 6.44).

Lídia não foi arrastada contra a sua vontade. O que aconteceu é que Deus abriu o seu coração, capacitando-a a ouvir a pregação do Evangelho. Se Deus não fizesse isso, o véu da ignorância continuaria sobre o coração dela. Graças ao chamado particular, a pregação do Evangelho produz convertidos: “[...] o nosso evangelho não chegou a vocês somente em palavra, mas também em poder, no Espírito Santo e em plena convicção [...]” (1Ts 1.5).

Vale destacar que, ao chamar uma pessoa à salvação, Deus não a chama somente à vida eterna. O chamado particular de Deus também envolve o chamado à santificação (Rm 1.7; 1Ts 4.7), à luz (1Pe 2.9), à comunhão com Jesus (1Co 1.9), à paz (1Co 7.15), à liberdade (Gl 5.13), à esperança (Ef 1.18), à paciência no sofrimento (2Pe 2.20-21) e, então, à vida eterna (1Tm 6.12; 1Pe 5.10).

Assim, considere um imenso privilégio o fato de você ter compreendido o Evangelho e ter respondido com fé salvadora. Se isso aconteceu com você, saiba que não foi por qualquer mérito ou capacidade intelectual de sua parte. Deus não olha para essas credenciais. Ele simplesmente quis que você fosse o objeto de Seu amor e de Sua graça. Concluo com as palavras de Lutero (1483—1546): “Os salvos são escolhidos não por seus próprios méritos, mas pela graça do Mediador.



Fabrício A. de Marque


A expressão Ordo Salutis é de origem latina, cujo significado é Ordem da Salvação. Trata-se de um conceito teológico muito importante. Esse conceito apresenta o processo lógico pelo qual a obra da salvação é realizada na vida dos pecadores, do início ao fim. Esse processo lógico ocorre em etapas (ou em “degraus” progressivos).

Cada etapa explica um conceito fundamental da doutrina da salvação. Obviamente, não se trata de meros conceitos. Os conceitos explicam o que acontece nos decretos de Deus e em nossa experiência pessoal de salvação.

Existe certa divergência em relação à quantidade de etapas que abrange a ordem da salvação. Há também divergências em relação ao que vem primeiro nessa ordem. Por exemplo, o que vem primeiro: a regeneração ou a fé? Em outras palavras, você primeiro foi regenerado e, por isso, creu em Jesus, ou você primeiro creu em Jesus e, por isso, foi regenerado? A resposta que você der a essa pergunta revelará tua posição teológica.

Posto isso, iniciarei esta pequena reflexão apresentando a primeira etapa da Ordo Salutis: a eleição. O que ensina a doutrina bíblica da eleição? Segundo Wayne Grudem (Teologia Sistemática, p. 560), a eleição é um ato de Deus, antes da criação, no qual ele escolhe algumas pessoas para serem salvas, não por causa de algum mérito antevisto delas, mas somente por causa de sua suprema boa vontade.

Na Bíblia, a eleição é apresentada em pelo menos três sentidos: (1) A eleição da nação de Israel como povo (Dt 10.15); (2) A eleição de pessoas para o exercício de algum ofício (1Sm 10.24); e (3) A eleição de pessoas para a salvação eterna (Ef 1.4).

Muitos versículos deixam claro que Deus determinou de antemão quem seria salvo. Por exemplo, quando Paulo e Barnabé começaram a pregar o Evangelho aos gentios em Antioquia, Lucas escreveu: “Os gentios, ouvindo isto, se alegravam e glorificavam a palavra do Senhor. E creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48).

Na carta aos Romanos, Paulo fala de Jacó e Esaú. Por que Jacó foi aceito e Esaú foi rejeitado? Alguns afirmam que foi por causa da qualidade da oferta que cada um ofereceu a Deus. No entanto, a Bíblia diz algo diferente: “E os gêmeos ainda não eram nascidos, nem tinham feito o bem ou o mal — para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama [...]” (Rm 9.11). Jacó foi escolhido e Esaú rejeitado “para que o propósito de Deus quanto à eleição prevalecesse”.

Diante destes textos, é errado negar a doutrina da eleição. Uma pessoa pode não aceitar, mas ela não pode dizer que a Bíblia não fala sobre isso. Ademais, rejeitar tal ensino seria errado também, pois significa ir contra o que Deus revelou. Muitos dizem que a eleição é um tema teológico demais e, por isso, não possui relevância prática para a vida cristã. Isso é um equívoco e revela superficialidade de entendimento.

Além de servir de conforto nas tribulações e de incentivo à evangelização, a eleição deve nos levar ao louvor. Quando pensamos que Deus nos salvou por graça, misericórdia e amor — e não porque viu mérito em nós — o nosso coração se enche de louvor. É por isso que Paulo disse que Deus nos escolheu “a fim de sermos para louvor da sua glória [...]” (Ef 1.12). Por isso bradamos: Soli Deo Gloria!



Fabrício A. de Marque