pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: O Cristão e o Halloween: Um Olhar Histórico e Bíblico

O Cristão e o Halloween: Um Olhar Histórico e Bíblico

Pequena parte da minha infância foi dedicada à comemoração do Halloween. De vez em quando, meus amigos e eu saíamos às ruas fantasiados de alguma coisa mais ou menos assustadora (por vezes até engraçada) a fim de conseguir alguns doces. Ficávamos empolgados quando éramos recebidos com doces ou com um punhado de moedas. Quando, porém, respondiam com “travessura” à pergunta: “doce ou travessura?”, geralmente afundávamos o dedo no interfone até o morador perder a paciência. Como segunda opção (caso não houvesse campainha ou interfone), gritávamos igual malucos e chacoalhávamos o portão parecendo vândalos deserdados. Para nós, pelo menos naquela época, era divertido. Apesar disto, tudo era feito sem qualquer entendimento histórico ou espiritual do significado do Halloween. O interesse – propriamente dito – estava na diversão e nas guloseimas.
Neste artigo – que não tem o intuito de ser exaustivo, mas simples e sucinto – tentarei discorrer um pouco sobre a história do Halloween e, depois, tentarei pensá-lo à luz da cosmovisão cristã, trazendo uma aplicação prática para o povo de Deus.

BREVE PANORAMA HISTÓRICO

Sua Origem
Tok Thompson (mestre em Folclore da Universidade da Califórnia) diz que “a origem dessa data vem do calendário Celta quando as antigas tribos celtas dividiram o ano entre metade luz e metade trevas. E um feriado deles, o Samhain, foi o precursor do Halloween; e marcava o início da idade das trevas”.
A lenda relata que, nesta data (31 de Outubro), os celtas vestiam fantasias demoníacas e bastante bizarras, enquanto andavam pelas ruas e pelos bairros “espantando” ou “dispersando” os espíritos mortos que saíam do cemitério ávidos em apavorar e assustar as pessoas. A prática não se limitava às fantasias. Os celtas também colocavam objetos assustadores por toda a casa para assustar os “espíritos invasores”. Como eram os objetos? Nada bizarros: caveiras, ossos enfeitados, as famosas abóboras assombradas, etc.
David J. Skal (historiador cultural) afirmou que “a linha entre a vida e a morte é muito tênue. Os vivos e os mortos podem se misturar. É isso que está na essência das comemorações do Halloween”. A crença mística predominante era “que na noite de Samhain os vivos ficavam presos no mundo dos mortos e os mortos apareciam no mundo dos vivos”.

O Termo
Toda a tradição do Halloween repousa sobre o Samhain [1]. A mudança terminológica ocorreu ao longo do tempo, especificamente na Idade Média, onde o atual termo “Halloween” foi cunhado.
Há quem diga que a tradição foi cultivada no ocidente, principalmente pelos cristãos de Roma: “Em uma estranha mudança de rumo, com o desenvolvimento do Cristianismo, eles adotaram e modificaram tradições folclóricas ao invés de criarem suas próprias. Assim era muito mais fácil converter os pagãos” [2].
Em 1609, a Igreja de Roma incorporou a Lemúria [3] e transformou o 13 de Maio no Dia de Todos-os-Santos. Nesta data, os mártires da igreja eram homenageados. Quanto a isso, Tok Thompson disse: “A instituição da data foi uma tentativa de cristianizar um festival pagão e ao mesmo tempo manter a essência de uma comemoração tão antiga”.
A “versão cristã” foi tão agradável, que a liderança da igreja tomou uma decisão que deu surgimento ao “Halloween”. O Dia de Todos-os-Santos (13 de Maio) foi mudado para o dia 01 de Novembro, um dia depois da comemoração do Samhaim pagão (31 de Outubro). Como o Samhain era comemorado na véspera do Dia de Todos-os-Santos (All Saints' Day), as pessoas começaram a chamar o Samhain de “All Hallows Evening”, que traduzindo é “Noite de Todos os Santos”. Posteriormente, o nome foi abreviado para “All Hallows Even” e, finalmente, para “Halloween” (Dia das Bruxas) [4].
A Igreja, como sempre, querendo demonstrar controle sobre as circunstâncias e “apagar” a associação com o paganismo, imediatamente criou um feriado em homenagem não só aos mártires, mas a todos os cristãos mortos. Esse dia é o 2 de Novembro, conhecido como o Dia de Finados (ou Dia dos Fieis Defuntos), um feriado nacional.

Os Ícones
A Abóbora: simboliza a fertilidade e a sabedoria. Lino, um famoso desenho animado, acreditava que “a grande abóbora” saía da plantação na noite de Halloween e voava carregando uma sacola repleta de brinquedos para todas as crianças do mundo. Até mesmo a abóbora ganhou expressão facial recebendo olhos, boca e nariz.

A Vela: indicava os caminhos dos espíritos do outro plano astral. Também está ligada à superstição de fazer pedidos de acordo com o número de velas. Por exemplo, você pode fazer sete pedidos se acender sete velas na noite de Halloween.

O Gato Preto: é um símbolo da capacidade de meditação e recolhimento espiritual, autoconfiança, independência e liberdade. Plena harmonia com o Universo. O gato preto está ligado às bruxas, porque, de acordo com a lenda, as bruxas tinham o poder de se transformar em um gato preto. Além disso, muita superstição girava em torno do gato preto, como se ele fosse a fonte de azar, e até mesmo o espírito de alguém que já morreu.

Doces: A famosa frase “doce ou travessura” não é tão antiga como se pensa. Alguns ligam a frase ao século IX (data bem mais antiga), cuja origem encontra-se numa antiga brincadeira infantil. Outros afirmam que a frase possui pouco mais de 100 anos apenas. Lisa Morton (autora e roteirista de ficção de terror) afirma que “a expressão surgiu quando as brincadeiras violentas eram muito difundidas nos Estados Unidos no século XX. Em algum momento, alguém teve a brilhante ideia de subornar esses arruaceiros”. Para não sofrer vandalismo, as pessoas subornavam as crianças com doces caseiros, como maçãs do amor e pirulitos de pipoca. Posteriormente, em 1939, a frase “doce ou travessura” ganhou expressão nas noites do Halloween. Talvez já enjoada da maçã do amor e do pirulito de pipoca, a tradição passou a pedir outros tipos de doces. Aproveitando-se disso, o comércio começou a fabricar doces embalados: amendoim com doce de leite (Mars) e o famoso chocolate Hershey’s. Embora, provavelmente, a frase não seja tão antiga, o costume de pedir doces nas casas tem paralelo e forte ligação com a antiga prática religiosa: “As pessoas faziam os 'bolos das almas' com massa simples e cobertura de groselha para entregar às crianças que, devidamente fantasiadas, batiam de porta em porta para pedir os bolos. Em troca de cada pedaço de bolo, a criança se comprometia a rezar pela alma de um parente de quem lhe ofereceu” [5].

Como disse no início, este artigo não tem o propósito de ser exaustivo, e nem pretende esgotar tudo que se pode saber sobre o Halloween. Portanto, além dos itens brevemente comentados acima, outros receberão apenas menção: o caldeirão, as moedas, a vassoura, os morcegos, as aranhas, os bilhetes, o sapo, a maçã e a bruxa. Todos os itens possui conotação mística.

O HALLOWEEN E A PRÁTICA CRISTÃ

Dois Grupos
Depois do pano de fundo histórico, agora é o momento de esclarecer algumas questões que dizem respeito à fé cristã. Pode o cristão participar ou promover a noite do Halloween? É pecaminoso? Eu me adianto dizendo que rejeito a prática, mas com base em argumentos equilibrados entre os dois extremos. Não podemos superestimar nem subestimar essa prática.
Em primeiro lugar, há cristãos que não veem problema em tal prática desde que ela seja usada para a glória de Deus. Como assim? Não há qualquer problema em sair às ruas pedindo doces e, ao invés de oferecer às pessoas “travessuras”, você pode simplesmente entregar um panfleto evangelístico. Dessa forma, você não estaria comprometendo a sua fé.
Bem, é verdade que não há nada de pecaminoso em pedir doces e menos ainda em entregar panfletos evangelísticos, porém, isso não se assemelharia à tentativa católica de “cristianizar” uma tradição pagã? O panfleto não poderia ser compartilhado em outro dia? Por que precisa ser no contexto de Halloween?
Em segundo lugar, encontramos o grupo dos mais radicais que afirmam convictamente que Deus abomina a prática, pois há uma explícita relação com os demônios. É claro que não concordo com alguns abusos por aí. Sejamos sensatos. Por que um pastor promoveria dentro do prédio da igreja uma corrida de zumbis? É verdade, isso aconteceu nos EUA. Isso deve ser repudiado com veemência!
Contudo, será que categorizar a tradição como demoníaca (não discordo totalmente disso) é o único caminho para compreendermos o Halloween à luz das Escrituras? Existe, além desse, outro princípio para nos orientar? Acredito que sim.

O Princípio Norteador
Pelas páginas das Escrituras, lemos que Deus condena as práticas da feitiçaria (Êx 22.18; Lv 19.31; 20.6, 27) e também do ocultismo (At 8.9-24; At 13.6-11; At 16; 19). Não podemos fechar os olhos para a história do Halloween, ignorando a sua relação com o mundo espiritual. Existem elementos dentro da tradição que não são em si pecaminosos. Contudo, existem, sim, aspectos claramente anticristãos.
O princípio norteador a ser considerado está em Romanos 14. O capítulo trata da relação entre o fraco e o forte. “Fortes eram aqueles que estavam aptos a apreender a significação da morte de Cristo para o viver diário, ou seja, para comer e beber, etc., enquanto os fracos não estavam [aptos]” [6]. O apóstolo Paulo apresenta a preocupação que o cristão forte deve ter em relação ao fraco. Se alguma prática ofende a consciência do irmão mais fraco, ela deve ser imediatamente abandonada pelo irmão mais forte. Paulo diz: “Aquilo que é bom para vocês não se torne objeto de maledicência” (v. 16). E mais: “É melhor não comer carne nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa que leve seu irmão a cair” (v. 21), afinal, “[...] cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus” (v. 12).
Para resumir, vimos que os próprios evangélicos estão divididos nesse assunto. Para um grupo não é errado, para o outro, sim. Sendo assim, embora o argumento do segundo grupo não esteja totalmente bem fundamentado, abster-se da prática do Halloween é a atitude mais cristã que podemos adotar, visto que muitos (crentes e incrédulos) se escandalizam com tal postura, e isso pode levantar uma barreira de resistência à pregação do evangelho. O princípio aplica-se também a outras questões cotidianas que não pecaminosas em si.
Portanto, dentro da tradição do Halloween, encontramos aspectos pecaminosos e não pecaminosos, inofensivos e anticristãos, que devem ser considerados. Como cristãos maduros na caminhada, precisamos rejeitar a “cristianização” e qualquer comemoração ligada a essa tradição, pois temos um alvo muito mais nobre e importante para ser alcançado: a pregação e o ensino do evangelho para a salvação dos perdidos, para a edificação dos salvos e para glória de Deus.

Fabrício A. de Marque


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Notas: 
[1] “O Samhaim era a época em que acreditava-se que as almas dos mortos retornavam a suas casas para visitar os familiares, para buscar alimento e se aquecerem no fogo da lareira”. Roy, Christian Traditional Festivals: A Multicultural Encyclopedia. pg. 420.
[2] Para um documentário histórico e mais detalhado sobre o assunto acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=S4Aj65jTbqU
[3] Festival em que se acalmava o espírito dos mortos e culminava no dia 13 de Maio.
[4] ‘"Hallow" é uma palavra do inglês antigo para "pessoa santa" e o dia de todas as "pessoas santas" é apenas um outro nome para Dia de Todos os Santos, o dia em que os católicos homenageiam todos os santos.’ FONTE: Além da imaginação.
[5] DANTAS, Gabriela Cabral Da Silva. "Símbolos do Halloween"; Brasil Escola. Disponível em http://brasilescola.uol.com.br/halloween/simbolos-halloween.htm.
[6] HENDRIKSEN, W. Comentário do Novo Testamento: Romanos. São Paulo, p. 595, 2001.


4 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo, muito bem elabora e conciso.
    Essa iniciativa coopera para todos quantos desejarem conhecer um pouco mais e também atrelar as informações para a vida espiritual.
    É uma excelente leitura e de ótimo gosto estrtural.

    Parabéns Fabrício de Marque
    Super recomendo!!!!!

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    1. Muito obrigado pelas palavras e também pela leitura, Mírian! Que Deus abençoe você! Um abraço.

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  2. Muito esclarecedor o artigo. Como foi dito acima:Não podemos superestimar nem subestimar essa prática.
    Se sabemos o real significado, temos agora uma responsabilidade. Nada de doces, nem travessuras, vamos evangelizar, porque fomos chamados pra isso. Parabéns meu irmão pelo artigo. Recomendo.

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    1. Obrigado pela paciência em ler o artigo, querido irmão! Que Deus use os demais artigos para abençoá-lo também. Grande abraço!

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