pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: O Preparo de Gideão (Jz 6:1-40)

O Preparo de Gideão (Jz 6:1-40)


A Bíblia dedica 100 versículos para falar de Gideão (capítulos 6 – 8). Gideão vem da raiz גָּדַע (transliterado: gādaʻ) que significa “derrubar” ou “cortar” (destruidor). Gideão é um personagem muito conhecido e muito mencionado nos púlpitos das igrejas. O que muita gente deixa de mencionar é o fato de Gideão ter sido um homem cheio de dúvidas no início de seu ministério. Ele não começou com grandes feitos. Ele começou com inúmeras fraquezas e, à medida que os dias se passaram, Deus o fortaleceu para usá-lo com poder.

ESBOÇO DO CAPÍTULO 6 DE JUÍZES

ACONTECIMENTO
TEXTO BÍBLICO
A opressão midianita
vv. 1-6
A condenação profética
vv. 7-10
A chamada de Gideão  
vv. 11-24
A primeira missão de Gideão
vv. 25-32
A resposta de Gideão à invasão midianita
vv. 33-35
O sinal da lã
vv. 36-40

EXPOSIÇÃO DO TEXTO

A opressão midianita (vv. 1-6)
Os israelitas mais uma vez fizeram o que era mau aos olhos do Senhor. Como resultado, Deus levantou os midianitas para oprimir Israel durante sete anos. Os midianitas eram descendentes de Midiã, filho de Abraão com Quetura. Diante da opressão e da força dos midianitas, os israelitas começaram a morar nos montes, nas cavernas e nas fortalezas. De que maneira os midianitas oprimiam o povo de Israel? A Bíblia diz: “Porque acontecia que, quando Israel semeava, os midianitas, os amalequitas e os outros povos do leste invadiam suas plantações, acampavam na terra e destruíam as plantações até chegarem a Gaza, e não deixavam mantimento em Israel, nem ovelhas, nem bois, nem jumentos. Subiam com seus rebanhos e tendas; vinham em multidão, como gafanhotos. Tanto eles como os seus camelos eram inumeráveis e entravam na terra para destruí-la” (vv. 3-5). Os midianitas destruíam a agricultura e levavam tudo que o povo de Israel havia produzido. Note que, durante as invasões, os midianitas carregavam suas tendas para estabelecer moradia no lugar de habitação dos israelitas: “Subiam com seus rebanhos e tendas[...]” (v. 5a). A quantidade de invasores era inumerável, por isso eles eram mais fortes que os israelitas. Como resultado dessa opressão, o povo se enfraqueceu muito (v. 6). A palavra enfraqueceu (דָּלַל: dālal) significa: definhar, esvaziar e ficar magro. Diante dessa situação, eles clamaram ao Senhor.

A condenação profética (vv. 7-10)
Quando clamaram ao Senhor, Deus enviou até eles um profeta. O profeta é anônimo. O texto não revela seu nome. O profeta simplesmente apontou o pecado de desobediência do povo. O profeta apontou o pecado, porque o clamor do povo não foi motivado pelo arrependimento, mas pela dor do sofrimento. Deus denunciou o pecado do povo antes de libertá-lo. Ele estava mostrando que o relacionamento do povo com Ele estava errado. Considere as palavras de J. I. Packer: “Em sua essência, convicção de pecado é a percepção de que seu relacionamento com Deus está errado”. Um homem de Deus precisa sempre falar a verdade para as pessoas. Não importa se a verdade cause dor. É melhor doer mas experimentar mudança a continuar debaixo da disciplina divina.

A chamada de Gideão (vv. 11-24)
A narrativa muda de cena de maneira instantânea e surge uma nova figura. O anjo do Senhor aparece e senta-se debaixo do carvalho de Ofra. O carvalho pertencia ao pai de Gideão, um homem chamado Joás. Os oráculos proféticos geralmente eram proferidos debaixo de um carvalho. Ofra é um local desconhecido. Gideão está malhando trigo no tanque de espremer uvas. O anjo do Senhor é o próprio Senhor aparecendo em forma humana. Na teologia, isso se chama teofania. Teofania é uma manifestação visível do Deus invisível.
O anjo do Senhor diz algo para Gideão: “[...] O SENHOR está contigo, homem valente” (v. 12b). Gideão lamenta e questiona: “Ah, meu senhor, se o SENHOR está conosco, por que nos aconteceu tudo isso? Onde estão todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não foi o SENHOR que nos tirou do Egito? Mas agora o SENHOR nos abandonou e nos entregou nas mãos dos midianitas” (v. 13). Deus, então, encoraja Gideão e ordena que ele liberte o povo de Israel: “[...] Vai nesta tua força e livra Israel das mãos dos midianitas. Não sou eu que estou te enviando?” (v. 14b). Como Gideão responde ao encorajamento do Senhor? Ele olha para si mesmo e apresenta uma desculpa: “Ah, meu senhor, com que livrarei Israel? A minha família é a mais pobre em Manassés, e eu sou o menor* na casa de meu pai” (v. 15). Como garantia, o Senhor prometeu a Gideão a Sua própria presença. Mas ainda insatisfeito, Gideão propõe algo para o anjo do Senhor: “Se tenho achado favor aos teus olhos, dá-me um sinal de que és tu que falas comigo. Peço-te que não saias daqui até que eu volte trazendo minha oferta e a ponha diante de ti. E ele disse: Esperarei até que voltes. Então Gideão entrou e preparou um cabrito e fez bolos sem fermento com um efa de farinha. Pôs a carne num cesto e o caldo numa panela, trouxe tudo para fora e ofereceu-lhe debaixo do carvalho” (vv. 17-19). O anjo do Senhor orientou Gideão a colocar o alimento em cima da rocha e derramar o caldo em cima do alimento. Gideão obedeceu. O anjo do Senhor tocou o alimento com a ponta do cajado. Saiu fogo da rocha e consumiu todo o alimento. Em seguida, o anjo desapareceu. Qual foi a reação de Gideão: “Quando Gideão viu que era o anjo do SENHOR, disse: Ai de mim, SENHOR Deus! Eu vi o anjo do SENHOR face a face. 23Porém o SENHOR lhe disse: Paz seja contigo! Não temas; não morrerás. 24Então Gideão edificou ali um altar ao SENHOR e o chamou O SENHOR é Paz. Até hoje o altar está em Ofra dos abiezritas” (vv. 22-24).

A primeira missão de Gideão (vv. 25-32)
A primeira missão que Deu encarregou Gideão foi a seguinte: 1. Pegar um novilho de sete anos de idade que pertencia a seu pai; 2. Derrubar o altar de Baal que também pertencia a Joás, seu pai; 3. Cortar o poste de Aserá; 4. Construir um altar ao Senhor no mesmo lugar do altar de Baal; 5. Sacrificar o animal em holocausto, usando o poste de Aserá como lenha.
Gideão chamou 10 servos para ajudá-lo e obedeceu ao Senhor. O texto diz que ele fez isso na parte da noite, porque temia os homens da cidade. Quando o dia amanheceu, os homens da cidade viram tudo que Gideão havia feito. Eles foram até Joás, pai de Gideão, e exigiram a pena de morte do rapaz. Veja a resposta do pai de Gideão: “Acaso sereis vós que defendereis Baal? Quereis livrá-lo? Todos os que lutarem por ele estarão mortos pela manhã. Se ele é deus, que se defenda a si mesmo, pois o altar dele foi derrubado” (v. 31). Ele utilizou uma lógica interessante: se Baal é deus poderoso, por que ele precisa ser defendido? Ele não pode fazer isso sozinho? A partir desse episódio, Gideão passou a ser chamado de Jerubaal: “aquele que contende com Baal”.

A resposta de Gideão à invasão midianita (vv. 33-35)
Essa porção da Bíblia não é sequência do versículo 32. O versículo 33 indica uma nova invasão da parte dos midianitas. Note que vários povos se uniram contra Israel: midianitas, amalequitas e outros que não são mencionados pelo nome. Eles se encontraram para a batalha no vale de Jezreel. Jezreel significa “Deus plantou”. Era uma cidade fortificada perto do monte Gilboa. O texto diz que o Espírito do Senhor se apoderou de Gideão. O verbo “apoderar” (לָבַשׁ: lābash) significa “vestir roupas”. O Espírito se apoderou de Gideão de maneira semelhante à camisa que envolve o nosso corpo quando a vestimos. Em seguida, Gideão tocou a trombeta e convocou algumas tribos para juntar-se a ele na batalha. Se juntaram a Gideão: abiezritas, as tribos de Manassés, Aser, Zebulom e Naftali.

O sinal da lã (vv. 36-40)
Gideão queria ter certeza de que Deus o usaria de novo para livrar Israel. Por isso, ele lançou dois desafios ao Senhor. Primeiro, Gideão colocaria um punhado de lã no chão. Durante a madrugada, o orvalho deveria molhar apenas a lã, e não o chão. Aconteceu conforme o seu desejo. Na manhã seguinte, Gideão encheu uma tigela com o orvalho. No segundo desafio aconteceu o inverso. O chão deveria ficar molhado, e a porção de lá completamente seca. E Deus fez exatamente como Gideão havia pedido: “E Deus fez assim naquela noite, pois somente a lã estava seca e o chão em volta estava molhado com o orvalho” (v. 40). Dessa maneira o capítulo seis termina, mostrando o preparo de um homem fraco que será grandemente usado pelo Senhor.

APLICAÇÕES PRÁTICAS

1) Quando Deus é deixado de lado, abrimos as portas para que o Diabo cause terríveis problemas em nossa vida e em nossa família.

2) Antes de anunciar o perdão e a graça, precisamos denunciar o pecado das pessoas. Quando o pecado não é denunciado, a graça de Deus é desprezada.

3) Deus nos faz enxergar os recursos que temos à disposição, mas que não estamos enxergando. Gideão achava que sua família era inexpressiva, mas ele comissionou 10 servos para ajudá-lo.

4) Para que a obra de Deus alcance resultados significativos, precisamos fazê-la no poder do Espírito Santo. Para isso, é necessário que busquemos ser cheios do Espirito Santo: “E não vos embriagueis com vinho, que leva à devassidão, mas enchei-vos do Espírito” (Efésios 5.18) [1].

5) Deus concede sinais para decisões importantes da nossa vida. No entanto, precisamos tomar cuidado com a incredulidade em relação ao que Deus já revelou em Sua Palavra. Vejamos algumas recomendações importantes sobre esse assunto:

(a) Os sinais são mais comuns na vida do novo convertido do que na vida do velho convertido. Deus se compadece daqueles que estão nos primeiros passos;
(b) Pedir sinal diante de uma ordem explícita na Bíblia é sinal de descrença. Por exemplo, alguém pode dizer: “se a pessoa me enviar uma mensagem é sinal de que eu devo me reconciliar com ela”. Essa atitude é reprovável, pois a ordem da Bíblia é que perdoamos uns aos outros.
(c) Deus nos guia através do bom senso, das circunstâncias, do conselho de amigos e de outros meios;
(d) Tomemos cuidado para não tentarmos ao Senhor com a nossa incredulidade [2];
(e) Lembre-se de que Jesus chamou de “geração adúltera” aquelas pessoas que lhe pediram sinais: “Ele respondeu: ‘Uma geração perversa e adúltera pede um sinal miraculoso! Mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal do profeta Jonas’.” (Mateus 12:39) [3].



Fabrício A. de Marque

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Notas:
[1] Almeida Século 21 (A21).
[2] “Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus” (Mateus 4:7 ACF).
[3] Nova Versão Internacional (NVI).



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