pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: Fracassos Militares (Jz 1:1 — 2:5)

Fracassos Militares (Jz 1:1 — 2:5)


INFORMAÇÕES SOBRE O LIVRO DE JUÍZES

O nome do livro em hebraico é שֹׁפְטִים (shōp ͤ tîm), e em grego, de acordo com a Septuaginta (LXX), é Κριτα (kritai). Em ambos os idiomas o significado é o mesmo: “juízes” ou “líderes que governam”.
Quanto à autoria do livro, não há consenso entre os estudiosos. O Talmude [1] atribui a autoria do livro ao profeta-juiz Samuel, embora boa parte das Bíblias de estudo mantenha a autoria desconhecida. O livro foi escrito entre o ano 1050 e 1000 a.C.
Na Bíblia Hebraica – que segue uma estrutura diferente da Bíblia Protestante – o livro de Juízes pertence à categoria dos profetas que, por sua vez, encontra-se dentro da aba “Profetas Anteriores”.
O livro foi escrito tendo como propósito demonstrar a necessidade que Israel tinha de um rei piedoso da linhagem de Davi.
O sumário do livro de Juízes ficará da seguinte forma:

SUMÁRIO BÁSICO DO LIVRO

ACONTECIMENTO
TEXTO BÍBLICO
A conquista incompleta de Canaã
1:1 – 2:5
Opressão pelos inimigos e libertação pelos juízes
2:6 – 16:31
Epílogo – desordem religiosa e moral
17:1 – 21:25

PASSAGENS PARALELAS COM O LIVRO DE JOSUÉ

JUÍZES
JOSUÉ
1:10-15, 20
15:13-19
1:21
15:63
1:27-28
17:11-13
1:29
16:10


Por que alguns acontecimentos do livro de Josué são repetidos no livro de Juízes? Por exemplo, a porção de 1:1 – 2:5 é muito parecida com a narrativa de Josué. Podemos afirmar que essa porção apresenta a mesma história, porém, sob outra perspectiva. Josué enfatiza a vitória de todas as tribos juntas sob o mesmo líder (Josué). No entanto, Juízes narra a mesma história dando ênfase particular ao papel desempenhado pelos próprios membros das tribos. O autor de Juízes colocou o mesmo relato no começo do livro (1:1 – 2:5) para mostrar a situação em que a nação se encontrava.

EXPOSIÇÃO DO CAPÍTULO 1

A Guerra Contra o Restante dos Cananeus

A tribo de Judá e Simeão saem à guerra (vv. 1-4)
O povo faz uma pergunta ao Senhor. Deus responde e aponta Judá como o primeiro a sair para a guerra. Isso nos remete ao livro de Gênesis: “Judá, teus irmãos te louvarão; tua mão será sobre o pescoço de teus inimigos; os filhos de teu pai se prostrarão diante de ti.” (Gênesis 49:8). A tribo de Judá pediu ajuda para a tribo de Simeão. Por que para Simeão? Podemos apresentar duas razões: 1) Judá e Simeão eram filhos de Lia, esposa de Jacó e 2) Judá e Simeão eram tribos vizinhas. As duas tribos saíram para lutar contra os cananeus e ferezeus. Deus lhes concedeu vitória e essas duas tribos mataram 10 mil homens.

A mutilação de Adoni-Bezeque (vv. 5-7)
Em Bezeque, um homem chamado Adoni-Bezeque, fugiu dos israelitas. Todavia, os israelitas o perseguiram e, ao capturá-lo, fizeram algo: “Adoni-Bezeque fugiu; mas eles o perseguiram e o prenderam, e lhe cortaram os dedos polegares das mãos e dos pés.” (v. 6). Era comum a mutilação física de prisioneiros de guerra no antigo Oriente Médio. Essa prática impossibilitava o soldado prisioneiro para o serviço militar.
Adoni entendeu que ele estava colhendo o que tinha plantado: “Então Adoni-Bezeque disse: Setenta reis, com os dedos polegares das mãos e dos pés cortados, apanhavam migalhas debaixo da minha mesa. Deus me pagou conforme fiz a eles. E levaram-no a Jerusalém, onde morreu”“Setenta reis” é uma hipérbole, indicando apenas um grande número de reis. 
A Lei mosaica já falava sobre a devida colheita pelo ferimento cometido contra alguém: “Se alguém causar um ferimento em seu próximo, lhe será feito como fez.” (Levítico 24:19). Adoni foi levado para Jerusalém e ali morreu.

O ataque da tribo de Judá e a expulsão dos três gigantes (vv. 8-15)
A seguir, a tribo de Judá ateou fogo em Jerusalém e matou seus moradores, porém, não totalmente, pois o versículo 21 diz que ainda existia jebuseus vivendo em Jerusalém. Inclusive, os benjamitas se associaram a eles.
Depois disso, eles também mataram os cananeus do Neguebe e Sefelá. Neguebe é um deserto que ocupa cerca de 60% do território de Israel. Sefelá, ou baixada, é uma pequena faixa de terra entre a planície costeira e as montanhas. Em seguida, eles atacaram os cananeus que viviam em Hebrom. Em Hebrom, Abraão havia construído um altar ao Senhor: “Então Abrão mudou as suas tendas e foi habitar junto aos carvalhos de Manre, em Hebrom; e ali edificou um altar ao SENHOR” (Gênesis 13:18).
Em Hebrom, Judá derrotou três homens: Sesai, Aimã e Talmai. O livro de Josué afirma que esses três homens eram gigantes. No passado, esses homens foram expulsos de Hebrom por Calebe: “E Calebe expulsou dali os três filhos de Anaque: Sesai, Aimã e Talmai, descendentes de Anaque.” (Josué 15:14; cf. Jz 1:20; Nm 13:22). Anaque ou Enaque em hebraico é עֲנָק (‘nāq) significa: “pescoço comprido”.
Em seguida, eles atacaram os habitantes da cidade de Debir. Antes, essa cidade chamava-se “Quiriate-Sefer” (Cidade dos livros). Era, provavelmente, um repositório de uma biblioteca. Atualmente a cidade é um sítio arqueológico (Tell Beit Mirsim). A cidade foi dada a Otoniel e sua noiva Acsa (filha de Calebe). Os versículos 12-15 repetem Josué 15:15-19.

Outras vitórias incompletas e a razão disso (vv. 16-21)
A Bíblia diz que os descendentes de Jetro, sogro de Moisés, saíram de Jericó e passaram a morar no Neguebe. Na sequência, a tribo de Judá e de Simeão destruíram mais uma cidade. Desta vez, foi a cidade de Zefate (torre de vigia). Seu nome, mais tarde, passou a ser Hormá (destruição).
Por fim, mais três cidades foram conquistadas: Gaza, Asquelom e Ecrom. Apesar de todas essas conquistas, a Bíblia diz que Judá não conseguiu expulsar os habitantes dos vales. Por qual razão não conseguiu? “[...] pois eles tinham carros de guerra feitos de ferro.” (v. 19b). Os cananeus, e mais tarde os filisteus, tinham o monopólio do ferro. Os israelitas trabalhavam com armas de bronze, e isso até a época de Davi.

A Captura de Betel (vv. 22-26)
Nesta altura, a Bíblia passa a dar ênfase à tribo de José. Deus estava com eles e, por isso, atacaram a cidade de Betel. Betel recebeu esse nome, que significa “Casa de Deus”, depois que Jacó teve uma visão da escadaria durante um sonho (cf. Gn 28:10-12). O texto diz que alguns espias foram enviados até Betel e, ao chegarem lá, os espias viram um homem saindo da cidade. Eles capturaram o homem, fizeram-lhe ameaças de morte e mandou que o homem lhes mostrasse a entrada da cidade. O homem lhes mostrou a entrada da cidade, a tribo de José invadiu Betel, matou os seus habitantes, e poupou aquele homem que os havia ajudado.
Mais tarde, aquele homem foi morar entre os hititas e entre eles fundou uma cidade chamada Luz. Talvez, o traidor da cidade de Betel fosse um hitita que tinha deixado a sua terra natal, mas que retornou rapidamente para lá logo depois da traição.

Lista dos territórios não ocupados (vv. 27-36)
Esta porção apresenta uma lista com o nome dos muitos territórios que não foram completamente ocupados pelos israelitas. Seis tribos fracassaram (Manassés, Efraim, Zebulom, Aser, Naftali e Dã). Os cananeus de mais de 15 territórios não foram expulsos. A maioria deles foi sujeita a trabalhos forçados.
No versículo 31, a cidade de Sidom é mencionada. É daí que veio a princesa fenícia chamada Jezabel, que introduziu o culto a Baal-Melcarte em Israel.
As duas cidades mencionadas no versículo 33 (Bete-Semes e Bete-Anate) são de localização desconhecida. “Bete-Semes” significa “Casa do sol”, indicando que ali provavelmente havia um santuário à adoração do deus sol. “Bete-Anate” significa “casa de Anate”, dedicada a Anate, a deusa cananita da fertilidade, esposa de Baal.

EXPOSIÇÃO DO CAPÍTULO 2:1-5

O aparecimento do anjo do Senhor (vv. 1-5)
No início deste capítulo, a Bíblia diz que o anjo do Senhor se colocou diante dos israelitas a fim de repreendê-los. O anjo do Senhor aqui é o próprio Deus. O evento é conhecido, na teologia, por teofania: uma manifestação visível do Deus invisível. O anjo do Senhor repreende os israelitas, dizendo: “E vós não fareis aliança com os habitantes desta terra; pelo contrário, derrubareis os seus altares. Mas não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso?” (v. 2).
A consequência da desobediência dos israelitas é que os cananeus seriam uma armadilha para eles. Muito tempo antes, Deus tinha avisado a respeito desse perigo:

”Não faças aliança com os habitantes da terra em que entrarás, para que não caias em armadilhas.” (Êxodo 34:12)

“Mas, se não expulsardes os habitantes da terra, os que preservardes serão como farpas nos vossos olhos e como espinhos nas costelas, e vos perturbarão na terra em que habitardes; 56e farei convosco o que pensei fazer com eles.” (Números 33:55-56)

A Bíblia diz que, após a repreensão, o povo chorou em alta voz. Em virtude desse episódio, o local recebeu o nome de “Boquim” (בֹּכִים), que significa “pranteadores” ou “chorões”. A localização de Boquim é desconhecida. Após o choro, os israelitas ofereceram sacrifícios ao Senhor.

APLICAÇÕES PRÁTICAS

1. Não se pode enganar o Senhor com expressões externas de arrependimento. O povo de Israel chorou, mas o seu arrependimento foi superficial, sem frutos.

2. Quando Deus lhe der uma ordem, obedeça imediatamente. A desobediência e a obediência demorada trazem sérios prejuízos.

F. F. Bruce (1910-1990):
“O amor e a obediência a Deus estão de tal maneira entrelaçados um com o outro que a existência de um implica a presença do outro.”



Fabrício A. de Marque

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Notas:

[1] “Talmude é uma coletânea de livros sagrados dos judeus, um registro das discussões rabínicas que pertencem à lei, ética, costumes e história do judaísmo. O Talmude tem dois componentes: a Mishná, o primeiro compêndio escrito da Lei Oral judaica; e o Guemará, uma discussão da Mishná e dos escritos tanaíticos que frequentemente abordam outros tópicos.” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Talmude)



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