pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: Os Primeiros Juízes (Jz 3:7-31)

Os Primeiros Juízes (Jz 3:7-31)


Depois de uma breve introdução (cf. 1:1–3:6 e os artigos anteriores), o escritor bíblico começa a sua narrativa inspirada relatando a história dos primeiros juízes de Israel. O primeiro juiz chamava-se Otoniel, conforme veremos no decorrer da história. Antes disso, porém, confira o esboço dessa porção do livro sagrado:

ACONTECIMENTO
TEXTO BÍBLICO
Otoniel e Cuchã-Risataim
vv. 7-11
Eúde e Eglom de Moabe
vv. 12-30
Sangar e os filisteus
v. 31

EXPOSIÇÃO DO TEXTO

Otoniel e Cuchã-Risataim (vv. 7-11)
O povo de Israel novamente fez o que era mal aos olhos do Senhor. A sua lembrança tornou-se embotada e, mais uma vez, a nação se esqueceu de Deus, prestando culto aos baalins e Aserá. Deus entregou o Seu povo ao rei da Mesopotâmia, chamado Cuchã-Risataim [1], que dominou sobre os israelitas durante oito anos. Esse nome parece não ser um nome pessoal, visto que significa “Cusã de dupla-iniquidade”. Quem teria um nome com tal significado? É provável que o escritor bíblico tenha utilizado essa expressão a fim de ridicularizar o opressor de Israel [2].
Ao reconhecerem os seus pecados, os israelitas clamaram ao Senhor, e este levantou um juiz chamado Otoniel [3]. A Bíblia revela que Otoniel era irmão de Calebe. Ao ser tomado pelo Espírito do Senhor Deus, Otoniel derrotou o rei mesopotâmico e trouxe calmaria para os israelitas. O período de paz trazido pelo Senhor, por instrumentalidade de Otoniel, durou quarenta anos.

Eúde e Eglom de Moabe (vv. 12-30)
Os israelitas acabaram se perdendo durante os anos de paz, e mais uma vez eles fizeram o que era mal aos olhos do Senhor. Dessa vez, o Senhor concedeu poder ao rei de Moabe, chamado Eglom. A razão do juízo foi enfatizada pelo escritor bíblico para que fique bem claro que eles estão recebendo o que merecem: “[...] pois haviam feito o que era mau aos olhos do SENHOR” (v. 12b). Eglom foi levantado soberanamente, assim como Ciro, rei da Pérsia, também fora levantado (Isaías 45:1).
Eglom fez aliança com os amonitas e com os amalequitas [4] e, em seguida, derrotou os israelitas, conquistando, por fim, a Cidade das Palmeiras. A opressão que Eglom exerceu sobre Israel durou dezoito anos.
Estando debaixo de opressão e calamidade, os israelitas clamaram novamente ao Senhor por libertação. Deus levantou um juiz chamado Eúde, cujo pai chamava-se Gera. Obviamente, Gera não era pai literal de Eúde. Gera é mencionado em Gênesis 46:21 e, portanto, ele era da mesma descendência de Eúde. Observe que o versículo 15 destaca que Eúde era canhoto, uma palavra que literalmente significa “restrito quanto à sua mão direita”. De acordo com a mentalidade israelita, ser canhoto era considerado um defeito físico. Essa característica aparece ligada aos benjamitas, sem, contudo, afetar as habilidades militares do portador.
Através de Eúde, os israelitas enviaram produtos agrícolas (tributos) ao rei Eglom. Isso, sem dúvida, fazia parte do plano de assassinato arquitetado por Eúde. Prova disso é que Eúde fabricou uma espada de dois gumes medindo um côvado de comprimento, isto é, cerca de 35 centímetros. A espada foi colocada “à coxa direita, por baixo da roupa” (v. 16), indicando que ela não possuía protetor de punho. Isso facilitou o esconderijo da espada, evitando certo volume debaixo da roupa. O versículo 17 revela a característica física de Eglom: “[...] era um homem muito gordo”. O escritor está montando o cenário em nossa mente para o que virá em seguida.
Depois que os tributos foram entregues ao rei, Eúde despediu os carregadores e partiu. Perto de Gilgal, Eúde decidiu voltar à presença do rei para entregar-lhe uma mensagem divina. O rei pediu silêncio e ordenou que todos os seus auxiliares saíssem de sua presença para que ele ficasse a sós com Eúde. O rei, então, convidou Eúde para a “sala de verão particular” [5]. A sala de verão ficava no alto do telhado. Era um cômodo repleto de janelas muito bem distribuídas para captar as brisas que vinham de fora. O lugar era adequado para meditação e conversas pessoais.
Ao ouvir, mais uma vez, que Eúde tinha uma mensagem da parte de Deus para entregar, Eglom levantou-se da cadeira para receber o oráculo divino. Imediatamente, Eúde tirou a espada e cravou-a na barriga do rei. A espada penetrou a barriga de Eglom com cabo e tudo por conta da gordura que rapidamente cobriu a região do golpe. A versão ACF, no final do versículo 22, acrescenta a frase: “e saiu-lhe o excremento”. É muito possível que a espada tenha penetrado Eglom, através do abdômen, e saído pelo ânus, “derramando” assim, o seu intestino. Eglom não teve tempo nem de clamar pela intervenção de seu exército.
Após o crime, Eúde trancou as portas da sala de verão e fugiu para o pórtico, de modo que não ficasse qualquer sinal do que havia acontecido. Em seguida, os servos do rei chegaram ao local e perceberam que a porta ainda estava trancada. Pensaram que o rei estivesse “cobrindo seus pés na recâmara da sala de verão” (v. 24 ACF). Essa expressão é um eufemismo que descreve a satisfação das necessidades fisiológicas. A versão A21 diz “aliviando o ventre”, o que transmite melhor o significado do texto. Percebendo a demora do rei, os servos ficaram preocupados e decidiram pegar a chave [6] para verificar o que estava acontecendo. Ao abrirem a porta, viram Eglom caído morto no chão. Nesta altura, Eúde já estava bem longe do alcance deles.
Ao chegar em Seirá, Eúde tocou a trombeta para reunir o povo e disse: “Segui-me, porque o SENHOR entregou os vossos inimigos, os moabitas, nas vossas mãos [...]” (v. 28a). Então eles partiram e mataram cerca de dez mil moabitas, subjugando, assim, Moabe. Depois desse episódio, a terra desfrutou de oitenta anos de paz.

Sangar e os filisteus (v. 31)
O versículo 31 não está perdido dentro da narrativa. Embora muitos detalhes quanto à façanha de Sangar não sejam mencionados, é plausível pensar que os feitos de Sangar ocorreram durante o período de Eúde. Ele foi um juiz que efetuou um golpe local de grande valor, mas as características de seu juizado foram omitidas. Este versículo foi inserido na narrativa para seguir a sequência cronológica dos eventos.
A Bíblia diz que Sangar matou seiscentos filisteus [7] usando uma aguilhada de bois, que media de 2,5 a 3,5 metros, possuindo uma ponta de metal. Possuir uma aguilhada de bois como instrumento de batalha indica que os filisteus já estavam desarmando os povos de suas espadas e lanças, conforme a política filisteia de guerra:

“Em toda a terra de Israel, não se achava um só ferreiro, porque os filisteus haviam dito: Os hebreus não farão nem espada nem lança. Por isso, todos os israelitas tinham que ir aos filisteus para afiar suas relhas, enxadas, machados e foices. Custava dois terços de um siclo para amolar foices e enxadas, e um terço de um siclo para amolar machados e aguilhadas. Assim, no dia da batalha, os soldados de Saul e Jônatas não tinham espada nem lança, exceto Saul e seu filho Jônatas.” (1 Samuel 13:19-22)

APLICAÇÕES PRÁTICAS

1. Deus é soberano sobre os reis da terra. Ele levanta quem quiser para fazer o que bem entender. Deus pode levantar um governante ímpio para abençoar ou oprimir uma nação, conforme a necessidade.

2. Quando cair em pecado, tenha a certeza de que, se você clamar ao Senhor com o coração sincero, Ele escutará a sua oração e te livrará do mal.

3. Não interprete as bênçãos de Deus como permissão para o pecado. O objetivo de uma bênção é gerar gratidão, adoração e obediência em nosso modo de viver.




Fabrício A. de Marque

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Notas:
[1] Cusã-Risataim (ACF).
[2] Há outra sugestão que afirma que o nome de Cuchã-Risataim possa significar “Cuchã chefe de Temã”, indicando, com isso, que esse líder era chefe de Temã, uma cidade ou região ao norte de Edom.
[3] Otniel (ACF).
[4] Os amalequitas foram um dos piores inimigos de Israel (Êxodo 17:8-16).
[5] Lit. “câmera fresca do telhado”.
[6] “A chave era uma tábua chata, provida de pinos que correspondiam a orifícios num ferrolho oco. Um buraco na porta dava acesso ao ferrolho, que era interno. A inserção da chave no ferrolho empurrava os pinos da fechadura para fora, permitindo ao ferrolho ser retirado do encaixe nos umbrais. A porta podia ser fechada sem a chave, mas não poderia ser aberta sem ela.” (Cundal & Morris, p. 77)
[7] Alguns acreditam que “seiscentos” indica um número acumulado, e não um morticínio ocorrido num só momento.



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