Pensando as Escrituras: Débora, Baraque e o Juízo do Senhor (Jz 4:1-24)

Débora, Baraque e o Juízo do Senhor (Jz 4:1-24)

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ACONTECIMENTO	TEXTO BÍBLICO
A opressão de Jabim	vv. 1-3
Débora e Baraque	vv. 4-9
Reunião e derrota das hostes cananeias	vv. 10-16
Fuga e morte de Sísera	vv. 17-22
O fim de Jabim	vv. 23-24

EXPOSIÇÃO DO TEXTO

A opressão de Jabim (vv. 1-3)

Os israelitas voltaram a fazer o que era mau aos olhos do Senhor. Como consequência, Deus entregou o povo nas mãos de Jabim. Jabim foi um rei cananeu de Hazor, importante cidade da época. Jabim tinha a seu serviço um homem chamado Sísera. Sísera era um guerreiro que tinha um quartel-general em Harosete-Hagoim (local sem identificação), cujo significado é “o bosque das nações”.

Uma nota de observação: perceba que Jabim e Hazor foram mencionados em Josué 11:1-11. Ali, Jabim foi assassinado e Hazor foi incendiada: “Naquele tempo Josué voltou e tomou também Hazor. E feriu à espada o seu rei. Hazor havia sido a capital de todos esses reinos. Eles passaram ao fio da espada a todos os que nela havia, aniquilando-os totalmente; nenhum ser que respira sobreviveu. Josué queimou no fogo a Hazor” (Josué 11:10-11). Por que Jabim e Hazor aparecem novamente em Juízes, visto que Jabim estava morto e Hazor destruída? O termo “Jabim” foi adotado como título hereditário pelos sucessivos reis, tal como o título Faraó. Portanto, o Jabim de Juízes não é um nome pessoal. Em relação à cidade de Hazor, os cananeus a reconstruíram após a destruição. Por isso, ela havia recuperado o seu poder na época dos juízes. Não há erro no relato bíblico.

Digno de nota é o equipamento de que Jabim dispunha. O versículo três revela que o equipamento dos cananeus era fortíssimo. Jabim tinha 900 carros de ferro à sua disposição: “[...] pois Jabim, que tinha novecentos carros de guerra feitos de ferro, os havia oprimido com crueldade [...]”. Um comentarista disse que os carros eram armados com foices de ferro, capaz de desferir golpes fatais. A Bíblia diz que durante 20 anos Jabim oprimiu Israel com crueldade.

Débora e Baraque (vv. 4-9)

Nesta porção da história, as Escrituras afirmam que uma mulher chamada Débora julgava Israel naquela época. A mulher ocupava uma posição subordinada, mas às vezes ela assumia um cargo de projeção. Além de Débora, o Antigo Testamento também menciona outras quatro profetisas: 1) Miriã: irmã de Arão e Moisés (Êxodo 15:20); 2) Hulda: esposa de Salum (2 Reis 22:14); 3) Noadia: uma falsa profetisa (Neemias 6:14) e 4) A esposa do profeta Isaías (Isaías 8:3). O Novo Testamento também menciona uma profetiza, já idosa, chamada Ana (Lucas 2:36). Além disso, Felipe tinha quatro filhas virgens que profetizavam (Atos 21:8-9).

Mas, afinal, quem foi Débora? Débora significa “abelha”, em hebraico. Um estudioso disse que Débora tinha “uma ferroada por inimigos e mel por amigos”. Débora foi esposa de Lapidote, alguém de pouca fama, mencionado apenas no versículo quatro. Há quem diga que Baraque e Lapidote sejam a mesma pessoa. Lapidote significa “tochas” e Baraque significa “relâmpago”. Não é uma teoria aceitável pela maioria dos estudiosos, justamente por carecer de provas.

O que Débora fazia, além de profetizar? Ela ficava sentada debaixo de uma palmeira para julgar as questões do povo. No Oriente era comum administrar a justiça ao ar livre: “Ela se assentava debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim, e os israelitas iam a ela para que julgasse suas questões” (v. 5).

Certo dia, Deus orientou Débora a convocar Baraque para a batalha. Baraque deveria ajuntar 10 mil homens da tribo de Naftali e Zebulom e conduzir esses homens até o monte Tabor. O monte Tabor era do formato de um cone e tinha pouco mais de 400 metros. Nesse monte haveria de acontecer uma batalha. Deus faria com que Sísera atacasse Baraque e os israelitas, de modo que Baraque saísse vitorioso.

Qual foi a atitude de Baraque? “E Baraque disse-lhe: Se fores comigo, irei; mas não irei se não fores” (v. 8). Baraque “amarelou”, igual Moisés, Gideão e Jeremias. Débora ficou descontente com essa atitude covarde de Baraque, e profetizou que a honra da vitória não seria dada a ele, mas a uma mulher. No entanto, Débora não falava de si mesma, mas de outra mulher que aparecerá mais tarde na história. Vejamos a sua profecia: “Ela respondeu: É certo que irei contigo, mas a honra desta expedição não será tua, pois o SENHOR entregará Sísera nas mãos de uma mulher [...]” (v. 9).

Reunião e derrota das hostes cananeias (vv. 10-16)

A Bíblia diz que, após a profecia, Débora partiu junto com Baraque e com os 10 mil homens até Quedes. No versículo onze, a Bíblia insere um novo personagem chamado Héber. Héber significa “camarada”. Ele é inserido na narrativa como nota de apresentação, pois ele é da família de Jael, aquela que haverá de assassinar Sísera, cumprindo assim, a profecia de Débora. Héber era um queneu que estava separado dos outros queneus. Os queneus eram nômades que vagueavam pela região desértica no sul de Judá.

De repente, Sísera ficou sabendo que Baraque estava no monte Tabor. Então, ele reuniu o seu imenso exército e partiu para o mesmo lugar. A batalha começou e Deus deu a vitória a Baraque e aos 10 mil homens que o acompanharam. O hebraico diz que Deus “esmagou” o exército inimigo. O exército inteiro de Sísera foi destruído ao fio da espada. Todavia, Sísera conseguiu escapar a pé: “Diante do avanço de Baraque, o SENHOR derrotou Sísera ao fio da espada, com todos os seus carros e todo o seu exército. Sísera desceu do seu carro e fugiu a pé” (v. 15).

Fuga e morte de Sísera (vv. 17-22)

Onde Sísera se escondeu? Ele foi parar na casa de uma mulher chamada Jael. Jael era esposa de Héber, mencionado no versículo onze. Por que Sísera se escondeu na casa de Jael? Há três razões para isso: 1) Os queneus eram pacíficos e avessos à guerra; 2) A hospitalidade na casa de um nômade indicava proteção e 3) Nenhum perseguidor pensaria em procurar um homem na tenda de uma mulher, ainda mais de uma mulher casada como Jael.

Depois de entrar na tenda, Sísera recebeu todos os cuidados necessários. Primeiro, Jael o cobriu com uma coberta. É provável que tenha sido uma rede, pois Sísera estava sujo de lama, suado e precisando dormir. Jael não o colocaria numa coberta limpa e perfumada. Segundo, Jael deu leite para Sísera beber, mais precisamente uma coalhada ou um iogurte. Os árabes, até hoje, bebem um tipo de coalhada quando estão doentes. Além disso, eles também bebem um tipo de leite fermentado que tem qualidade soporífica (que produz sono).

Depois de receber os devidos cuidados, Sísera pediu para Jael vigiar a entrada da tenda, caso aparecesse um inimigo à sua procura. Jael foi e disse para Sísera dormir tranquilo, pois os inimigos estavam bem longe. Minutos depois, enquanto Sísera dormia, Jael fez algo chocante e inesperado: “Entretanto, Jael, mulher de Héber, pegou uma estaca da tenda e um martelo e aproximou-se em silêncio, enquanto ele dormia profundamente, pois estava exausto. Então, cravou-lhe a estaca na têmpora até penetrar no chão, e ele morreu” (v. 21). Jael tinha muita habilidade com a estaca e com o martelo, pois montar e desmontar tendas era um trabalho feminino. Os golpes foram tão violentos a ponto de a estaca penetrar no chão. Naquela época, ser morto por uma mulher era considerado uma desgraça. Depois de matar Sísera, Jael saiu da tenda e mostrou a Baraque o homem que ele procurava. Baraque certamente se lembrou da profecia de Débora: “[...] É certo que irei contigo, mas a honra desta expedição não será tua, pois o SENHOR entregará Sísera nas mãos de uma mulher [...]” (v. 9).

O fim de Jabim (vv. 23-24)

O capítulo termina dizendo que o rei Jabim, chefe de Sísera, fora subjugado. O poder dos israelitas cresceu mais e mais até que o domínio dos cananeus desaparecesse totalmente. Sem dúvida, esse processo pode ter levado vários anos.

APLICAÇÕES PRÁTICAS

1. O ímpio é cruel e, geralmente, não se compadece dos oprimidos. Não crie boas expectativas de pessoas não convertidas.

2. Quando você cair e pecar, não demore para clamar ao Senhor. Não espere que mais problemas aconteçam: “Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás” (Salmos 50:15).

3. Nenhum incrédulo é capaz de fugir do juízo e da fúria de Deus. O incrédulo pode achar que a fuga de Deus seja possível, mas o tempo deixará claro que isso é pura ilusão.

4. Erros antigos surgirão novamente, e a igreja precisa estar firmada no Senhor para combatê-los mais uma vez. Lembre-se que Jabim surgiu de novo no livro de Juízes. Em termos de doutrina, isso também é verdade. A antiga heresia ariana [1] surgiu, novamente, com as Testemunhas de Jeová.

5. Homens grandemente usados reconheceram a sua pequenez. Um pequeno homem nas mãos do grande Deus pode realizar grandes proezas: “Não que sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se viesse de nós mesmos, mas a nossa capacidade vem de Deus” (2 Coríntios 3:5).

6. A mulher também tem o seu lugar na obra de Deus. Deus salva homens e mulheres. Deus usa homens e mulheres. Eis alguns exemplos de mulheres que ocuparam posição de liderança na política:

a) Mireya Moscoso: presidente do Panamá de 1999 a 2004.

b) Cristina Fernández de Kirchner: presidente da Argentina de 2007 a 2015.

c) Simonetta Sommaruga: Membro do Conselho Federal da Suíça de 2010 até hoje.

d) Kolinda Grabar-Kitarović: Presidente da Croácia de 2015 até o presente.

7. Débora nos ensina algumas lições importantes sobre liderança:

I. O líder deve ouvir a Deus.

II. O líder precisa ter o coração de servo.

III. O líder deve delegar tarefas.

IV. O líder deve liderar com a autoridade recebida de Deus.

V. O líder precisa motivar o povo.

VI. O líder precisa ser respeitado pelos liderados.

8. Embora os nossos inimigos sejam cruéis, precisamos entender que a vingança pertence ao Senhor. A nós cabe apenas orar por eles e abençoá-los

“Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mateus 5:44)

Fabrício A. de Marque

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Notas:

[1] “O Arianismo [...] é a crença de que Jesus era um ser criado com atributos divinos, mas não era divindade em Si mesmo” (https://www.gotquestions.org/Portugues/Arianismo.html)

Débora, Baraque e o Juízo do Senhor (Jz 4:1-24)

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