pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: ESTUDO 09: A Felicidade de Ser Perdoado

ESTUDO 09: A Felicidade de Ser Perdoado


LEITURA DO TEXTO:

1. Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada e cujo pecado é coberto! 2. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui culpa e em quem não há engano! 3. Enquanto me calei, meus ossos se consumiam de tanto gemer o dia todo. 4. Porque tua mão pesava sobre mim de dia e de noite; meu vigor se esgotou como no calor da seca. 5. Confessei-te meu pecado e não encobri minha culpa. Eu disse: Confessarei as minhas transgressões ao SENHOR; e tu perdoaste a culpa do meu pecado. 6. Assim, todo homem piedoso te fará súplicas em tempo de poder te encontrar; quando as muitas águas transbordarem, elas não o atingirão. 7. Tu és o meu esconderijo e me preservas da angústia; tu me cercas com alegres cânticos de livramento. 8. Eu te instruirei e ensinarei o caminho que deves seguir; eu te darei conselhos sob a minha vista. 9. Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio, pois de outra forma não se sujeitam a ti. 10. O ímpio tem muitas aflições, mas a misericórdia acompanha quem confia no SENHOR. 11. Alegrai-vos no SENHOR e regozijai-vos, ó justos; cantai de júbilo, todos vós que sois retos de coração.” (Salmos 32.1-11, A21)

INTRODUÇÃO

Karl Menninger (1893—1990) foi um psiquiatra norte-americano. Em 1973, ele escreveu o livro: “O que aconteceu com o Pecado?”. Nesta obra, ele afirma que a sociedade perdeu a consciência do pecado e da culpa. Como resultado, surgiram inúmeros problemas mentais, morais e sociais. De fato, a constatação feita por ele é bíblica. O pecado é a raiz de todos os males e sofrimentos do homem.

SOBRE O SALMO 32

Davi é o autor do salmo 32. O salmo se encontra presente na categoria dos “Salmos Penitenciais”. Os comentaristas relacionam o salmo 32 com o salmo 51. Depois de cometer adultério, Davi sentiu o peso da mão de Deus sobre ele. Após se arrepender, ele foi graciosamente perdoado, e experimentou felicidade. À luz desses fatos, qual o propósito do Salmo 32? O seu propósito é nos ensinar sobre a felicidade do homem perdoado por Deus. Quanto ao propósito do salmo 32, Calvino disse:

Davi, neste Salmo, nos ensina que a felicidade dos homens consiste única e exclusivamente no gracioso perdão dos pecados, porquanto nada pode ser mais terrível do que ter Deus por nosso inimigo; tampouco pode ele ser gracioso para conosco de outra maneira senão em perdoar nossas transgressões. [1]

ESTRUTURA DO SALMO 32:

Conceito de Pecado e de Perdão
(vv. 1-2)
O Testemunho de Davi
(vv. 3-6)
As Bênçãos do Perdão
(vv. 7-11)

I.  CONCEITO DE PECADO E PERDÃO (vv. 1-2)

1. Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada e cujo pecado é coberto! 2. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui culpa e em quem não há engano!

O que é pecado? Millard Erickson define com as seguintes palavras:

Qualquer ato, atitude ou inclinação que deixa de alcançar ou cumprir plenamente os padrões da retidão de Deus. Pode envolver uma transgressão real da lei de Deus ou uma falha em viver de acordo com suas normas. [2]

No primeiro verso, Davi utiliza duas palavras para falar do pecado. Ele usa פֶּשַׁע (peshaʽ) e חָטָא (āā’). A primeira palavra significa “transgressão” e “rebelião”. A segunda, significa “errar o caminho”, “ofensa” e “grande pecado”. Isso tudo nos ensina que o pecado é a causa de todos os males. O puritano Thomas Watson (1620—1686) expressou a malignidade do pecado com palavras fortíssimas:

O pecado é o ventre de nossas tristezas e o túmulo de nosso consolo. O pecado é a força da morte e a morte da força.

Quem não entende a gravidade do pecado, jamais entenderá a grandiosidade da cruz. Antes de entender o perdão, precisamos entender a ofensa.
Em seguida, Davi afirma que bem-aventurado é aquele que recebe o perdão de Deus. Mas o que é perdão? Perdão é o cancelamento da culpa que pairava sobre alguém. Quando Deus perdoa, não significa que Ele ignorou o pecado praticado. Deus puniu todos os nossos pecados na Pessoa de Jesus Cristo.

 “Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado.” (Romanos 4.8)

II.  O TESTEMUNHO DE DAVI (vv. 3-6)

Nesta parte do salmo, Davi compartilha a angustiosa experiência pela qual passou. Ele conta a forma errada com que lidou com o pecado, mas, em seguida, revela como resolveu a situação.

2.1. Davi descreve a sua condição (vv. 3-4).
Após pecar, Davi simplesmente ocultou o seu ato, ao invés de confessar ao Senhor. Como consequência, ele experimentou consequências em três áreas de sua vida.

a. Consequências físicas.

“Enquanto me calei, meus ossos se consumiam de tanto gemer o dia todo” (v. 3)

O pecado de Davi o fez adoecer fisicamente. Talvez, ele ficou enfermo, ou ficou fisicamente indisposto de alguma outra forma. O pecado mata, não só espiritualmente, mas também fisicamente. Membros da igreja de Corinto morreram ao participar indevidamente da Ceia (cf. 1 Coríntios 11.29-30).

b. Consequências espirituais.

“Porque tua mão pesava sobre mim de dia e de noite [...]” (v. 4a)

Davi sentiu o peso da mão de Deus por ter ocultado o seu pecado. Deus o atormentou diariamente com o peso da culpa e da angústia. Certamente, Davi não conseguia orar, nem ler a Lei do Senhor. Ocultar o pecado prejudicou a sua comunhão com Deus.

c. Consequências emocionais.

“[...] meu vigor se esgotou como no calor da seca” (v. 4b)

Davi perdeu sua força emocional. O pecado bagunça completamente as nossas emoções, gerando desequilíbrio. Nem toda tristeza é resultado do pecado, mas todo pecado gera tristeza.

2.2. Davi toma uma decisão (v. 5).

Confessei-te meu pecado e não encobri minha culpa. Eu disse: Confessarei as minhas transgressões ao SENHOR; e tu perdoaste a culpa do meu pecado.

Davi abriu a sua boca, deu nome ao pecado, e clamou pelo perdão divino. Confessar o pecado não significa informar Deus sobre algo que Ele não sabia. Ao contrário, significa reconhecer a nossa culpa (que Ele sabe muito bem dela) e clamar para que o Senhor nos purifique.  Não há perdão sem confissão.

Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” (1 João 1.8-9)

2.3. Davi dá um conselho (v. 6).

Assim, todo homem piedoso te fará súplicas em tempo de poder te encontrar; quando as muitas águas transbordarem, elas não o atingirão.

Neste verso, Davi diz ao Senhor que o homem piedoso haverá de buscá-lo. E quando isso acontecer, Deus agirá em seu favor (“as águas não o atingirão”). Davi experimenta esse socorro em sua própria vida. Se Davi continuasse ocultando seu pecado, ele se afogaria nas “águas”, símbolo do tormento e da tribulação.

“Quanto mais tempo ficamos com o pecado escondido ou não confessado, mais tempestades virão sobre nós. Quanto mais rápido confessamos evitaremos a disciplina ou a mão de Deus pesando sobre a nossa vida.” (Arival Dias Casimiro)

III.  AS BÊNÇÃOS DO PERDÃO (vv. 7-11)

Aqui, na parte final do salmo, Davi apresenta as bênçãos do homem perdoado. Há quatro bênçãos que advém do perdão de Deus:

3.1. A bênção de ter Deus como refúgio (v. 7).

Tu és o meu esconderijo e me preservas da angústia; tu me cercas com alegres cânticos de livramento.

Ser preservado da angústia significa ser protegido e guardado dela. Correr para o Senhor em tempos de angústia é garantia de preservação. Deus nos preserva da tristeza, da angústia, do desespero. Deus enche os lábios do perdoado de cânticos de livramento.

3.2. A bênção de ter Deus como professor (vv. 8-9).

8. Eu te instruirei e ensinarei o caminho que deves seguir; eu te darei conselhos sob a minha vista. 9. Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio, pois de outra forma não se sujeitam a ti.

Alguns intérpretes acreditam que é Davi quem está falando nesses dois versos. Outros, acreditam que se trata do próprio Deus falando para Davi. Todavia, julgo ser correto pensar em Deus falando a Davi no verso 8, e Davi falando ao povo no verso 9. De qualquer maneira, a mensagem é clara: todo pecado faz do pecador um homem estúpido e insensato. O pecado emburrece, pois o homem se comporta como um animal que não pensa. Davi agiu como tolo, por isso Deus colocou um freio sobre ele, para barrá-lo.

3.3. A bênção de ter Deus como esperança (v. 10).

O ímpio tem muitas aflições, mas a misericórdia acompanha quem confia no SENHOR.

Davi estabelece um contraste entre o justo e o ímpio, semelhante ao Salmo 1. O ímpio tem muitas aflições.  A Bíblia diz, por exemplo, que não há paz para o ímpio (cf. Isaías 48.22). O justo, por sua vez, é amparado pela misericórdia de Deus. Ao confiar no Senhor, o justo é livrado de muitas aflições (cf. 1 Crônicas 4.10).

3.4. A bênção de ter Deus como sua alegria (v. 11).

Alegrai-vos no SENHOR e regozijai-vos, ó justos; cantai de júbilo, todos vós que sois retos de coração.

Por fim, o salmo termina com uma ordem coletiva de Davi. Ele convoca todos os justos e retos de coração ao louvor a Deus. Davi termina assim, porque a alegria é resultado do perdão de Deus. Quem é perdoado, é uma pessoa alegre e feliz.

CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS

(1) as igrejas precisam voltar a ensinar, com consistência, a doutrina do pecado e a doutrina do perdão. Sem o entendimento adequado dessas doutrinas, as pessoas confundirão pecado com “tropeço” e perdão com “desculpa”.

(2) o pecado gera consequências destruidoras, especialmente o pecado ocultado. Sejamos, portanto, rápidos em confessar ao Senhor, pois Ele é rico em graça e pronto a perdoar (cf. Salmos 86.5).

(3) não coloque o teu desempenho como padrão da tua felicidade. Na vida cristã, passamos por altos e baixos. Por isso, a felicidade não reside em nossa capacidade, mas no favor do Senhor.

CONCLUSÃO

O salmo 32 nos ensina duas verdades fundamentais. A primeira delas é que o perdão de Deus é a porta de entrada para a felicidade. Sem perdão, não há libertação das consequências nefastas do pecado. A segunda, é que não há perdão sem confissão e abandono do pecado. Confessar é remover o lixo do pecado.




Fabrício A. de Marque

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Notas:
[1] CALVINO, João. Salmos, volume 2, São José dos Campos: Fiel, 2011. p. 33.
[2] ERICKSON, Millard J. Dicionário popular de teologia. São Paulo: Mundo Cristão, 2011. pp. 147-148.



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