pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: Como Ler os Pré-Socráticos: Cristina de Souza Agostini

Como Ler os Pré-Socráticos: Cristina de Souza Agostini


Quem escreveu o livro? O nome da autora é Cristina de Souza Agostini. Cristina carrega em seu currículo acadêmico duas graduações (uma em Filosofia e outra em Licenciatura), além de possuir um mestrado e um doutorado em Filosofia. Quando o livro foi escrito, ela ainda estava cursando o doutorado. Anos mais tarde, a autora foi em busca de seu pós-doutorado (2017—2019). Atualmente, ela leciona na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), e possui experiência como professora de Ensino Fundamental e Médio.

Embora, na sua maioria, os livros de Filosofia não sejam tão agradáveis de ler, devido à exagerada erudição e ao linguajar rebuscado dos escritores (em minha opinião, algo negativo), não é o caso desse livro. Cristina escreve de maneira acessível e simples, sem ser superficial. É possível ser claro e simples, mesmo quando o assunto for complexo. Aliás, muitos escritores precisam aprender a arte da comunicação escrita.

A obra foi publicada em 2012 pela editora Paulus. Faz parte de uma interessante coleção chamada “Como Ler Filosofia”. O livro é pequeno, o que nos permite lê-lo em pouco tempo, e aprender bastante. Após a apresentação, o livro está estruturado em 4 capítulos, seguido de uma conclusão repleta de reflexões interessantes, pensadas à luz do contexto contemporâneo. Além disso, no fim de cada capítulo, você encontra um pequeno quadro com perguntas para reflexão. O propósito é que o leitor reflita com maior profundidade acerca do que foi lido.

No capítulo I (“Antes da Filosofia era Homero...”), a autora nos apresenta o pensamento mítico que precedeu os filósofos pré-socráticos. A mentalidade grega era profundamente mergulhada nos mitos, ou seja, na crença em diversos deuses. Qualquer fenômeno natural — uma tempestade, por exemplo — era atribuído à ação dos deuses. Os mitos se arraigaram ainda mais na mentalidade das pessoas por meio dos famosos poemas de Homero: Ilíada e Odisseia. Assim, toda explicação apresentada tinha como pressuposto o mito. Nada acontecia sem a ação dos deuses, nem mesmo as estações do ano.

No capítulo II (“Os Primeiros Filósofos: as investigações naturais”), a autora explica a transição de pensamento que ocorreu através dos filósofos denominados “pré-socráticos”. Segundo eles, os eventos naturais devem ser explicados a partir dos elementos naturais, e não através dos deuses. É neste contexto que aparece Tales de Mileto (625—558 a.C.), considerado o pai da filosofia ocidental. Com seu famoso axioma “tudo é água”, Tales tenta explicar cientificamente a causa última do universo.

Além de Tales, vários filósofos tentaram explicar a origem de todas as coisas. Cada um tomou um elemento específico da natureza, ou uma combinação deles (terra, fogo, água, ar), para fundamentar sua argumentação. A autora não aborda o pensamento de cada filósofo pré-socrático, mas escolhe apenas alguns para tecer algumas considerações. Além de Tales, ela comenta sobre Anaxímenes de Mileto (585—528 a.C.), Heráclito de Éfeso (540—470 a.C.) e Xenófanes de Colofão (570—528 a.C.).

No capítulo III (“A Velha Oposição Entre Mito e Filosofia”), a autora mostra que o mito e a filosofia não se excluem mutuamente. Segundo ela, para a mente grega, o mito (grego: mythos, “palavra”) não é necessariamente uma mentira, mas uma forma de explicar a origem e os fenômenos da natureza, a partir dos deuses. Na filosofia pré-socrática, tenta-se fazer o mesmo, porém, não a partir dos deuses, mas a partir dos elementos da própria natureza. Tanto o mito quanto a filosofia tentam, no fim das contas, explicar a causa última de todas as coisas.

No capítulo IV (“A Repercussão dos Pré-Socráticos na Filosofia”), a autora afirma que os pensadores modernos têm uma dívida para com os pré-socráticos, apesar dos muitos séculos que os separam. Filósofos recentes, como Hegel, Nietzsche e Heidegger, desenvolveram novas concepções filosóficas para o contexto contemporâneo, e eles assim o fizeram após retornarem para os pré-socráticos. Ademais, o Teorema de Tales e o Teorema de Pitágoras, ainda hoje são utilizados nas escolas para estudar Matemática. Assim, os pré-socráticos continuam contribuindo para a educação ocidental, ainda que em alguns pontos somente.

Portanto, não deixe de ler essa excelente obra de filosofia. É fundamental compreender o pensamento do passado e acompanhar o seu desenvolvimento, bem como as mudanças que ocorreram durante os séculos. A história do mundo não começou no dia do nosso nascimento. Começou muito antes disso. Todavia, temos a oportunidade de conhecer aqueles que nos precederam. Volte no tempo. Entenda os dilemas de nossos antepassados e celebre, porque muitos questionamentos levantados por eles, já foram respondidos por outros.



Fabrício A. de Marque



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