Pensando as Escrituras: Olhares Escatológicos (3/4): Amilenismo

Olhares Escatológicos (3/4): Amilenismo

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O Amilenismo é a linha escatológica que ensina que o Milênio de Apocalipse 20 é simbólico, e não literal. O termo significa literalmente “nenhum milênio”. Os amilenistas acreditam que, além de simbólico, o Milênio engloba toda a era do Novo Testamento. O Milênio começou na encarnação de Jesus Cristo (Primeira Vinda) e terminará com o Seu bendito Retorno (Segunda Vinda). Entre essas vindas, os mil anos estão em andamento. Por ser simbólico, o tempo de sua duração é indeterminado para nós; só Deus o sabe.

Muitos teólogos do passado foram e muitos do presente são amilenistas. Cito apenas alguns: Geerhardus Vos (1862—1949), Louis Berkhof (1873—1957), Martyn Lloyd-Jones (1899—1981), Anthony A. Hoekema (1913—1988), e outros. No Brasil, temos: Paulo Anglada (1954—2019), Augustus Nicodemus, Leandro Lima, Héber Campos Jr., Hernandes Dias Lopes, e outros. Grande parte dos presbiterianos é amilenista. Todavia, é possível encontrar muitos amilenistas entre os batistas também, especialmente entre os batistas de linha reformada.

Além do Milênio (conforme explicado no início), o Amilenismo afirma que os 22 capítulos de Apocalipse não revelam acontecimentos sucessivos em ordem cronológica, como se fosse uma história linear com início, meio e fim. Em vez disso, o livro possui sete seções da mesma história. A mesma história é repetida sete vezes. Assim, novos detalhes são acrescentados em cada seção, fazendo com que a revelação caminhe para o ápice final. Segundo o Amilenismo, é dessa forma que devemos ler o livro de Apocalipse.

Outra característica do Amilenismo é que as duas ressurreições de Apocalipse são diferentes. A primeira ressurreição é espiritual, ou seja, diz respeito ao novo nascimento daqueles que creram em Cristo. A segunda ressurreição é física, e acontecerá quando Cristo retornar. Na Segunda Vinda de Cristo, os cristãos e os ímpios ressuscitarão ao mesmo tempo, e cada grupo irá para o destino que lhe aguarda.

Além dessas características, o Amilenismo acredita que o mundo ficará pior à medida que a Segunda Vinda de Cristo se aproxima. Por isso, o texto de Mateus 24.21 fala do que acontecerá no futuro: “Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora e nunca jamais haverá” (NAA). Assim, os sinais catastróficos são como “um apito de trem e o zunido dos trilhos” (Ronald Ranko) preparando o Retorno de Jesus.

Em relação ao Anticristo, o Amilenismo ensina que ele é um homem que surgirá no fim da história. No entanto, no momento presente, já existe muitos outros anticristos atuando no mundo (1Jo 2.18). Os líderes das seitas atuais — incluindo o Papa — se encaixam perfeitamente na descrição do “homem da iniquidade”, mencionado por Paulo (2Ts 2.3).

Ao analisar o Amilenismo, concluo que se trata de um sistema escatológico que se aproxima muito mais da Bíblia do que o Dispensacionalismo e Pré-Milenismo Histórico. Concordo com o Amilenismo em muitos pontos. No entanto, não é possível aceitar o pessimismo histórico ensinado por ele.

Segundo o Amilenismo, o evangelho será pregado a todas as nações e muitas pessoas serão salvas. No entanto, o mundo ficará pior, e não melhor. Não haverá transformações significativas na sociedade em geral. Cadê o Evangelho transformando o mundo por meio desses convertidos? Ora, Jesus disse que o reino dos céus é semelhante ao fermento, capaz de levedar tudo (Mt 13.33). O reino dos céus e o pessimismo histórico são contraditórios.

Além disso, o Amilenismo situa o Milênio entre a Primeira e a Segunda Vinda de Cristo. No entanto, isso parece não fazer sentido, pois o Milênio, isto é, a era dourada do Cristianismo, ainda não chegou. O que precederá o Retorno de Jesus é um mundo consideravelmente transformado pelo Cristianismo, e não um caos mundial. Sendo assim, principalmente por causa do pessimismo histórico, é que não sou amilenista.

Fabrício A. de Marque

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