O que é incesto? Incesto é a “união sexual entre parentes consanguíneos, especialmente entre pais e filhos, ou entre irmãos” (Dicionário Dício). Deus proibiu claramente o incesto: “Nenhum homem se chegará a qualquer parenta da sua carne, para lhe descobrir a nudez. Eu sou o Senhor” (Levítico 18.6). 

No entanto, Caim, o filho mais velho de Adão e Eva, se casou com uma de suas parentes. Isso não seria errado? Caim praticou o incesto? Para responder essa pergunta, precisamos, em primeiro lugar, considerar o período em que Caim viveu, assim como o período em que Deus proibiu a prática do incesto.

A proibição divina presente no livro de Levítico foi escrita milhares de anos depois do tempo de Caim. O mandamento foi escrito na época de Moisés, isto é, aproximadamente em 1500 AC. Isso significa que, na época de Caim, o casamento com parentes próximos era uma necessidade circunstancial. No entanto, à medida que a raça humana foi se multiplicando, Deus estabeleceu tal proibição.

O segundo ponto a ser considerado é que Caim só poderia se casar com uma pessoa próxima dele. Caim se casou com alguma de suas irmãs, com alguma sobrinha, ou ainda, com alguma sobrinha-neta. Lembre-se que a população estava crescendo e se multiplicando. Além de Caim e Abel, Adão e Eva tiveram outros filhos, como o filho chamado Sete, por exemplo. Depois do nascimento de Sete, Adão ainda viveu 800 anos. Evidentemente, durante esses séculos, Adão gerou muitos filhos e filhas (cf. Gn 5.4).

Posto isso, surge um questionamento: quem, afinal, foi a esposa de Caim? Bem, a Bíblia não revela essa informação. Algumas tradições abraâmicas afirmam que a esposa de Caim se chamava אָוֶן (ʼāwen), cujo significado é “vício” ou “iniquidade”. No entanto, isso é apenas tradição, e não declaração inspirada.

Por fim, a lição que fica é que o incesto ainda é pecado aos olhos de Deus. Prova disso é que algumas anomalias genéticas são mais frequentes em filhos que nasceram a partir da união incestuosa. Ademais, vale destacar que um membro da igreja de Corinto foi expulso da igreja por estar praticando o incesto (cf. 1Co 5.1).

Assim, concluo essa reflexão afirmando que, de fato, Caim se casou com uma parente próxima. No entanto, o seu casamento se deu por uma necessidade circunstancial e antes da proibição divina ser estabelecida. A união de Caim com sua parente próxima foi aceitável diante de Deus, porém, se tal união tivesse ocorrido após o mandamento de Levítico 18,  ela seria reprovável.

Hoje, no século XXI, milhares de anos após a proibição do incesto, o casamento com parentes próximos continua sendo pecaminoso. Deus não reconhece a suposta legitimidade dessa união, mesmo que haja a aprovação de testemunhas e ainda que seja realizada em nome do “amor”.

Fabrício A. de Marque