pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: O cristão não volta para a casa depois da morte

O cristão não volta para a casa depois da morte


Com certa frequência, cristãos dizem frases aparentemente verdadeiras, mas que se revelam incoerentes depois uma análise mais atenta. Um pensamento bastante comum entre nós é o seguinte: “Quando um crente em Jesus morre, ele volta para a casa, para o lar celestial”. Por isso, quando queremos consolar uma pessoa enlutada, dizemos a ela: “Descanse o coração, ele está muito melhor agora, pois voltou para a casa”. Qual o problema com afirmações desse tipo?


Vamos refletir um pouco sobre isso. Voltar para o lar significa que estivemos no lar em algum momento no passado. Só é possível voltar para um lugar se você esteve nesse lugar anteriormente. Ninguém volta de onde nunca saiu. Correto? Por exemplo, quando vou ao supermercado, digo para minha esposa: “Amor, vou fazer compras e volto daqui a pouco”. Quando retorno para minha casa, digo: “Voltei!”. A minha casa é o lugar de onde saí e, por isso, faz todo sentido dizer que voltei para a minha casa.


Agora voltemos à frase inicial. Qual é o pressuposto por trás dela? Muitos que usam essa frase certamente não têm consciência do que está escondido nos bastidores. Refiro-me à doutrina do pré-existencialismo. Essa doutrina tenta responder à seguinte questão: “De onde vem a alma humana?” A proposta do pré-existencialismo é a seguinte: as nossas almas existiam num estado anterior, antes de assumir os corpos físicos. Antes de sermos formados fisicamente no ventre de nossa mãe, a nossa alma já existia em algum lugar.


Essa teoria nasceu na filosofia grega, tendo como um de seus principais defensores o filósofo Platão (428—348 a.C.). Teólogos do passado também ensinaram o pré-existencialismo, como é o caso de Orígenes (185—253 d.C.). Paulo Anglada afirmou que “Orígenes cria na queda pré-temporal das almas humanas, e explicava as desigualdades físicas e morais da presente existência dos seres humanos como castigo por pecados cometidos em uma existência anterior[1]. Evidentemente, essa teoria não tem fundamento bíblico, e serviu de base para a doutrina da reencarnação, apregoada pelo Espiritismo e por algumas religiões orientais.


Sendo assim, se alguém volta para o lar depois da morte, significa que essa pessoa já esteve nesse lar no passado. No entanto, sabemos que nunca estivemos no céu antes de sermos criados por Deus. O nosso corpo e a nossa alma — os dois juntos — foram formados no momento da concepção, e fomos concebidos com natureza pecaminosa (Sl 51.5) [2]. Nunca estivemos no ambiente celestial junto de Deus e de Seus anjos.


Diante disso, o que fazer com a frase que estamos acostumados a usar? Podemos optar por outra que seja melhor? Sim, podemos modificar a frase e optar por algo bíblico. Podemos dizer: “Fulano foi para a casa. Ele partiu para estar com Cristo para sempre”. Perceba que voltar para o lar é diferente de ir, pela primeira vez, para o lar. Quando um cristão morre, ele vai, finalmente, para a presença de Deus face a face, embora o céu seja um lugar temporário — e não permanente — para o povo de Deus (2Pe 3.13; Ap 21.1) [3]. Nos dizeres de Paulo, quando um crente morre em Jesus, ele parte daqui para estar com Cristo, o que é muito melhor (2Tm 4.6; Fp 1.23) [4].

 


Fabrício A. de Marque  

 


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Notas:

[1] ANGLADA, Paulo. Imago Dei: Antropologia Reformada. Knox Publicações, 2013.

[2] “Eu nasci em iniquidade, e em pecado minha mãe me concebeu” (Sl 51.5, A21).

[3] “Nós, porém, segundo sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça” (2Pe 3.13, A21) e “Então vi um novo céu e uma nova terra. Pois o primeiro céu e a primeira terra já se foram, e o mar já não existe” (Ap 21.1, A21).

[4] “Quanto a mim, já estou sendo derramado como oferta de libação, e o tempo da minha partida está próximo” (2Tm 4.6, A21) e “Sinto-me, porém, pressionado de ambos os lados, tendo desejo de partir e estar com Cristo, pois isso é muito melhor” (Fp 1.23, A21).



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