Não é de hoje que tenho falado sobre o cumprimento profético de Mateus 24. Ali é dito que o Filho do Homem virá “sobre as nuvens do céu com poder e grande glória” (cf. Mt 24.30). Quando essa profecia foi proclamada, o seu cumprimento, evidentemente, ainda estava no futuro. Entretanto, hoje, após muitos séculos, essa profecia ficou no passado, pois ela se cumpriu na geração dos apóstolos de Cristo.

Muitos ficam profundamente incomodados com essa afirmação, o que revela a influência acentuada do futurismo em sua perspectiva escatológica e profética. Quero, novamente, deixar claro que defender que essa profecia se cumpriu no século primeiro da era cristã não significa, outrossim, que negamos o futuro Retorno de Cristo para julgar os vivos e os mortos.

Cremos piamente que o Senhor Jesus voltará para colocar fim na presente era pecaminosa e, assim, inaugurar o estado eterno. Contudo, o ponto é que Mateus 24 não está falando a respeito desse acontecimento futuro, mas do cerco de Jerusalém que ocorreu no ano 70 DC.

Diante da afirmação preterista parcial em relação à vinda de Jesus em Mateus 24, alguns questionam: “Por acaso Jesus veio fisicamente no século 1? Ele apareceu sobre as nuvens do céu com o corpo ressurreto? Que absurdo! Isso só pode ser heresia!”.

Respondemos a tais objeções, afirmamos que a vinda de Jesus em Mateus 24 não aconteceu literalmente no corpo. Jesus permanece no céu, à direita de Deus Pai, com o Seu corpo ressurreto: corpo literal de carne e osso. Quando Deus julgou a cidade de Jerusalém no ano 70, Ele lançou mão do exército romano para efetuar esse julgamento. Isso significa, portanto, que a vinda de Jesus não foi corpórea.

Talvez essa confusão seja um dos principais pontos de discordância em relação a essa passagem profética. É por isso que os futuristas protestam: “Se Jesus veio sobre as nuvens no ano 70, onde estão os registros desse acontecimento? Alguma testemunha ocular viu Jesus nas nuvens?”.

Embora Jesus não tenha aparecido fisicamente na nuvens, a Sua vinda, de fato, aconteceu. Como eu disse, isso ocorreu através do exército de Roma. Se os futuristas querem provas históricas do cumprimento dessa profecia, basta consultarem os historiadores Flávio Josefo (37 ou 38—ca. 100) e Eusébio de Cesareia (ca. 265—339). Tudo foi documentado por eles.

Sendo assim, o preconceito de várias pessoas em relação ao preterismo parcial, é porque elas não entenderam, devidamente, o que esse sistema hermenêutico ensina. Garanto que, se elas gastarem tempo debruçadas sobre os ensinamentos dessa abordagem, a visão escatológica delas será positivamente transformada.

 

Fabrício A. de Marque