pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: O Evangelho da Prosperidade

O Evangelho da Prosperidade


A igreja evangélica brasileira enfrenta inúmeros problemas: pobreza, misticismo, analfabetismo e muitos outros. Além desses problemas, existe o problema do surgimento das “novas teologias”. Uma dessas “novas teologias” chama-se “teologia da prosperidade”. Alan Pieratt [1] resumiu a teologia da prosperidade com as seguintes palavras: “À semelhança do Evangelho, ele [o evangelho da prosperidade] proclama boas novas. Mas as boas não são de que temos o perdão de pecados e paz com Deus por meio de Cristo. São de que podemos ter a solução de nossos problemas e viver com saúde e prosperidade”. Sendo assim, quais são os principais ensinos do evangelho da prosperidade? De que maneira podemos responder biblicamente a esses ensinos?

I. "QUALQUER SOFRIMENTO DO CRISTÃO SIGNIFICA FALTA DE FÉ”.
Sofrimentos de toda espécie é sinônimo de falta de fé: crise existencial, problemas conjugais, dificuldades financeiras, enfermidades, etc. Ensinam que a fé exige e reivindica os seus direitos em nome de Jesus. Portanto, se um cristão sofre, é porque ele não tem fé suficiente.

O QUE DIZ A BÍBLIA SOBRE ESSE ENSINO?

1. Deus envia aflições tendo em vista a disciplina do Seu povo.
Veja o que diz o escritor de Hebreus: “No combate contra o pecado, ainda não haveis resistido a ponto de derramar sangue. Já vos esquecestes do ânimo de que ele vos fala como a filhos: Filho meu, não desprezes a disciplina do Senhor, nem fiques desanimado quando por ele és repreendido. Pois o Senhor disciplina a quem ama e pune a todo que recebe como filho” (Hb 12:4-6) [2].

2. Deus envia aflições tendo em vista o crescimento do Seu povo.
O salmista precisava crescer em obediência: “Antes de ser castigado, eu me desviava; mas agora obedeço à tua palavra” (Salmos 119:67). O salmista precisava valorizar a Palavra de Deus: “Foi bom eu ter sido castigado, para que aprendesse teus decretos” (Salmos 119:71). Paulo precisava crescer em humildade: “Portanto, para que eu não me tornasse arrogante, foi-me posto um espinho na carne, um mensageiro de Satanás para me atormentar, para que eu não me tornasse arrogante” (2 Coríntios 12:7).

3. Deus envia aflições tendo em vista a glória do Seu nome.
Um homem nasceu cego para a glória de Deus. O que será que os evangelistas da prosperidade teriam dito para o homem cego de nascença? Certamente diriam que a origem do problema estava na ausência de fé ou numa vida de pecado. No entanto, veja o que diz a Bíblia sobre a deficiência visual desse homem: “Passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E seus discípulos lhe perguntaram: Rabi, quem pecou para que ele nascesse cego: ele ou seus pais? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas isso aconteceu para que nele se manifestem as obras de Deus” (João 9:1-3).

II. “SOMOS FILHOS DO REI, NÃO PODEMOS SER POBRES”.
Ensinam que a prosperidade financeira é um direito de todo cristão. Não é da vontade de Deus que haja cristãos pobres. Alguns jargões são muito utilizados por eles: Deus quer que Seus filhos comam a melhor a comida, vistam as melhores roupas, dirijam os melhores carros, morem nas melhores casas e conquistem o melhor de todas as coisas”. Curioso é que os cristãos hebreus, quando se converteram, perderam todos os bens que tinham: “Pois não só vos compadecestes dos que estavam nas prisões, mas também aceitastes com alegria o confisco dos próprios bens, sabendo que tendes a posse de algo melhor e permanente” (Hebreus 10:34).

O QUE DIZ A BÍBLIA SOBRE ESSE ENSINO?

1. A Bíblia diz que o dinheiro pode ser uma armadilha.
Aqueles que querem ficar ricos caem nessa armadilha: Mas os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos loucos e nocivos, que afundam os homens na ruína e na desgraça. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e por causa dessa cobiça alguns se desviaram da fé e se torturaram com muitas dores” (1 Timóteo 6:9-10). Judas Iscariotes caiu nessa armadilha: “Então Judas Iscariotes, um dos Doze, dirigiu-se aos principais sacerdotes para lhes entregar Jesus. Ouvindo-o, eles se alegraram e prometeram dar-lhe dinheiro. E ele procurava uma ocasião oportuna para entregá-lo” (Marcos 14:10-11).

2. A Bíblia diz que a modéstia é o padrão de Deus a ser buscado.
Modéstia é uma característica da pessoa que não se importa com luxo nem ostentações” [3]. Devemos ser satisfeitos porque temos o necessário para viver, isto é, “[...] alimento e roupa” (1 Timóteo 6:8). Ademais, Deus prometeu suprir apenas as nossas necessidades: “Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer?’ ou ‘que vamos beber?’ ou ‘que vamos vestir?’ [...] Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas” (Mateus 6:31, 33) [4].

3. A Bíblia diz que Deus se importa com os pobres.
A maneira como tratarmos o pobre reflete a maneira como Deus é tratado: “Quem oprime o pobre insulta seu Criador, mas dá-lhe honra quem se compadece do necessitado” (Provérbios 14:31). Visto que Deus é o Criador do rico e do pobre (cf. Provérbios 22:2) [5], puxar o saco de pessoas ricas significar agir com parcialidade pecaminosa. Além disso, também é pecaminoso tratar o pobre como se ele fosse inferior às outras pessoas da sociedade. Ser rico não é virtude de caráter e ser pobre não é defeito de caráter.

III. “DEUS CURA SEMPRE E A TODOS. A ENFERMIDADE É SINAL DE INCREDULIDADE”.
O evangelho da prosperidade ensina que as doenças não são da vontade de Deus, porque Deus é amor. Esses líderes afirmam que Deus prometeu curar a todos. Para embasar tal argumentação, eles apelam para Isaías 53:5b: [...] o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”. Segundo eles, uma pessoa doente não tem fé ou está em pecado. Contudo, fomos sarados da angústia, da miséria e do sofrimento do pecado. Deus não prometeu curar todos os Seus filhos.

O QUE DIZ A BÍBLIA SOBRE ESSE ENSINO?

1. A Bíblia revela que os cristãos ficam doentes.
(a) Paulo adoeceu e não foi curado mesmo pedindo três vezes ao Senhor [6]: “Portanto, para que eu não me tornasse arrogante, foi-me posto um espinho na carne, um mensageiro de Satanás para me atormentar, para que eu não me tornasse arrogante. Pedi ao Senhor três vezes que o tirasse de mim. Mas ele me disse: A minha graça te é suficiente, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Por isso, de muito boa vontade me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que o poder de Cristo repouse sobre mim. Por isso, eu me contento nas fraquezas, nas ofensas, nas dificuldades, nas perseguições, nas angústias por causa de Cristo. Pois, quando sou fraco, então é que sou forte” (2 Coríntios 12:7-10).

(b) Deus não curou Timóteo de sua enfermidade no estômago, de maneira que o jovem pastor precisou medicar-se com vinho: “Por causa do teu estômago e das tuas doenças frequentes, não bebas apenas água, mas também um pouco de vinho” (1 Timóteo 5:23).

(c) Trófimo ficou doente na cidade de Mileto: “Erasto ficou em Corinto. Deixei Trófimo doente em Mileto” (2 Timóteo 4:20) [7].

(d) Epafrodito quase morreu devido a uma grave enfermidade: “Contudo, achei necessário enviar-vos Epafrodito, meu irmão e cooperador, companheiro de lutas, a quem enviastes para me socorrer nas minhas necessidades; porque ele sentia saudades de todos vós e estava angustiado por saberdes que ele havia adoecido. Pois ele de fato esteve doente, à beira da morte; mas Deus se compadeceu dele, e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse uma tristeza após a outra” (Filipenses 2:25-27).

(e) Fora da Bíblia, vemos que a enfermidade atingiu severamente o reformador João Calvino (1509-1564). No ano de sua morte, Calvino escreveu uma carta aos seus médicos relatando as terríveis doenças que o afligiam com ímpeto: artrite, pedras nos rins, hemorroidas, febre, nefrite (inflamação renal), indigestão, cólicas, úlceras e sangue na urina [8].

2. A Bíblia revela que Deus está conosco mesmo nas enfermidades.
Deus está conosco nas situações mais difíceis e complicadas da vida. As dificuldades não nos afastam de Seu amor, e isso inclui as dificuldades produzidas pela doença: Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? (Romanos 8:35 ACF) [9].

3. A Bíblia revela que, na eternidade, as doenças serão eliminadas para sempre.
Enquanto estivermos com o corpo mortal, precisaremos lidar com as angústias e com os incômodos da enfermidade. No entanto, um dia os nossos corpos serão transformados: “Eis que eu lhes digo um mistério: nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados” (1 Coríntios 15:51-52 NVI). Na eternidade, seremos libertos dos sofrimentos e das dores que assolam esse corpo limitado: “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor [...]” (Apocalipse 21:4a ACF).

O Evangelho de Jesus deixa claro que somos amados por Deus mesmo quando enfrentamos sofrimento, pobreza e doença. As dificuldades que enfrentamos aqui são reais, mas também são passageiras. Portanto, guardemos no coração as palavras de Jesus: “[...] a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc 12:15b ARA) [10].

PS: Para assistir a essa aula pelo Youtube, acesse: https://youtu.be/l2WtEePEv1A


Fabrício A. de Marque

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Nota:
[1] “Teólogo, Ph.D. em Ciências da Religião e missionário da Missão americana WordVenture. Foi professor na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, onde lecionava as disciplinas de Hermenêutica e Teologia Contemporânea. Também foi presidente de Edições Vida Nova. Autor dos livros Oração: uma nova visão para uma antiga oração, Sinais e maravilhas e Evangelho da prosperidade” (https://teologiabrasileira.com.br/author/alan-pieratt/).
[2] Almeida Século 21 (A21).
[4] Nova Versão Internacional (NVI).
[5]O rico e o pobre têm isto em comum: O Senhor é o Criador de ambos” (NVI).
[6] Estou partindo do pressuposto de que o espinho na carne se trata de uma enfermidade física.
[7] “Deve ter sido difícil para Trófimo ser deixado em Mileto, a apenas uns sessenta quilômetros ao sul de seu lar em Éfeso. E teria sido uma penosa experiência para Paulo descobrir que nessa ocasião não recebeu nenhum poder do Senhor para sua cura. Na soberana providência de Deus, os crentes também ficam doentes” (William Hendriksen. Comentário do NT – 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. p. 408).
[8] Sobre a saúde de Calvino, cf. Timothy George: Teologia dos reformadores, p. 245.
[9] Almeida Corrigida Fiel (ACF).
[10] Almeida Revista e Atualizada (ARA).



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