pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: Moisés Era Gago?

Moisés Era Gago?


Falar em público nunca foi algo fácil. Não é sem razão que a maioria treme diante de um microfone. Por exemplo, uma pesquisa feita com três mil pessoas, cujo tema era “De que você tem mais medo?”, revelou que 41% delas têm medo de falar em público (Duane Litfin, Public Speaking, p. 329). Muitos acreditam que Moisés tinha medo de falar em público. Mas no caso dele, a situação era bem pior. Dizem que, além do desafio de falar em nome de Deus diante da autoridade egípcia, Moisés sofria de gagueira. Será que Moisés era gago?

Eis o texto bastante discutido: “Então Moisés disse ao Senhor: — Ah! Senhor! Eu nunca fui eloquente, nem no passado, nem depois que falaste a teu servo, pois sou pesado de boca e pesado de língua” (Êx 4.10). Pensando sobre esse versículo, muitos estudiosos (dentro e fora do campo teológico) apresentaram inúmeras interpretações. A hipótese de que Moisés era gago é apenas uma opinião dentre outras.

O rabino medieval Abraham Ibn Izra (1089—1167), acreditava que Moisés possuía um obstáculo em sua fala, mas que não se tratava de gagueira propriamente dita. Esse impedimento foi adquirido quando Moisés ainda era um garoto. Outros intérpretes veem algo positivo na expressão “pesado de boca e de língua”, indicando que o discurso de Moisés era profundo, lento e cuidadoso. Apesar disto, Moisés foi humilde e reconheceu que o seu irmão Arão era um orador muito melhor do que ele.

Em tempos recentes, o psiquiatra Sigmund Freud (1856—1939) disse que o problema de Moisés era linguístico. Por ter sido criado na corte egípcia, Moisés não sabia falar o hebraico. Boa parte dos intérpretes rabinos afirma que o problema de Moisés era literalmente a gagueira. Essa posição foi defendida, por exemplo, pelo rabino francês Rashi (1040—1105) e pelo rabino alemão Samson Raphael Hirsch (1808—1888).

Alguns estudiosos disseram que Moisés não tinha potência vocal, daí a necessidade de Arão ser o seu porta-voz. Outros afirmaram que Moisés imaginou que não seria aceito na corte egípcia, por ter assassinado um egípcio no passado. Outros sugerem que Moisés tinha dificuldade de organizar ideias e pronunciá-las com clareza, apesar de não ser gago. Neste sentido, dizem que a oratória de Moisés era ruim, assim como a de Paulo (2Co 10.10). E ainda outros acreditam que o problema de Moisés era impureza de lábios, tal como a do profeta Isaías (Is 6.5).

As interpretações são muitas. Mas, afinal, o que podemos concluir? Em primeiro lugar, note que a Bíblia diz que Moisés era poderoso em palavras: “E Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras” (At 7.22). Um dos significados da palavra “poderoso” (grego: δυνατός) é “excelente em algo”. Por isso, não creio que o problema de Moisés tenha qualquer relação com sua fala.

E em segundo lugar, perceba que Moisés apresenta uma desculpa após outra, mesmo Deus lhe dando garantia de sucesso na empreitada (Êx 4.1-9). O que, então, está acontecendo? Ao dizer que não é eloquente e que sua boca e língua são pesadas, Moisés está dando mais uma desculpa para Deus, no intuito de fugir do desafio de libertar Israel do Egito. Ele está intimidado e com medo.

A intimidação e o medo podem nos enganar a ponto de pensarmos que Deus não plantou habilidades em nós ou que a tarefa é maior do que Deus. Penso que Moisés passou por isso. Ele não era gago. Diante de uma tarefa tão difícil, ele olhou para onde não deveria e, assim, a sua perspectiva da grandeza do Deus de Israel foi terrivelmente afetada.

Desta forma, aprendemos que, ao nos chamar para Sua obra, Deus fornece os recursos necessários. Todavia, nossos olhos devem se fixar no Deus que chama e capacita, e não nas habilidades que recebemos. Aprendemos também que Deus não aceita desculpas. E a razão é clara: Deus convoca, capacita, envia e garante que estará conosco. A recusa em fazer o que Deus mandou é evidência de que estamos olhando para o lugar errado. E quanto a você? Tem apresentado desculpas para não servir ao Senhor?



                                                                                                               
Fabrício A. de Marque



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