pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: A Ordo Salutis (5/10): Justificação

A Ordo Salutis (5/10): Justificação

 


Como um pecador pode estar diante de Deus sem qualquer culpa? Seria isso possível? Sim, isso é possível. Antes de falarmos sobre esse tema, vamos definir o que é justificação: “Justificação é um ato instantâneo e legal da parte de Deus pelo qual ele (1) considera os nossos pecados perdoados e a justiça de Cristo como pertencente a nós e (2) declara-nos justos à vista dele” (Grudem, p. 603). Quando acontece a justificação? A justificação acontece depois da fé salvadora.

Primeiro cremos em Cristo e, então, somos justificados por Deus. Em outras palavras, cremos para ser justificados. Vários versículos mostram que a justificação procede da fé: “[...] o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Jesus Cristo [...]” (Gl 2.16; cf. Rm 2.26, 28; 5.1). Quando Deus justifica alguém, não significa que a pessoa se torna moralmente boa por dentro. A justificação é uma declaração de inocência. Trata-se, portanto, de uma declaração legal e forense.

Pelo fato de crermos em Jesus, Deus olha para nós como inocentes, porque a nossa culpa foi paga por Jesus. Sendo assim, a justificação é totalmente diferente da regeneração. John Murray (1898—1975) explica da seguinte forma: “Regeneração é um ato de Deus em nós; justificação é um julgamento de Deus a nosso respeito. A distinção é como a diferença entre o ato de um cirurgião e o ato de um juiz”. Além de nos declarar justos à Sua vista, Deus também declara que a justiça de Cristo nos pertence.

Isso significa que todos os méritos da obediência de Jesus foram transferidos para nós, como se nós tivéssemos obedecido a Lei de Deus perfeitamente: “Mas, agora, sem lei, a justiça de Deus se manifestou, sendo testemunhada pela Lei e pelos Profetas. É a justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem. Porque não há distinção” (Rm 3.21-22).

Pela fé, a justiça de Cristo é creditada em nossa conta. O próprio Abraão creu e foi declarado justo por Deus: “Pois o que diz a Escritura? Ela diz: ‘Abraão creu em Deus, e isso lhe foi atribuído para justiça’.” (Rm 4.3; cf. Gn 15.6). Abraão foi justificado pela fé, e não pelas obras. Todo aquele que crê em Jesus recebe o dom da justiça: “Se a morte reinou pela ofensa de um e por meio de um só, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo” (Rm 5.17).

A Igreja Católica Romana entende a justificação de uma forma diferente. Conforme afirmei, a justificação é uma declaração de Deus. Ela não nos transforma interiormente. Os católicos, por outro lado, afirmam que a justificação nos torna mais santos por dentro. O problema é que a justificação católica não ocorre somente pela fé. Certo teólogo católico chegou a dizer que a fé sozinha não é suficiente para receber o perdão dos pecados. A fé precisa aceitar o conteúdo do ensino da Igreja Católica. Isso é chamado de “fé teológica ou dogmática”.

Na visão católica, a justificação não tem a ver com a justiça que é imputada em nós pela fé. Eles creem na justiça infundida, que é uma justiça que Deus realmente coloca em nós. Todavia, essa justiça não nos dá a certeza da salvação. A justiça infundida capacita o homem a praticar boas obras. À medida que o homem pratica boas obras, Deus o justifica aos poucos, gradualmente. Neste sentindo, a justificação tem graus diferentes em cada pessoa (uma compreensão completamente diferente do Protestantismo).

O resultado deste entendimento católico é que a salvação não é unicamente pela graça, mas sim, pela junção de obras humanas mais graça divina. O teólogo católico Ludwig Ott (1906—1985) deixou isso bem claro: “Porque a vida eterna justificada é tanto uma dádiva da graça prometida por Deus quanto uma recompensa por suas próprias obras e méritos [...]. Obras salutares são, ao mesmo tempo, dádivas de Deus e atos meritórios do homem”.

Entretanto, a fé é um dom que recebemos de Deus. A justificação não é uma espécie de prêmio de recompensa. A fé é o instrumento por meio do qual o Senhor nos justifica. Ele escolheu esse meio, porque a fé é o oposto da autoconfiança (obras). É impossível confiar em Cristo para a salvação e, ao mesmo tempo, imaginar que as próprias obras possam, de alguma forma, conquistar a justificação de Deus.


Fabrício A. de Marque 



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