Bem, isso depende. Recentemente, um irmão em Cristo e seguidor do Pensando as Escrituras, me procurou para pedir um conselho. O conselho envolvia questões doutrinárias. Este querido irmão estava se mudando de cidade. A cidade para a qual ele estava indo era bem maior do que a atual. A preocupação deste irmão era a seguinte: perto de sua casa só havia igrejas que ensinavam doutrinas às quais ele não subscreve. Eram igrejas pentecostais que enfatizavam demais o dom de línguas, bem como outros ensinos que o deixavam desconfortável.

Este irmão não sabia se congregaria em uma igreja pentecostal, perto de sua casa, mesmo discordando de muitos pontos doutrinários; ou se deveria congregar em uma igreja histórica, longe de casa, mas cujo pensamento teológico era compatível com o seu. Convenhamos que não é uma decisão tão fácil. A curto prazo, não haveria problema em congregar em uma igreja que pensa teologicamente diferente. Todavia, a longo prazo, a história é outra.

Por exemplo, suponha que o Joãozinho tenha convicção de que a salvação não se perde. Ele congrega em uma igreja que crê diferente. Frequentemente, ele ouve os líderes afirmando que a salvação pode ser perdida. Isso se repete ano após ano, nos estudos e nas pregações da igreja. Será que o Joãozinho se sentiria à vontade ali dentro? Será que ele ficaria teologicamente seguro de levar sua família, semana após semana, para ser alimentada ali?

Note que não estou dizendo que crer na segurança da salvação ou na possibilidade de perdê-la faz de alguém um herege ou um falso irmão. Estou dizendo que possuir uma identidade teológica é importante. Essa identidade vai moldar toda a nossa vida cristã e as decisões que tomamos. Por isso, o ideal não é escolher a igreja mais perto de casa. Há seitas pertinho de nossas casas também. Precisamos optar por uma igreja que zele pelas doutrinas primárias da fé, mas que também possui a mesma identidade teológica que nós em certas doutrinas secundárias da fé.

Por que em “certas doutrinas secundárias”? Porque dificilmente pensaremos 100% da mesma forma que a maioria das igrejas. Sempre vai existir um ponto de discordância, o que deve nos estimular à tolerância e ao amor mútuo. Há doutrinas secundárias mais toleráveis do que outras. Mesmo assim, a situação às vezes se complica porque, para mim, certo ponto pode ser mais tolerável, enquanto pode ser menos tolerável para o meu irmão. E aqui se revela a grande necessidade que temos de sabedoria.

Bem, vamos voltar ao conselho que me foi pedido. Eu disse a ele que, a longo prazo, a situação poderia ficar complicada. Algumas tentações envolvendo o pecado da língua poderiam surgir: criticar o tempo todo aquilo que é ensinado, fofocar sobre os equívocos teológicos (o que poderia gerar até difamação pessoal). Além destes pecados, também poderia surgir insegurança e desconfiança quanto ao que é ensinado sobre outros assuntos.

Sendo assim, eu disse que a melhor escolha seria congregar em uma igreja mais distante, mas que o impediria de ser tentado com esses pecados. E, claro, uma igreja cuja teologia é compatível com suas convicções doutrinárias e que lhe traria maior confiança para congregar e servir ali. Alguns incômodos (como a distância e o tempo até à igreja) logo ficariam pequenos, pois ele estaria engajado de verdade.

Sentir-se um peixe fora d’água não é o propósito de Deus para os Seus filhos. Viver assim redundará em desânimo, comunhão escassa, dons espirituais “empoeirados” e muitos outros males. Não devemos forçar as igrejas a crerem como nós. Se vamos procurar um lugar para congregar, somos nós que devemos nos encaixar ali. Daí a importância de ser corretamente criterioso na escolha, e não pragmático.

Portanto, escolha muito bem a igreja da qual você fará parte. Peça a Deus sabedoria e orientação na escolha. Coloque na balança exatamente tudo: as doutrinas primárias e secundárias, o bem-estar de sua família, os gastos financeiros, o perfil e caráter da liderança, etc. Se o propósito do Senhor é que vivamos em comunidade, você não pode pertencer a qualquer lugar.

 

 

Fabrício A. de Marque