pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: Se o Espírito Santo é uma Pessoa, por que há sete espíritos diante do trono de Deus?

Se o Espírito Santo é uma Pessoa, por que há sete espíritos diante do trono de Deus?


O apóstolo João escreveu: “[...] Que a graça e a paz estejam com vocês, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete espíritos que estão diante do seu trono.” (Ap 1.4). Muitos comentaristas afirmam que João faz referência à Pessoa do Espírito Santo ao mencionar os “sete espíritos”. A ortodoxia cristã sempre ensinou que o Espírito é uma Pessoa, a terceira Pessoa da Trindade Santa, cuja essência é igual à essência do Pai e do Filho. 

Se o texto faz referência ao Espírito Santo, como podemos afirmar que Ele é um, e não sete? São sete espíritos ou um Espírito? Para responder essa pergunta, é preciso entender, primeiramente, que o livro de Apocalipse é um livro carregado de símbolos. Você nunca deve interpretar um símbolo literalmente. É verdade que um símbolo aponta para uma verdade, porém, o símbolo em si não deve ser entendido de maneira literal. 

Por exemplo, em Apocalipse 12.3 Satanás é simbolicamente retrato como um dragão vermelho com sete cabeças e dez chifres. Sabemos que Satanás não é um dragão literal com várias cabeças e chifres. Isso é um símbolo que deve ser interpretado figuradamente. 

A Bíblia também usa alguns símbolos para falar do Espírito Santo. Por exemplo, Marcos 1.10 usa a pomba como símbolo, João 3.8 usa o vento e João 4.14 usa a água. Interpretar essas imagens literalmente fará com que a Pessoa do Espírito Santo seja despersonalizada, o que resultará em terrível heresia. 

Assim sendo, como podemos entender a expressão “sete espíritos”? Bem, o numeral sete no livro de Apocalipse indica perfeição. Quando João escreve isso, ele usa o imaginário da literatura profética do Antigo Testamento. Aliás, conhecer o Antigo Testamento é fundamental para interpretar o livro de Apocalipse. Assim, João tem em mente duas passagens específicas dos profetas Isaías e Zacarias. 

Observe Isaías: “Repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is 11.2). Agora observe Zacarias: “[...] Vejo um candelabro todo de ouro e um vaso de azeite em cima com as suas sete lâmpadas e sete tubos, um para cada uma das lâmpadas que estão em cima do candelabro. [...] Aqueles sete olhos são os olhos do Senhor, que percorrem toda a terra” (Zc 4.2, 10). 

Isaías menciona seis virtudes do Espírito Santo (a LXX menciona a sétima: “piedade”). Isso fala do caráter perfeito do Espírito de Deus. Já o profeta Zacarias menciona sete lâmpadas, sete tubos e sete olhos. Isso fala da obra perfeita do Espírito Santo, o que inclui Sua onisciência (“sete olhos percorrendo a terra”). Em suma, a expressão “sete espíritos” fala da perfeição da Pessoa do Espírito. 

Familiarizar-se com o gênero literário dos livros bíblicos é algo muito importante. A Bíblia é uma biblioteca de 66 livros inspirados. Cada livro possui suas particularidades que precisam ser respeitadas durante a tarefa hermenêutica. Se não respeitarmos essas particularidades, chegaremos a conclusões estranhas e distorcidas. Assim como lemos a bula de remédio de um jeito e a notícia de jornal de outro, devemos ler os livros bíblicos de acordo com os seus gêneros. Deus é a fonte de revelação de cada livro, mas Ele decidiu se revelar de formas diferentes. 

 

Fabrício A. de Marque



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