pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: O Homem não é Composto de Corpo, Alma e Espírito

O Homem não é Composto de Corpo, Alma e Espírito

 


O ser humano é composto de quantas partes? Duas? Três? O conceito de corpo, alma e espírito (tricotomia) possui base na Palavra de Deus ou não? Em vários círculos religiosos, prega-se que o homem é formado por corpo, alma e espírito. O corpo, obviamente, é o aspecto físico, a estrutura biológica. A alma envolve o intelecto, as emoções e as vontades. E o espírito, por sua vez, engloba o aspecto espiritual do ser humano, isto é, a parte que se relaciona com Deus a partir da conversão. 

Os defensores deste conceito — chamados de tricotomistas — se apoiam em algumas passagens da Bíblia em que as três palavras (corpo, alma e espírito) aparecem, talvez indicando a divisão tríplice do homem. Um exemplo: O mesmo Deus da paz os santifique em tudo. E que o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.23). 

Aqui, Paulo está usando um recurso de ênfase a fim de enfatizar que a totalidade do homem deve ser santificada a Deus. Jesus usou o mesmo recurso linguístico para enfatizar a intensidade do nosso amor a Deus. Confira isso em Mateus 22.37. Diante disto, se o homem não é composto de corpo, alma e espírito, por que a Bíblia usa esse tipo de linguagem? Como devemos entender as palavras “alma” e “espírito”? 

Aqui adentramos o segundo conceito teológico-antropológico: a Dicotomia. A ideia é a seguinte: as palavras “alma” e “espírito” são termos intercambiáveis, ou seja, são expressões diferentes que se referem ao mesmo aspecto do homem, a sua parte imaterial. Há muitas provas bíblicas disso. Note, por exemplo, que antes de ser crucificado, Jesus disse ao Pai que a Sua alma estava angustiada (Jo 12.27). Todavia, um pouco mais adiante, ao afirmar que um dos discípulos haveria de traí-lo, Jesus ficou angustiado em espírito (Jo 13.21). Angústia na alma e angústia no espírito. 

Outra evidência se encontra na descrição que a Bíblia faz da morte. Moisés disse que, ao morrer, a alma de Raquel saiu de seu corpo (Gn 35.18). Mas Jesus, ao dar o último suspiro na cruz, entregou o espírito ao Pai (Lc 23.46). E o mártir Estevão fez o mesmo. Ele entregou o seu espírito ao Senhor Jesus antes de partir (At 7.59). Assim, a alma e o espírito referem-se ao mesmo aspecto do homem (sua parte imaterial), independentemente da palavra usada pelo escritor bíblico. 

Os tricotomistas também dizem que o “espírito” ganha vida no momento da conversão e, então, a partir dessa experiência, o homem passa a ter comunhão com Deus. Novamente, isso não é verdade. As atividades praticadas pela alma também são praticadas pelo espírito e vice-versa. O salmista adorava a Deus com sua alma (Sl 25.1), e não apenas com o seu “espírito”, como diz o tricotomista. A alma do salmista sentia sede de Deus (Sl 63.1), chegando a suspirar e desfalecer pelos átrios do Senhor (Sl 84.2). 

Assim, à luz das evidências bíblicas, o homem é composto de corpo (aspecto material) e alma/espírito (aspecto imaterial). As duas palavras fazem alusão à mesma parte imaterial do homem. Você pode usar qualquer uma das duas. Essa ideia de que o homem é composto de três partes não nasceu nas Escrituras, mas na filosofia grega. Veja o que o teólogo Louis Berkhof (1873—1957) afirmou sobre isso: 

“A concepção triparte do homem originou-se na filosofia grega, que concebia a relação entre o corpo e o espírito do homem segundo a analogia da relação mútua entre o universo material e Deus. Pensava-se que, assim como o universo material e Deus podiam entrar em comunhão um com o outro somente por meio de uma terceira substância ou de um ser intermediário, também o corpo e o espírito só podiam travar mútuas relações vitais por meio de um elemento terceiro ou intermediário, chamado alma” (Systematic Theology, p. 191). 

Por fim, acredito que defender a tricotomia pode nos levar ao desprezo das emoções santas. Afinal, as emoções fazem parte da “alma”, e não do “espírito”, sendo, portanto, “não espirituais”. Da mesma forma, a tricotomia pode nos levar ao desprezo pelo estudo profundo, uma postura anti-intelectualista. Afinal, segundo essa linha, o intelecto também faz parte da “alma”, e não do “espírito”, que se relaciona com Deus. E, infelizmente, não é difícil encontrar pessoas que desprezam tanto as emoções santas quanto o labor teológico. 

 

Fabrício A. de Marque




3 comentários:

  1. Conteúdo muito bem elaborado. Muitos de nós não sabemos quais as funções do corpo, alma, e espírito.

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  2. Conteúdo muito bem elaborado. Muitos de nós não sabemos quais as funções do corpo, alma, e espírito.

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    1. Muito obrigado pela leitura e pelo comentário! Espero que o blog continue acrescentando algo de positivo e edificante em sua vida. Deus abençoe grandemente!

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