pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: Continuísmo, Línguas e Ordem no Culto

Continuísmo, Línguas e Ordem no Culto

 


Algumas pessoas me perguntam: “Você fala em línguas?”, ao que respondo negativamente. Em seguida, afirmo: “Mas sou continuísta”. Se isso é algo novo para você, deixe-me explicar. O Continuísmo (ou Continuacionismo) crê que os dons mencionados no Novo Testamento continuarão durante a presente era da Igreja, findando apenas na Segunda Vinda de Cristo. Todavia, o apostolado não é um dom, e sim um ofício. Por isso, não creio em apóstolos modernos. Esse ofício cessou no século 1º. 

Creio na continuação dos dons com base em 1 Coríntios 13.8-13, em que Paulo afirma que a cessação dos dons ocorrerá somente após a chegada do que é “perfeito”. Entendo o “perfeito” como sendo uma referência ao Retorno de Cristo e à glorificação dos salvos, diferentemente de outras interpretações que sugerem que o “perfeito” refere-se ao fechamento do cânon bíblico, à maturidade da igreja ou à inclusão dos gentios na igreja. O contexto não permite nenhuma dessas três últimas interpretações. 

Agora entrarei em um ponto mais delicado. Embora eu creia na continuação dos dons, defendo uma posição bastante cautelosa. Falando especificamente do dom de línguas (que é o foco do artigo), não é possível acreditar que a maioria das manifestações desse dom nas igrejas de hoje seja legítima. Além disso, ainda que tais manifestações fossem bíblicas, muitas igrejas quebram um princípio cúltico acerca do qual Paulo escreveu. 

Não vou discorrer sobre a legitimidade ou não das manifestações. Farei tão somente um breve comentário sobre os princípios litúrgicos concernentes ao uso do dom de línguas. Observe estas duas regras do Novo Testamento para o uso das línguas no culto: (1) Ordem e (2) Interpretação. Sobre a ordem, Paulo disse: Não mais que dois ou três devem falar em línguas. Devem se pronunciar um de cada vez [...]” (1Co 14.27). 

Quantas pessoas devem falar em línguas na igreja? No máximo duas ou três, diz Paulo, e não a igreja toda. E mais: uma pessoa de cada vez, e não todos ao mesmo tempo. Esse é um princípio importante. Deus não é Deus de desordem, mas de paz (1Co 14.33). Por isso, cada atividade litúrgica exige decência e ordem (1Co 14.40). Agora leia a segunda regra: “[...] e alguém deve interpretar o que disserem. Mas, se não houver alguém que possa interpretar, devem permanecer calados na reunião da igreja, falando com Deus em particular” (1Co 14.27-28).

Quando uma pessoa fala em línguas na igreja em voz alta, as suas palavras devem ser interpretadas. Por quê? Porque uma mensagem interpretada é uma mensagem compreendida. Se todos compreenderem, a edificação acontecerá (1Co 14.5). Mas, como as pessoas serão edificadas sem entendimento? É impossível. Por exemplo, tente ler uma frase em alemão sem possuir qualquer noção básica do idioma. Não vai adiantar nada. A compreensão e edificação dependem da interpretação. 

E se não houver ninguém na igreja com o dom de interpretação de línguas? Paulo diz que as pessoas podem continuar falando, mas em particular com Deus, isto é, em silêncio. Nada de proclamações audíveis. Infelizmente, esse princípio é frequentemente quebrado. Algumas pessoas tiram a nossa concentração enquanto falam em línguas. Falam tão alto a ponto de atrapalhar a nossa comunhão pessoal com Deus. 

Por favor, não quero ser ofensivo e, menos ainda, desrespeitoso quanto a esse dom do Espírito Santo. Me oponho ao abuso e às contradições que, obviamente, são evidentes na igreja cristã. O povo de Deus precisa receber mais instrução e esclarecimento sobre esse assunto. Enquanto isso não acontecer, continuaremos a presenciar desvios e afirmações incoerentes, tais como: “Se você é crente, você tem que falar em línguas”, “Se você não fala em ínguas, você não é batizado com o Espírito Santo”, etc. 

Finalmente, é válido destacar que Paulo disse para não proibirmos o falar em línguas (1Co 14.39), mas desde que haja um intérprete. Se não há intérprete, não há necessidade de falar em línguas. Em uma igreja em que todos, sem exceção, falam o mesmo idioma, por que alguém falaria em línguas estranhas sem interpretação? Quem seria edificado? Se você fala em línguas, continue falando, mas se não houver alguém que possa interpretar, devem permanecer calados na reunião da igreja, falando com Deus em particular” (1Co 14.28).   

 

Fabrício A. de Marque




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