pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: Os líderes podem ser criticados? E quanto à frase “não toquem no ungido do Senhor”?

Os líderes podem ser criticados? E quanto à frase “não toquem no ungido do Senhor”?

 

Todo versículo mal compreendido gerará conclusões falsas. Há quem distorça o significado de um texto bíblico por maldade, a fim de se aproveitar daqueles que têm pouco entendimento da Palavra de Deus. Quem age assim, usa a Bíblia para destruir as pessoas, ao invés de usá-la para trazer orientação e esclarecimento. Tais homens certamente serão julgados por Deus com severidade.

Um texto bastante distorcido se encontra em 1Crônicas 16.22 e Salmos 105.15. Em ambos os textos, Deus diz: “Não toquem nos meus ungidos, nem maltratem os meus profetas”. Há também a famosa passagem em que Davi se recusa a fazer o mal contra Saul, visto que Saul é o ungido do Senhor (1Sm 24.6) [1]. Apoiados nesses textos, alguns líderes afirmam que não podemos questionar, contrariar ou criticar as autoridades espirituais (pastores, apóstolos, bispos, etc.).

Quando questionamos esses homens, estamos nos colocando contra Deus, pois, afinal, estamos atacando aqueles que foram instituídos por Deus como autoridade espiritual. Tais líderes, evidentemente, se colocam dentro de uma redoma de vidro, como se fossem infalíveis e inerrantes. Infelizmente, a ideia de “infalibilidade humana” contaminou os seus corações enganosos.

Vamos entender o que significa a expressão “Ungido do Senhor”. No Antigo Testamento, o rei de Israel era escolhido pelo próprio Deus. Após a escolha, o rei era ungido com óleo pelas mãos de um profeta do Senhor. Foi o aconteceu com Saul (o primeiro rei de Israel) e com Davi (seu sucessor). Ambos foram ungidos com óleo pelo profeta Samuel, conforme o registro bíblico (1Sm 10.1; 16.13) [2].

Agora consideremos a atitude do rei Davi. Por que Davi não quis tocar em Saul, o “ungido do Senhor”? Davi se recusou a fazer o mal contra Saul, pois sabia que Saul havia sido designado ao trono pelo próprio Deus. Davi não queria ser o autor de nenhuma maldade, ainda que Saul estivesse errado. Davi não queria se colocar numa situação complicada diante de Deus.

Todavia, apesar dessa recusa, Davi deixa claro que Saul estava agindo de maneira pecaminosa e digna de punição. Por isso, ele invoca o próprio Deus como juiz para resolver a questão entre eles: “O SENHOR seja juiz e julgue entre nós dois. Que ele esteja atento, defenda a minha causa e me livre da tua mão” (1Sm 24.15). Davi não tocou em Saul, o ungido do Senhor, mas certamente Davi o questionou pela sua atitude reprovável.

Olhando agora para o Novo Testamento, percebemos que os líderes não estão isentos de críticas. Paulo criticou Pedro: “Quando, porém, Cefas chegou a Antioquia, eu o enfrentei abertamente, pois merecia ser repreendido” (Gl 2.11). Paulo também afirmou que líderes em pecado devem ser repreendidos publicamente: “Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que os outros também tenham temor” (1Tm 5.20).

É evidente que a crítica, o confronto e a repreensão devem acontecer quando o líder se torna repreensível. Devemos rejeitar a crítica injusta, infundada e sem sabedoria. A honra às autoridades continua sendo um princípio bíblico e devemos, portanto, cultivá-la.

Assim, a frase “não toqueis no ungido do Senhor” não é um escudo espiritual para proteger os líderes da crítica, do questionamento e do confronto. Quando uma liderança se desvia, doutrinária ou moralmente, é nosso dever corrigi-la a fim de trazê-la de volta ao caminho correto, e também para evitar que outros caiam no mesmo erro.


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Notas:

[1] “O Senhor Deus me livre de fazer tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor.” (1Samuel 24.6)

[2] “Samuel pegou um vaso de azeite e o derramou sobre a cabeça de Saul. Então ele o beijou e disse: — O Senhor está ungindo você como príncipe sobre a sua herança, o povo de Israel.” (1Samuel 10.1) e “Samuel pegou o chifre do azeite e ungiu Davi no meio de seus irmãos. E, daquele dia em diante, o Espírito do Senhor se apossou de Davi. Então Samuel se levantou e foi para Ramá.” (1Samuel 16.13)

 

 

Fabrício A. de Marque



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