Ao revelar a Lei, o propósito de Deus nunca foi salvar o pecador que obedecesse aos seus preceitos, pois “é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus [...]” (Gálatas 3.11). Então, por que Deus revelou a Sua Lei aos homens? O apóstolo Paulo responde: “[...] porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Romanos 3.20). Em outras palavras, a Lei de Deus põe o dedo em nossa ferida e mostra o que está errado conosco.

Visto que os homens naturais são espiritualmente cegos e inimigos de Deus, é necessário que Deus mostre o principal problema deles. O problema humano é o pecado. O problema não é financeiro, emocional, social ou político. Esses problemas secundários são apenas reflexos do principal problema, que é o pecado. A Lei de Deus, então, atua como um espelho para que enxerguemos o real problema da humanidade.

Mas, se a Lei de Deus não pode salvar o homem, não seria ela desnecessária? A resposta é não. A Lei de Deus nos traz informações fundamentais sobre o pecado: “[...] Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás.” (Romanos 7.7). Percebe a importância da Lei? Se não houvesse a Lei, como saberíamos o que é pecaminoso? Sem a Lei, continuaríamos perdidos, sem rumo, criando falsos conceitos sobre Deus e sobre a moralidade.

No entanto, a Lei de Deus, além de trazer o conhecimento correto acerca do pecado, ela tem um propósito ainda maior. A Lei de Deus não encerra a nossa vida no desespero, sem oferecer uma solução. Ao invés disso, ela nos conduz a Cristo, que é o remédio para o problema do pecado: “De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé” (Gálatas 3.24).

A palavra “aio”, na língua grega, é παιδαγωγός (paidagōgos) e faz referência ao tutor que supervisionava os garotos que pertenciam à classe superior. Entre os gregos e romanos, era comum haver tutores que assumiam a responsabilidade pela vida dos meninos. O tutor tinha uma tremenda responsabilidade, pois ele tinha de garantir a segurança dos garotos em todos os sentidos. A Bíblia, então, está dizendo que a Lei de Deus atua como um tutor, nos pegando pela mão, e nos conduzindo a Cristo.

A Lei de Deus continua sendo importante mesmo no período da Nova Aliança. Algumas igrejas, por exemplo, fazem a leitura da Lei de Deus durante o culto público. O objetivo dessa prática é nos lembrar da necessidade constante que temos de Cristo e impedir que caíamos no orgulho religioso. Afinal, fomos justificados pela fé em Cristo, e não por obras. Não cumprimos a Lei de Deus. Foi Cristo quem cumpriu.

Assim, seja no culto público ou no culto privado em nossa casa, façamos a leitura da Lei e agradeçamos a Deus por ter nos justificado em Cristo Jesus. O reconhecimento da graça só ocorre após o reconhecimento do pecado. Sem a constatação do problema, não é possível aplicar a solução que poderá resolvê-lo. Portanto, Deus revelou uma Lei que não pode salvar para nos conduzir ao Cristo que é Salvador. Embora a Lei de Deus não possa justificar o pecador, a fé em Cristo, sem as obras da Lei, pode.

 

Fabrício A. de Marque