O sofrimento faz parte da realidade humana. Choramos, sentimos dor, ficamos tristes e, às vezes, perdemos a esperança. Na vida cristã, uma das maiores bênçãos é a de que Deus se importa com os Seus filhos e traz consolação para os seus corações angustiados. Todavia, surge o seguinte questionamento: Deus sofre junto conosco? Quando derramamos lágrimas em virtude de algum infortúnio, Deus também chora?

A Bíblia revela que Deus possui qualidades exclusivas. Teologicamente falando, essas qualidades são chamadas de atributos. Dentre os atributos divinos, muitos são incomunicáveis, o que significa que o homem não consegue reproduzi-los, pois são qualidades que fazem Deus ser Deus. Sem essas qualidades, Deus não seria Deus. E se o homem as possuísse, o homem seria Deus.

Um desses atributos incomunicáveis chama-se impassibilidade. Deus é impassível, isto é, Deus não pode ser controlado ou afetado por absolutamente nada. A impassibilidade divina está em íntima conexão com o atributo da imutabilidade (a verdade de que Deus não muda). O apóstolo Tiago escreveu sobre a impossibilidade de Deus mudar: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tiago 1.17) [1].

Quando pensamos no sofrimento humano à luz da impassibilidade divina, logo concluímos que Deus não pode sofrer. Se Deus sentisse na própria pele o sofrimento dos homens, então Ele seria passível de mudança. Afinal, em um momento Deus estaria numa boa, mas noutro momento Ele estaria sofrendo. Alguns teólogos se opuseram ao conceito de impassibilidade, afirmando que, se Deus não sofre, então Ele é um Deus que não pode se compadecer das pessoas. Se Deus não sofre, como Ele pode consolar os corações despedaçados?

É importante esclarecer que o fato de Deus ser impassível não afeta em nada a Sua compaixão pelos homens. Para ilustrar, considere a tarefa de um médico. Quando um médico te examina e descobre que há um problema com sua saúde, ele imediatamente compreende o seu problema e fornece orientações para a sua cura. Os médicos compreendem a doença de seus pacientes e eles sabem que, dependendo do problema, o paciente pode ficar emocionalmente abalado. Diante disso, muitos médicos procuram acalmar os seus pacientes com palavras de conforto e esperança. Agora, perceba o ponto: o médico entende o sofrimento do paciente, ainda que ele mesmo não esteja passando por aquele sofrimento.

Com Deus não é diferente. Embora Deus não sinta literalmente a nossa dor, Ele compreende perfeitamente o nosso sofrimento, pois Ele nos criou: “Ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó” (Salmos 103.14). Deus não apenas compreende a nossa dor, mas Ele também consola o nosso coração e cura as nossas feridas. Todo o nosso interior — pensamentos, motivações, desejos e sentimentos — está exposto diante do Senhor: “[...] todas as coisas estão descobertas e expostas aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” (Hebreus 4.13b). Não deve haver receio em compartilhar com o Senhor, em oração, o nosso sofrimento. Em Cristo, Deus é o nosso Pai amoroso e cheio de compaixão.

Para finalizar, precisamos falar do Filho encarnado de Deus: Jesus. Embora Jesus seja divino em Sua natureza, Ele também é humano. Jesus é o Deus-homem. Isso significa que, humanamente, Jesus passou pelos mesmos sofrimentos pelos quais passamos. O profeta Isaías disse que Jesus é o “homem de dores e que sabe o que é padecer” (Isaías 53.3). E o autor de Hebreus afirmou que Jesus é o nosso Sumo Sacerdote cheio de compaixão: “Não temos sumo sacerdote que não possa se compadecer das nossas fraquezas; pelo contrário, ele foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hebreus 4.15).

Assim, quando você estiver sofrendo e for tentado a duvidar da compaixão de Deus, lembre-se de que Deus compreende o seu sofrimento. Ele compreende tão bem a ponto de ter enviado o Seu Filho para resolver o maior sofrimento de sua vida: a escravidão e a morte causadas pelo pecado. Ele se compadeceu de você como ninguém seria capaz.

 

Fabrício A. de Marque

 

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Notas:

Nova Almeida Atualizada. Todas as citações bíblicas foram extraídas dessa versão.