Salomão, em seu polêmico livro Eclesiastes, afirmou: “Todos vão para o mesmo lugar; todos procedem do pó e ao pó voltarão” (Eclesiastes 3.20) [1]. Séculos depois, o Senhor Jesus declarou: “Não fiquem maravilhados com isso, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a voz dele e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo” (João 5.28-29) [2]. Como conciliar estes dois fatos: o retorno ao pó e a ressurreição física? A resposta pode não ser tão óbvia como parece. Por exemplo, os vestígios de milhões de cadáveres transformaram-se em plantas. Sem contar que muitos corpos foram comidos por animais e até mesmo por canibais. Diante disso, como sustentar a doutrina da Ressurreição Final? Se muitos cadáveres estão espalhados pelo mundo, como que suas partículas serão unidas novamente ao corpo?

Antes de examinar a questão, é importante esclarecer que não há contradição alguma entre as palavras de Salomão e de Jesus. A Bíblia foi inspirada pelo Espírito Santo e, portanto, os ensinamentos de ambos os testamentos encontram-se em plena harmonia e coerência. Posto isso, consideremos, em dois pontos, a questão em pauta.

Em primeiro lugar, a onipotência divina garante a Ressurreição Final. O mesmo Deus que criou todas as coisas a partir do nada, certamente trará de volta todas as partículas dos cadáveres que estão espalhadas pelo mundo. Ora, criar o mundo a partir do nada é, sem dúvida, algo muito mais incrível do que ajuntar os vestígios dos corpos humanos. Portanto, não há barreiras para o Deus Onipotente cumprir Sua promessa de ressuscitar os homens naquele Grande Dia.

E em segundo lugar, embora Deus seja plenamente capaz de unir as partículas dos corpos que estão espalhadas, não há problema em acreditar que Deus poderá gerar novas partículas. Se Deus criar novas partículas corporais no Dia da Ressurreição, isso não anulará nem distorcerá a nossa pessoalidade. Pessoas engordam e emagrecem. Pessoas ingerem alimentos e depois os expelem nos dejetos. Todo esse processo não altera, em nenhum sentido, quem somos; altera, tão somente, a nossa aparência física e estrutura corporal.

Além do mais, de acordo com estudiosos da ciência moderna, as moléculas físicas do corpo humano sofrem alterações a cada sete anos. Isso significa que, de tempos em tempos, há novas moléculas ocupando o nosso corpo. Levando essa lógica adiante, podemos afirmar que, no Dia da Ressurreição, os corpos que serão levantados dos túmulos terão partículas diferentes das partículas atuais. Apesar disto, a Ressurreição Final acontecerá!

Concluo essa reflexão afirmando que não importa a situação que se encontram aqueles que já morreram em Cristo. Não importa se eles foram queimados vivos pelos inimigos, se foram devorados por feras selvagens, se foram mutilados ou esfolados vivos. A verdade bíblica da Ressurreição e dos corpos glorificados permanece inabalável. Teremos corpos glorificados, incorruptíveis e imortais, assim como o corpo ressurreto de nosso Senhor.

 

Fabrício A. de Marque

 

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Notas:

[1] Nova Almeida Atualizada (NAA).

[2] Ibid.