Observe o que Jesus disse para os Seus discípulos no monte das Oliveiras: “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória” (Mateus 24.30) [1]. Se eu disser que este versículo já se cumpriu, você ficaria incomodado? Eu creio que sim. E a razão disso é que fomos ensinados, desde sempre, que esse versículo se cumprirá no futuro.

A maioria esmagadora pensa do mesmo jeito. Bem, antes de comentar brevemente sobre esse texto, quero deixar claro algo muito importante: eu creio piamente que Jesus voltará física e visivelmente no futuro. Não há dúvidas disso quando estudamos o NT (cf. Atos 1.11). Todavia, Mateus 24.30 não se refere ao Grande Retorno de Cristo, mas sim, à justa punição sobre o povo de Israel que, teimosamente, O rejeitara.

Um paralelo interessante de Mateus 24.30 é Apocalipse 1.7: “Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele” [2]. De fato, foi isso que aconteceu no século 1. Jesus veio em juízo sobre Jerusalém, provocando a sua total destruição em 70 DC. Todas as tribos — e não nações — e todos que o traspassaram presenciaram tal acontecimento.

Além disso, é preciso entender que “vir sobre a nuvem” é uma linguagem muito comum para falar dos julgamentos de Deus no AT (cf. Is 19.1; Ez 30.3; Na 1.3; Jl 2.2; Dn 7.13-14). Para compreendermos corretamente o livro de Apocalipse — bem como outras passagens proféticas — é preciso buscar familiaridade com a linguagem do AT, pois João (o autor de Apocalipse) usa abundantemente o imaginário das Escrituras hebraicas. A mentalidade de João é judaica, e não brasileira, americana, etc.

A prova de que Mateus 24.30 já se cumpriu encontra-se nas próprias palavras de Jesus: “Em verdade vos digo que NÃO PASSARÁ ESTA GERAÇÃO sem que todas estas coisas aconteçam” (Mateus 24.34) [3]. Qual geração não deveria passar? A geração de Jesus, e não a nossa. Quando Jesus declarou essas palavras, o evento ainda era futuro. Todavia, para nós do século XXI, esse evento se tornou passado. Afirmar que Mateus 24.30 ainda é futuro implica dizer que Jesus não estava sendo verdadeiro, nem objetivo, em Sua profecia. Longe de nós!

A vinda de Jesus em Mateus 24.30 não se deu fisicamente com o Seu corpo ressurreto. É bastante provável que algum tipo de sinal fora visto pelas pessoas presentes no acontecimento. O historiador judeu, Flávio Josefo (37-100 DC), — que estava vivo na época da destruição de Jerusalém e que participou da guerra Judaico-Romana — fez um registro chocante em uma de suas obras:

“Além destes (sinais no céu), poucos dias depois da festa, no vigésimo primeiro dia do mês, certo fenômeno prodigioso e incrível aconteceu ou apareceu. Suponho que a narrativa desse fenômeno pareceria uma fábula, se não tivesse sido relatado pelos que o viram e se os eventos que o seguiram não fossem de natureza tão considerável, que merecessem tais sinais; pois, antes do pôr do sol, carros e tropas de soldados, vestidos de armaduras, foram vistos correndo por entre as nuvens e ao redor das cidades. Além disso, na festa que chamamos Pentecostes, quando os sacerdotes se encaminhavam, à noite, ao pátio interior do templo, para realizar suas ministrações sagradas, os sacerdotes disseram que, em primeiro lugar, sentiram um terremoto e ouviram um grande barulho e, depois disso, ouviram um grande som, como de uma grande multidão, dizendo: ‘Vamos sair daqui’.” [4]

Portanto, Mateus 24.30 é um acontecimento profético-passado (para nós) e não profético-futuro (como o era para os ouvintes originais de Jesus). Meditar sobre os sinais dos tempos é algo fascinante, principalmente quando situamos os acontecimentos dentro de seu devido contexto. Leiamos a Bíblia no contexto correto. Não podemos isolar um livro bíblico do outro, nem separar o AT do NT. E, sobretudo, é preciso ter muito cuidado com os filmes e com as novelas sobre o Apocalipse. Há muita fantasia e imaginação que estão pautadas, infelizmente, na opinião pessoal e na interpretação equivocada.

Veja o estudo de Apocalipse 1.7:

https://youtu.be/Lpc6zBvFtyc

______________________

Notas:

[1] Almeida Corrigida Fiel (ACF).

[2] Ibid.

[3] ibid. Ênfase minha.

[4] Citado por R. C. Sproul. Estes são os últimos dias? São José dos Campos, SP: Fiel, 2015. p. 42.

 

 

Fabrício A. de Marque