pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: O que significa receber a marca da besta e não poder comprar ou vender?

O que significa receber a marca da besta e não poder comprar ou vender?

 

A Bíblia afirma que a besta de Apocalipse fará com que as pessoas recebam uma marca na mão direita ou na testa. Quem se recusar a receber essa marca, será impedido de comprar ou vender: “A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz com que lhes seja dada certa marca na mão direita ou na testa, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome” (Apocalipse 13.16-17) [1].

O que significa ser impedido de comprar ou vender? A quem esse texto se aplica? Esse acontecimento ocorrerá no futuro, no tempo do suposto Anticristo, ou foi uma realidade passada? Para compreendermos essa passagem, é necessário, primeiramente, refletir sobre a cultura judaica antiga.

A cultura judaica antiga era um sistema sócio-religioso muito forte e separado do resto do mundo. A cultura judaica possuía algumas marcas exclusivas, como rituais sagrados, leis alimentares, dias santos e assim por diante. Tudo isso imprimia um destaque acentuado na identidade dos judeus. Dessa forma, o Templo sagrado se tornou o centro da vida religiosa e política da comunidade pós-exílica. É justamente lá que encontramos, por exemplo, o Sinédrio e a Sinagoga.

Por isso, quando um judeu era banido da comunidade por algum motivo, isso lhe causava um impacto muito profundo e negativo. Por essa razão, alguns judeus tinham medo de confessar o nome de Jesus publicamente. Vemos essa postura nos pais de um cego de nascença que havia sido curado por Jesus.

Os pais daquele garoto cego sabiam que Jesus era o responsável pela cura de seu filho. No entanto, eles não quiseram confessar isso perante as autoridades judaicas, porque tal confissão certamente lhes causaria problemas: “[...] ‘Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego, mas não sabemos como agora está vendo. E também não sabemos quem lhe abriu os olhos. Perguntem a ele, pois já tem idade e poderá falar por si mesmo’. Os pais dele disseram isso porque estavam com medo dos judeus, pois estes já tinham combinado que, se alguém confessasse que Jesus era o Cristo, seria expulso da sinagoga” (João 9.20-22) [2].

Ora, nenhum judeu queria ser excluído da comunidade. Isso porque ser excluído da comunidade traria várias consequências pessoais. A pessoa excluída era banida da religião e sofria severa humilhação social. Além de sofrer tudo isso (e aqui vem o ponto mais importante da nossa reflexão), a pessoa excluída da comunidade também era afetada economicamente, podendo, até mesmo, enfrentar circunstâncias de fome devido à pobreza.

Por exemplo, lembra da igreja de Esmirna, mencionada em Apocalipse? Os cristãos esmirnenses enfrentaram a pobreza, possivelmente por conta da perseguição judaica: “Conheço a tribulação pela qual você está passando, a sua pobreza — embora você seja rico — e a blasfêmia dos que se declaram judeus e não são, sendo, isto sim, sinagoga de Satanás.” (Apocalipse 2.9) [3]. Até mesmo se uma autoridade religiosa se convertesse ao Cristianismo, ela perderia a sua posição de importância, bem como a sua vantagem econômica. Foi por isso que Paulo considerou todas as suas vantagens e títulos como lixo, em comparação ao conhecimento de Cristo (cf. Fp 3.7-9).

O próprio Jesus deixou claro que segui-lo poderia gerar consequências econômicas, pois a perseguição seria intensa no início do Cristianismo: “Assim, pois, qualquer um de vocês que não renuncia a tudo o que tem não pode ser meu discípulo" (Lucas 14.33) [4]. Assim, quando um judeu se convertia ao Cristianismo, ele corria sério risco de ser expulso da cidade e preso. Esse tipo de situação criava dificuldades extremas para sobreviver. Muitos irmãos da igreja primitiva tiveram os seus bens materiais confiscados: “Porque vocês não apenas se compadeceram dos encarcerados, mas também aceitaram com alegria a espoliação dos seus bens, porque sabiam que tinham um patrimônio superior e durável” (Hebreus 10.34) [5].

Portanto, a marca na mão direita ou na testa para que ninguém possa comprar ou vender, aponta para a severa perseguição que os cristãos do século 1º sofreram por amarem e seguirem fielmente a Jesus. A besta do mar (Nero César) juntamente com a besta da terra (Jerusalém) utilizaram a exclusão social e a opressão econômica para forçar os cristãos a cultuarem o imperador romano. Se houvesse resistência da parte dos cristãos, então eles sofreriam prejuízos econômicos. Eles perderiam os seus direitos e não teriam dinheiro para sobreviver, ou seja, eles seriam impedidos de comprar ou vender.

Confessar a Cristo no contexto do século 1º era sinônimo de perseguição religiosa, privação econômica e injustiça social. Agora, é verdade que os cristãos do século XXI ainda sofrem certas injustiças da parte do mundo por causa de Jesus. Todavia, o texto de Apocalipse 13 se cumpriu no passado, no contexto da igreja primitiva. Não é um texto que ainda aguarda o seu cumprimento profético. Isso significa que não precisamos temer nenhum controle mundial que nos impeça de comprar ou vender.

Ainda que alguns homens poderosos da nossa época tenham planos nesse sentido, é importante deixar claro que nada do que eles tentarem fazer será cumprimento profético de Apocalipse. Podemos, sim, perder alguns direitos por causa do nome de Jesus. Podemos sofrer exclusão social e podemos ser vítimas de injustiça econômica por causa do evangelho. Todavia, esse tipo de perseguição é simplesmente consequência natural de seguir a Jesus: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Timóteo 3.12) [6].

Não podemos pensar que toda perseguição sofrida pelo povo de Deus é cumprimento profético de Apocalipse. Como expliquei aqui, ser impedido de comprar ou vender foi uma realidade enfrentada pelos nossos irmãos há mais de 2 mil anos. Isso não significa que essa passagem bíblica se cumprirá novamente. Essa profecia foi revelada durante um período específico da história cristã, e se cumpriu também em um período específico do passado.

Mas, apesar disso, a lição que devemos guardar no coração é a seguinte: quando sofrermos alguma injustiça por causa do evangelho de Cristo, que permaneçamos firmes fazendo a vontade de Deus. Aos olhos do mundo estaremos, de fato, perdendo. Contudo, na perspectiva de Deus, somos bem-aventurados. Afinal, sofrer por causa do nome de Cristo é evidência de que o Espírito da glória repousa sobre nós (cf. 1Pe 4.14).

 

Confira o estudo em vídeo:

https://youtu.be/tz7k-j6xp8I

 

Fabrício A. de Marque

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Notas:

[1] Nova Almeida Atualizada (NAA).

[2] Ibid.

[3] Ibid.

[4] Ibid.

[5] Ibid.

[6] Almeida Revista e Atualizada (ARA).



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