O que significa a expressão “um será levado e o outro será deixado”? Em um de Seus discursos, Jesus disse: “Então dois estarão no campo: um será levado, e o outro será deixado; duas mulheres estarão trabalhando num moinho: uma será levada, e a outra será deixada.” (Mateus 24.40-41 | NAA). Muitos acreditam que essa passagem fala do arrebatamento secreto da igreja. Dizem que a pessoa “levada” é aquela que será arrebatada de maneira secreta, repentina e invisível, enquanto a pessoa “deixada” é aquela que passará pela Grande Tribulação de 7 anos na terra.

Será que o texto ensina isso mesmo? Perceba que essas palavras fazem parte do famoso Sermão Profético de Jesus. Neste sermão, Jesus apresenta inúmeros sinais que deveriam acontecer antes de Sua vinda. No entanto, aqui Ele não fala da Segunda Vinda Gloriosa (conforme alguns acreditam; inclusive alguns que seguem a mesma linha escatológica que eu). 

Jesus fala de Sua vinda em juízo, no século 1º, para julgar Jerusalém. Em Mateus 24, Jesus menciona fome, guerras, terremotos e assim por diante. E então, nos versículos 37 a 39, Jesus cita a história do Dilúvio, dizendo que, nos dias de Noé, o Dilúvio veio sobre a terra e levou a todos. Da mesma forma aconteceria na vinda do Filho do Homem.

Exatamente no versículo seguinte, Jesus menciona duas pessoas trabalhando no campo. Ele afirma que uma pessoa é “levada” e a outra é “deixada”. Note que essas palavras estão conectadas com a menção do julgamento do Dilúvio. Dessa forma, Jesus estabelece um paralelo histórico para falar do julgamento que cairia sobre Jerusalém e sobre o templo sagrado. Portanto, o contexto da passagem não fala sobre arrebatamento secreto. O contexto aponta para a destruição de Jerusalém e para a cessação das atividades religiosas do templo sagrado que aconteceria no ano 70 DC pelo exército romano. 

Diferente do que muitos pensam, a pessoa que é “levada” não se encontra em boas condições. Ela é levada no sentido de ser destruída e morta pelo exército inimigo. Na verdade, é a pessoa “deixada” que se encontra em melhores condições. Ela é deixada no sentido de ser preservada da morte. Essa pessoa será preservada do juízo, porque, afinal, ela deu ouvidos às advertências de Jesus em relação ao juízo de Deus.

Na Escritura, ser levado evoca a ideia de juízo. Foi o que aconteceu, por exemplo, na deportação do povo de Israel no AT. O reino do norte foi levado para o cativeiro assírio em 722 AC. Mais tarde, foi a vez do reino do sul ser levado para o cativeiro babilônico no ano 586 AC. Da mesma forma, foi o que aconteceu no juízo do Dilúvio citado por Jesus. Deus preservou Noé e sua família, mas derramou juízo sobre todas as outras pessoas. Elas foram “levadas” pelas águas do Dilúvio.

Sendo assim, o Sermão Profético de Jesus em Mateus 24 não é uma profecia sobre o arrebatamento da igreja. Jesus tem em vista um acontecimento próximo de Sua época, um evento que ocorreria na geração dEle e dos discípulos. Arrebatamento é completamente diferente de julgamento. 

Posto isso, eu quero deixar duas considerações sobre o arrebatamento secreto. Primeira, a ideia de um arrebatamento secreto pré-tribulacional surgiu na Inglaterra, por volta de 1830, com o escocês Edward Irving, e propagada por uma jovem chamada Margaret MacDonald. Isso quer dizer que, antes dessa época, a crença no arrebatamento secreto era totalmente desconhecida.

Por fim, a segunda consideração é que a Bíblia não ensina nenhum arrebatamento secreto da igreja. O texto bíblico que fala sobre o arrebatamento sugere uma ideia exatamente oposta. Veja o que Paulo disse: “[...] Nós, os vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, de modo nenhum precederemos os que dormem. Porque o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor.” (1Tessalonicenses 4.15-17 | NAA).

Observe que o texto menciona a voz do arcanjo, o ressoar da trombeta e a ressurreição dos mortos. Nada disso indica um acontecimento secreto e invisível. Muito pelo contrário! O acontecimento será público. Ninguém vai perder esse grande dia! Além disso, o arrebatamento, além de não ser secreto, não acontecerá antes de um período literal de mil anos na terra (Milênio). 

Não existe nenhum intervalo entre o arrebatamento, o Retorno de Cristo, a glorificação dos crentes, o julgamento da humanidade e o encerramento dessa era. Em outras palavras, o arrebatamento deverá acontecer no último dia da história. Apesar das opiniões diferentes a respeito desse assunto, um fato permanece inabalável: quando Cristo voltar em glória, estaremos para sempre com o Senhor.

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