pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras: A Besta de Apocalipse e o Número 666

A Besta de Apocalipse e o Número 666

Você já ouviu falar sobre o número 666? Tenho certeza que sim. Esse número tornou-se popular não apenas no meio evangélico, mas também nos círculos não religiosos. Por exemplo, a banda Iron Maiden intitulou um de seus discos, publicado em 1982, como: “The Number of the Beast” (O número da Besta). Muitas teorias foram (e continuam sendo) desenvolvidas na tentativa de explicar o significado do número bíblico. Convenhamos que, a imaginação humana — e não a exegese bíblica — é predominante na maioria das teorias. Os conspiracionistas de plantão estão sempre atentos ao que acontece no mundo político, econômico e tecnológico para, então, publicar novas teorias apocalípticas.
Qual o significado do número seiscentos e sessenta e seis (666)? Qual caminho devemos trilhar, a fim de descobrir o seu sentido? O artigo terá duas pequenas partes. Na primeira, mencionarei algumas opiniões populares quanto ao significado do número da besta e, na sequência, darei uma pincelada rápida no posicionamento defendido pelas principais correntes escatológicas. Na segunda parte, tentarei explicar o significado do número, conectando-o com o personagem histórico que é representado. Em outras palavras, tentarei responder à polêmica pergunta: quem é a besta de Apocalipse 13? Evidentemente, a posição que defenderei não é compartilhada pela maioria das pessoas. Todavia, penso que é a posição mais coerente com as Escrituras Sagradas. Além disso, eruditos sérios e profundos da escatologia defendem a mesma posição que defenderei. É sobre os ombros dos tais que me ergo, timidamente, para opinar sobre esse delicado assunto.

DIFERENTES OPINIÕES

1. As Opiniões Populares
A voz do povo não é a voz de Deus. Ir na onda da maioria nem sempre é o certo a ser feito. De modo geral, a opinião popular fica aquém da Palavra de Deus. Isso é verdade em relação a muitas coisas, incluindo o significado do número da besta. Muitas sugestões foram dadas pelo público. Por exemplo, chegaram a pensar que o 40º presidente dos Estados unidos fosse a besta de Apocalipse 13. O seu nome é Ronald Wilson Reagan (1911—2004). Se você somar cada um dos três nomes, descobrirá que cada nome possui seis letras ao todo: Ronald (6), Wilson (6), Reagan (6). Muito bem! Ele é a besta de Apocalipse. Isso soa muito forçado, não acha?
Além dessa teoria fajuta, outras teorias foram sugeridas. Disseram que o código de barras, presente nas embalagens, possui o número 666. Você pode fazer o teste em sua casa. Pegue qualquer produto comprado no supermercado, e faça o cálculo. No Brasil, o código de barras possui um número inicial padrão: 789. Todo código de barras brasileiro começa com essa sequência numérica. Observe a imagem a seguir:


O cálculo é simples. Multiplique os números iniciais: 7 x 89 = 623. Em seguida, conte quantas linhas há no código de barras. Para facilitar, eu fiz a contagem para você, e obtive o total de 30 linhas. Esse número também é padrão. Todo código de barras terá 30 linhas. Após a contagem, some os dois números obtidos: 623 + 30 = 653. Por fim, conte a quantidade de números presentes em todo o código de barras, incluindo os três primeiros que você multiplicou. Você não deve somar os valores de cada número, mas sim, contá-los apenas. O código de barras tem 13 números ao todo. Dessa forma, ao somar todos os resultados numéricos, você chega ao número da besta: 623 + 30 + 13 = 666. Seria isso o presságio do futuro controle que a besta exercerá sobre o comércio mundial? Afinal, a marca da besta impedirá que as pessoas comprem ou vendam (cf. Apocalipse 13.17). Novamente, essa teoria é baseada na imaginação humana e em conjecturas forçadas.
Uma terceira teoria popular sugere que a besta nasceu dia 05 de fevereiro de 1962, na Palestina. Atualmente, essa pessoa está oculta, em secreto, apenas aguardando o momento certo de se manifestar ao mundo. Assim, os místicos contemporâneos tomam o ano de nascimento dessa pessoa, e somam cada valor numérico: 1 + 9 + 6 + 2 = 18. O número 18 é o resultado da multiplicação de 6 x 3: o número 6 três vezes. Portanto, aqui temos o número da besta: 666. Isso é, no mínimo, fantasioso. É triste constatar que há teólogos que acreditam na possibilidade dessa teoria. Em um de seus livros, certo teólogo brasileiro disse que não devemos duvidar se existe ou não significado especial nessa teoria. Lamentavelmente, ele deixa em aberto algo claramente sem fundamento.
Há muitas outras teorias populares que não serão explicadas no artigo, devido à brevidade desse texto. Mas, apenas para mencionar, o número da besta já foi associado às leituras biométricas da mão humana, ao IPv6 (Protocolo de Internet), às moedas virtuais, e assim por diante.

2. As Posições Escatológicas
Diferentemente da opinião popular, há teorias mais sensatas e equilibradas quanto ao significado do número da besta. Não exporei em detalhes todas as teorias escatológicas. Apenas mencionarei o que elas, em essência, dizem sobre o assunto.
O Dispensacionalismo afirma que o número 666 é uma marca futura, ou seja, é uma marca que será colocada nas pessoas durante o período da Grande Tribulação. Não é possível ter certeza como se dará essa marca. Vários dispensacionalistas deixam essa questão em aberto, mas, de modo geral, eles afirmam que essa marca será visível e literal. Por meio dessa marca, o Anticristo conseguirá identificar os seus adoradores.
O Pré-Milenismo Histórico entende que a marca da besta não é, necessariamente, algo literal. A besta vai exercer controle mundial na política, na religião e na economia visando a adoração do Anticristo. Quanto ao número em si, muitos adeptos dessa posição preferem deixar a questão em aberto. De qualquer maneira, os pré-milenistas históricos também situam a marca da besta no futuro. Ladd diz: “O máximo que podemos dizer é que se o número da besta é uma profecia de uma situação futura, ninguém ainda foi capaz de resolver o seu significado, mas quando vier a hora o significado será evidente.” [1]. Osborne, teólogo pré-milenista histórico, disse que “somente os leitores do primeiro século sabiam [o real sentido do 666], ainda que seja difícil afirmar quanto disso eles sabiam.” [2].
O Amilenismo interpreta o número da besta simbolicamente. Visto que o número 7 simboliza a perfeição, o número 6 simboliza a imperfeição. Em outras palavras, o número 666 é apenas uma representação da depravação e da maldade que marcarão os últimos dias. Se a marca é simbólica, então não é literal. A marca na mão direita simboliza amizade e acordo, enquanto a marca na testa simboliza padrões de pensamentos. Os seguidores da besta serão fieis às ideologias das trevas e viverão conforme a vontade do Diabo. Assim como as duas posições anteriores, o Amilenismo também situa esse acontecimento no futuro. Quando esse período chegar, a situação será caótica. O amilenista Hernandes Dias Lopes, disse: “Esse será um tempo de cerco, de perseguição, de controle, de vigilância, de monitoramento das pessoas, no aspecto político, religioso e econômico.” [3].

COMPREENDENDO A BESTA E O SEU NÚMERO

Vejamos, primeiramente, o que diz o texto bíblico:

“Aqui existe sabedoria. Quem tiver entendimento, calcule o número da besta, pois é número de homem. Seu número é seiscentos e sessenta e seis.” (Apocalipse 13.18) [4]

João era judeu. Ele escreve Apocalipse para falar sobre o juízo de Deus contra os judeus. Prova disso é que, com frequência, João utiliza figuras e paralelos extraídos do Antigo Testamento. Os seus leitores compreenderam muito bem o que João queria dizer em cada referência. Portanto, para entendermos o significado do número da besta, é fundamental recorrermos à língua hebraica, o idioma dos judeus. Na língua hebraica, não existe vogais. Os sinais vocálicos foram inventados posteriormente para que o idioma não entrasse em extinção. Sendo assim, pensemos no imperador Nero César, o líder que comandava o império romano quando João escreveu Apocalipse. O nome dele, soletrado em hebraico, sem as vogais, fica assim: Nrwn Qsr. A pronúncia, com as vogais, fica assim: “Neron Kesar”. Posto isso, agora pensemos em outra característica da língua hebraica. No mundo antigo, não existia sistema numérico arábico, aquele que todos nós conhecemos: 0, 1, 2, 3, 4, 5, etc. Esse sistema foi “importado pela cultura ocidental no século XII” [5]. Assim, para que cálculos fossem feitos, era necessário utilizar as próprias letras do alfabeto. É como se a letra A do nosso alfabeto correspondesse ao número 1, a letra B ao número 2, a letra C ao número 3, e assim por diante. Assim é o hebraico. Cada letra hebraica possui um valor numérico. Agora, vamos calcular o número de cada letra do nome do imperador Nero César. Lembre-se de que apenas as consoantes são calculadas: Nrwn Qsr.

n = 50
r = 200
w = 6
n = 50
q = 100
s = 60
r = 200

Somando cada uma das letras, chegamos ao número 666. Portanto, a besta de Apocalipse 13 é uma pessoa histórica, porém, uma pessoa do passado, e não do futuro. Essa interpretação situa a besta no cenário do século primeiro, e não em algum momento no futuro. A besta é Nero César, contemporâneo do apóstolo João. A besta não é um líder mundial que se levantará em algum momento futuro da história humana.
O texto não deixa de ser relevante, só porque o seu cumprimento ocorreu no passado. O texto nos ensina que Deus sempre derrota o mal. Líderes pretensiosos serão derrubados por Deus. Ainda que o mal sobrevenha ao povo de Deus pelas mãos dos ímpios, no fim das contas, Deus é o real vitorioso. Os eleitos de Deus, cujos nomes foram escritos no livro da vida do Cordeiro (Apocalipse 13.8), são guardados espiritualmente, ainda que, por vezes, eles não sejam poupados da morte física.



Fabrício A. de Marque

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Notas:
[1] LADD, George Eldon. Apocalipse: Introdução e Comentário. São Paulo, SP: Vida Nova e Mundo Cristão, 1980. p. 139.
[2] OSBORNE, Grant R. Apocalipse: comentário exegético. São Paulo: Vida Nova, 2014. p. 584.
[3] LOPES, Hernandes Dias. Apocalipse: o futuro chegou: as coisas que em breve devem acontecer. São Paulo, SP: Hagnos, 2005. p. 276.
[4] Almeida Século 21 (A21).
[5] GENTRY JR., Kenneth L. O Apocalipse Para Leigos. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2016. p. 79.


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